Autor do massacre de Dallas era ex-soldado obcecado com luta racial

  • Por Agencia EFE
  • 10/07/2016 17h38
Reprodução/Facebook Suspeito do ataque em Dallas tinha apenas 25 anos e passou vida adulta no exército dos EUA

Micah Xavier Johnson, autor do massacre de cinco policiais em Dallas, nos Estados Unidos, era um jovem que foi mudado pela guerra: em sua volta do Afeganistão começou a ficar obcecado com os grupos racistas negros e se convenceu que tinha que vingar os abusos contra esse grupo racial.

Tinha apenas 25 anos, mas tinha passado toda sua vida adulta no exército dos EUA, seu sonho de adolescência, primeiro na reserva perto de Dallas e desde 2013 no Afeganistão.

Em 2014 uma companheira de exército lhe acusou de abusos sexuais e recomendou que recebesse ajuda “para a saúde mental”, segundo explicou aos veículos de comunicação o advogado militar que cuidou do caso, Bradford Glendening.

O Pentágono não confirmou por que lhe deu baixa em abril de 2015, mas o advogado sustenta que o motivo foi a denúncia da jovem, além de uma má sintonia com seus superiores. “Seu comandante tinha aversão a ele, isto estava claro”, assegurou.

Essa denúncia por abusos, que não vazou do âmbito militar, era a única mancha no histórico deste jovem negro, sem antecedentes penais, como comprovou a polícia de Dallas.

Os que lhe conheciam antes de ir à guerra o descrevem como um menino amável e tranquilo, nada comprometido com causas políticas e sem nenhum tipo de ódio contra pessoas brancas.

“Do Afeganistão voltou insociável, não queria falar mais com as pessoas, já não acreditava em Deus. Seu interesse nas armas tinha crescido, embora nós não soubéssemos nada disso do ódio aos brancos”, disse a jornalistas Myrtle Booker, uma amiga de sua mãe.

Desde sua volta do Afeganistão, o jovem começou a seguir grupos extremistas negros com causas racistas nas redes sociais e a ideia da vingança começou a se tornar uma obsessão.

Os vizinhos da casa suburbana onde vivia com sua mãe e seu irmão menor contaram nestes dias à imprensa que lhe tinham visto praticar exercícios militares em seu jardim e que estava inscrito em uma academia que oferecia artes marciais e aulas sobre como conduzir armas.

Estes testemunhos se encaixam na teoria da polícia de Dallas de que Johnson “estava muito preparado” e planejava um ataque de maiores proporções que o que finalmente efetuou na quinta-feira passada, tirando a vida de cinco agentes e ferindo nove pessoas, entre elas sete policiais.

Nas buscas realizadas em sua casa na sexta-feira, os agentes encontraram um arsenal: material para a fabricação de bombas, coletes à prova de balas, fuzis, munição e um diário pessoal com táticas de combate.

“Nossas buscas na casa do suspeito nos levam a crer, baseado nos materiais para a fabricação de bombas e o diário que encontramos, que vinha praticando detonações e que tinha material suficiente para ter provocado efeitos devastadores em nossa cidade”, explicou hoje o chefe de polícia de Dallas, David Brown.

O massacre da quinta-feira, executado segundo a polícia com “clareza mental” e “determinação”, surpreendeu os amigos que compartilharam com Johnson a infância e a adolescência em um bairro suburbano e multicultural de Dallas.

Johnson passou boa parte de sua infância no subúrbio de Garland junto com seu pai e sua madrasta, uma mulher branca, segundo detalharam os vizinhos. Seus pais se separaram quando ele tinha quatro anos.

Após sua volta do Afeganistão viveu com sua mãe, Delphene, no subúrbio de Mesquite – também na área de Dallas – e seu irmão mais novo, a quem mantinha com seu trabalho em um centro social para crianças com incapacidade.

A única explicação que seu entorno encontra para a brusca mudança deste outrora tranquilo menino de bairro é sua experiência no Afeganistão, desencavada por um momento de grande tensão racial nos Estados Unidos.

A polícia trabalha sobre a teoria que Johnson tinha planejado atacar as forças de segurança antes mesmo das mortes de dois homens negros em ações de agentes brancos na Louisiana e em Minnesota no início desta semana, cujas duras imagens gravadas com telefones celulares e divulgadas nas redes sociais suscitaram o protesto de Dallas e outros em várias cidades do país.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.