10 anos do mensalão: relembre o maior escândalo da República – até então

  • Por Jovem Pan
  • 14/05/2015 09h59
Escândalo do "Mensalão": com o olho esquerdo roxo e um corte no rosto, resultado de um acidente doméstico, o deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) prestou depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, que investiga corrupção na ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos), mas apura também o suposto "mensalão" pelo qual o PT pagaria por apoio a parlamentares governistas no Congresso, e fez novas investidas contra o PT e o governo, no Senado, em Brasília (DF). O deputado afirmou que o esquema do "mensalão" continuou "até há pouco tempo". Ele não especificou se o suposto pagamento a deputados se manteve após suas denúncias, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, no dia 6 de junho. (Brasília, DF, 30.06.2005. 16h20. Foto de Alan Marques/Folhapress. Digital) Allan Marques/ Folhapress Roberto Jefferson aparece com rosto machucado em CPI

Há exatamente dez anos os brasileiros começaram a tomar conhecimento do que, na época, seria o maior escândalo de corrupção da República.

Um vídeo divulgado pela revista Veja, em 14 de maio de 2005, mostrava um funcionário dos Correios recebendo propina: era o início do mensalão. Um mês depois o deputado Roberto Jefferson detonava a crise que arrastou partidos para o buraco e chegou ao PT do então presidente Lula.

Com sonoplastia de Reginaldo Lopes, a Jovem Pan resgata dez anos de história na reportagem de Thiago Uberreich. Ouça a reportagem completa acima.

As palavras escândalo e corrupção nunca estiveram tão presentes na vida da República como nos últimos 10 anos. 

Em 14 de maio de 2005, a divulgação de um vídeo com o então funcionário dos Correios Maurício Marinho recebendo propina abriria uma crise. O funcionário explicava que o esquema montado nos Correios para desviar dinheiro de contratos com empresas tinha o dedo do PTB de Roberto Jefferson.

Em junho de 2005, o deputado federal e presidente do PTB resolveu abrir o jogo e deu uma entrevista bombástica ao jornal Folha de São Paulo. Jefferson atirou um barril de pólvora no Congresso Nacional – citava o PP e o PL, atual PR.

Chamado ao conselho de ética, o deputado seguia na artilharia e cutucava o então ministro da Casa Civil, o todo poderoso José Dirceu. O tesoureito do PT na época, Delúbio Sorares, também estava implicado e usava e abusava da arte de negar.

O ministro Dirceu não restistiu: deixou o governo para retornar à Câmara dos deputados. Ainda em 2005, ZéDirceu teve o mandato cassado.

A CPI dos Correios foi aberta no Congresso- a imagem de Roberto Jefferson com olho inchado estampou as manchetes dos jornais.

O publicitário Marcos Valério outra figura carimbada do mensalão, negava irregularidades no financiamento de campanhas políticas.

No Congresso Nacional, políticos renuncivam para preservar os mandatos: Waldemar Costa Neto do PL partia para o embate com Roberto Jefferson. (Ouça todos os detalhes no áudio da reportagem)

Roberto Jefferson era antes de tudo um ator e aproveitou o depoimento de José Dirceu ao Conselho de Ética para abusar da retórica e da verborragia. No dia-dia da CPI, foi a vez do secretário geral do PT – Sílvio Perreira – falar aos parlamentares.

A crise se agravava – um assessor do irmão do então presidente do PT – José Genoino – foi preso no aeroporto de Congonhas com dólares na cueca. Mais uma baixa no partido.

Com o PT de José Genoino se esfacelando, em pronunciamento a nação, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez mea culpa.

O julgamento

Em 2007, o mensalão ganhou um novo capítulo com a abertura de processo no Supremo Tribunal Federal: 38 viraram réus de 40 denunciados. Nunca a população brasileira acompanhou com olhares tão atentos o trabalho do STF, presidido por Joaquim Barbosa, ministro relator.

O ministro revisor Ricardo Levandovski justificava a demora de seis meses para abertura do processo do mensalão. Os embates no plenário do Supremo viraram rotina.

Depois de cinco anos, Joaquim Barbosa proclamou o resultado.

No jurisdiquês e no dicionário do mensalão ainda faltavam dois termos – embargos infringentes e embargos de declaração. Mais motivos para troca de farpas.

O julgamento no STF mudou paradigmas e levou bandidos do colarinho branco para cadeira: 24 condenados e 13 absolvidos.

Mas os escândalos se sucedem: a corrupção na Petrobras deixa os brasileiros indignados e mostra que os políticos não aprendem.

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