Sem patrocínio, número 1 do Brasil desabafa e revela que pensa em sair do País

  • Por Jovem Pan
  • 24/11/2017 10h00 - Atualizado em 24/11/2017 11h14
Divulgação Rogerinho, Rogério Dutra Silva, tênis Rogério Dutra Silva, o Rogerinho, é o número 1 do Brasil no tênis, mas não tem patrocínio

“Eu achava que, como número 1 do Brasil, as coisas poderiam melhorar em termos de patrocínio, mas, por enquanto, continua tudo igual. Em um momento deste ano, inclusive, eu até fiquei pensando muito nisso, porque eu imaginava que melhoraria bastante, mas, infelizmente, não melhorou.”

O desabafo de Rogério Dutra Silva, 33, diz muito sobre a realidade do tênis brasileiro. Número 1 do País e 101 do mundo, Rogerinho, como é conhecido, não tem patrocínio. Conta apenas com ajudas de custo e é obrigado a pagar, do próprio bolso, mais de 50% das despesas da carreira – a Confederação Brasileira de Tênis, segundo ele, “ajuda muito pouco”, custeando apenas “algumas passagens” para torneios de fora do Brasil.

“A minha mulher já me chamou de louco algumas vezes, porque quase sempre eu acabo colocando na frente os objetivos esportivos e esqueço dessa parte financeira”, contou Rogerinho, em entrevista exclusiva a Fernando Sampaio que vai ao ar no próximo Domingo Esporte, na Rádio Jovem Pan.

“Vem dando certo dentro de quadra, mas, às vezes, tenho de optar por participar de torneios que eu sei que não vão me dar lucro. São aqueles torneios que você ganha e sai com quase nada positivo, porque tem de pagar técnico, preparador físico, passagem… Mas eu acredito muito no meu potencial. Tenho fé que esse investimento ainda vai valer a pena”.

CRISTIANO ANDUJAR/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Hoje, a renda de Rogerinho com o tênis se restringe, basicamente, a premiações. Sem patrocínio máster, o melhor tenista brasileiro da atualidade só pode contar com as ajudas de custo da Babolat (raquetes) e da Lotto (uniformes) ao fim de cada mês. Os valores que essas empresas cobrem, no entanto, estão bem aquém do que o paulista de Santa Bárbara d’Oeste precisa para fechar a conta.

“Essas ajudas representam de 20% a 30% do meu custo total”, afirmou. “Tenho técnico, preparador físico, nutricionista, psicólogo, viagens… Vou muito à Argentina para treinar, porque as condições no Brasil estão complicadas. Então, é um gasto a mais… O tênis é um esporte que demanda muito investimento. Sem patrocínio, fica difícil”.

A situação é tão delicada que Rogerinho já cogita até deixar o País. “A minha intenção é ficar no Brasil, mas eu tenho essa ideia (de sair do País) muito viva na minha cabeça. Tenho muitos amigos que moram nos EUA, e já até olhei toda a parte de visto para ficar lá… Tenho tudo meio preparado, mas não sei ainda o que vai acontecer nos próximos anos. Vai depender muito de como as coisas estarão. Se você me perguntasse se eu iria embora hoje, eu diria que ‘sim’, eu iria embora”.

Rogerinho, no entanto, não é de ficar se lamentando. Com o lema de “correr atrás sem esperar nada dos outros”, o paulista teve a melhor temporada da carreira e chegou a figurar no top 70 do ranking de simples da ATP. Ganhou de um top 15 (Gael Monfils) pela primeira vez na vida e alcançou os seus melhores resultados em três dos quatro Grand Slams do ano: Australian Open (segunda rodada), Roland Garros (segunda rodada) e Wimbledon (primeira rodada).

O recado para a alta cúpula do esporte nacional está dado. “Se eu pudesse falar alguma coisa para as pessoas que estão dirigindo tudo, eu diria para elas olharem para o esporte com mais carinho. O Brasil tem tantos atletas talentosos, e a gente não aproveita praticamente nada… Tem muita margem de melhora! Alguma coisa tem de ser feita”.

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