Após reformas, México fecha ano em crise por causa de jovens desaparecidos

  • Por Agencia EFE
  • 16/12/2014 16h08

Paola Martínez Castro.

Cidade do México, 16 dez (EFE).- O México encerra 2014 imerso em uma profunda crise pelo desaparecimento de 43 estudantes, um caso que devastou a imagem positiva que Enrique Peña Nieto tentava projetar ao mundo com a aprovação de uma onda de reformas estruturais.

O presidente sancionou em agosto as leis regulamentares do sistema energético, o que abriu o setor ao capital privado após mais de 70 anos de monopólio estatal e pôs fim ao ciclo iniciado quando assumiu o poder em dezembro de 2012.

O conjunto de leis foi colocado em vigor apesar da grande rejeição da esquerda, que apostou, sem sucesso, na convocação de uma consulta popular para reverter as mudanças. A proposta acabou sendo rejeitada pela Corte Suprema de Justiça, que a considerou inconstitucional.

Com o novo modelo energético, o governo prometeu elevar o crescimento do país no médio e no longo prazo, atraindo anualmente US$ 10 bilhões de investimentos estrangeiros e gerando 500 mil empregos.

Após uma intensa fase parlamentar, na qual também foram aprovadas reformas político-eleitorais, na concorrência econômica e nas telecomunicações, o Executivo pôs em ação uma rápida e eficaz implementação.

Em 1º de setembro, Peña Nieto apresentou um segundo relatório de governo, centrado nas reformas da economia para apoiar o crescimento. Anunciou também redução da violência e dos índices de crimes cometidos no país.

O otimismo sobre o futuro chegava então a seu ponto mais alto. Expressões como “o México está se transformando” e o país tem “uma oportunidade histórica” substituíram as frequentes referências ao narcotráfico e à violência no discurso oficial.

Mas o desaparecimento de 43 estudantes de uma escola para professores do sul do país, na noite de 26 de setembro, mudou a narrativa. Os milhões de mexicanos foram lembrados que os tempos duros e violentos do governo de Felipe Calderón (2006-2012) não tinham terminado.

Alunos entre 18 e 21 anos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa foram atacados a tiros na cidade de Iguala, no estado de Guerrero, por policiais quando se deslocavam em vários ônibus que tinham tomado durante um protesto. Seis pessoas morreram, incluindo três estudantes, e 25 ficaram feridas.

Além disso, 43 jovens foram detidos e entregues a membros do cartal “Guerreros Unidos”, que se encarregaram de assassiná-los e queimar os corpos para não deixar rastros do crime, conforme depoimento de três dos 80 detidos pelo caso. Os familiares dos mortos, no entanto, discordam da versão.

De acordo com a investigação oficial, os ataques foram ordenados pelo prefeito de Iguala, José Luis Abarca, e sua mulher, Maria de Los Angeles Pineda, ambos acusados de pertencer ao cartel e atualmente presos.

O objetivo era impedir que os jovens, envolvidos em um protesto contra a Prefeitura em 2013, arruinassem um ato no qual a esposa de Abarca pretendia lançar sua candidatura ao Executivo municipal nas eleições de 2015.

No entanto, outro motivo para o crime é cogitado, algo que a promotoria não informou publicamente. Um dos ônibus tomado pelos estudantes carregava drogas dos traficantes. Por isso, eles foram perseguidos pelos policiais e o episódio teve participação dos “Guerreros Unidos”.

O caso gerou grande indignação dentro e fora do país. Não só pela atuação tardia do governo federal, que assumiu a investigação oito dias depois do fato, mas também pela participação de funcionários públicos no ocorrido.

Os familiares e amigos dos jovens iniciaram então um movimento para exigir a aparição dos 43 estudantes com vida e para cobrar justiça do governo de um país com mais de 22 mil desaparecidos.

A sociedade, cansada da violência, da corrupção e da impunidade, saiu às ruas para prestar solidariedade aos estudantes. E também exigia a renúncia de Peña Nieto, afetado por vários escândalos de tráfico de influência.

Nas últimas semanas, investigações jornalísticas revelaram que a mulher do presidente, Angélica Rivera, e o ministro da Fazenda, Luis Videgaray, compraram casas de luxo de um empresário que ganhou neste ano, em consórcio com outras construtoras, uma licitação para construir um trem de alta velocidade.

Peña Nieto cancelou a licitação em novembro, após uma avalanche de críticas ao processo, que só contou com um participante. Ele também divulgou publicamente sua declaração patrimonial para dar mais “confiança aos mexicanos”.

Pressionados pelos grandes protestos no país, alguns dos quais terminaram em violência, e com sua reputação internacional em queda, o presidente anunciou um plano de segurança que inclui três reformas constitucionais que buscam conter a infiltração do crime organizado nos municípios.

No entanto, as medidas foram classificadas como insuficientes. Na opinião dos partidos de oposição, elas não resolvem a insegurança, tornam os municípios mais frágeis e fortalecem os estados, onde a máfia também está presente.

Com uma reforma da segurança que não convence, um movimento social persistente e a proximidade das eleições legislativas, Peña Nieto terá um 2015 difícil. O presidente terá que provar que o México de seus discursos não é uma utopia. EFE

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