Caso João de Deus: crimes cometidos pelo médium são ‘perversos’, diz promotora

  • Por Nicole Fusco
  • 12/12/2018 16h56 - Atualizado em 12/12/2018 17h04
Divulgação/MPSP A promotora Silvia Chakian, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) A promotora Silvia Chakian, do Ministério Público de São Paulo (MP-SP)

Os relatos colhidos pela força-tarefa montada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) no caso João de Deus mostram a “perversidade” dos crimes cometidos pelo médium, segundo a promotora Silvia Chakian, do MP-SP. De acordo com ela, há uma “repetição de comportamentos” por parte do religioso.

“Os relatos são de muita verdade, muita credibilidade de mulheres que não se conhecem e que vêm de várias partes do estado”, disse ela em entrevista à Jovem Pan. “Essa violência traz reflexos não só a curto prazo, mas também a longo prazo, o que é próprio da violência sexual, complementa.

Outra característica desse tipo de crime que a promotora ressalta é o medo de as vítimas denunciarem. Tem também o que ela chamou de “efeito cascata”, ou seja, o fato de o depoimento de uma vítima encorajar as outras. “É frequente nos depoimento nós ouvirmos: ‘Como falar alguma coisa contra o João de Deus se eu acreditava que estava sozinha, que não tinha provas? Quem iria acreditar em mim, sendo que ele é um homem tão poderoso'”, explica a promotora.

As primeiras acusações contra João de Deus foram dadas na última sexta-feira (7) ao jornalista Pedro Bial, no programa Conversa com Bial, da TV Globo. Ele diz que é “inocente”. Veja o que se sabe até agora do caso.

Ministérios Públicos de todos os estados devem acolher as vítimas e realizar as oitivas. Depois, os relatos precisam ser encaminhados para o MP de Goiás, que está responsável por esse caso. Embora não haja um prazo, a promotora explica que a ideia é que esses depoimentos sejam colhidos nas próximas duas semanas. Até sexta-feira, dia 14, o MP de São Paulo tem mais vinte relatos marcados para serem colhidos.

Após essa fase da investigação, o MP goiano ficará responsável por identificar os crimes nos relatos das vítimas, contar quantas vezes eles foram praticados e, aí sim, fazer a denúncia contra João de Deus. “Nós ainda não ouvimos em São Paulo, mas sabemos que há relatos de mulheres que foram abusadas quando ainda eram menores de idade; outras que foram abusadas no contexto de vulnerabilidade; e outras que relatam violência física mesmo; ou seja, cada um desses é um tipo de crime diferente”, diz Chakian.

Questionada sobre se esse caso pode ser equiparado ou até mesmo superar o do médico Roger Abdelmassih, a promotora diz que ainda é difícil fazer uma análise porque não se sabe o número exato de vítimas. “Sem contar que também é muito difícil medir violência, medir a violação de direitos humanos”, afirma ela. “Nesse primeiro momento, ainda é prematuro comparar”, completa.

Abdelmassih foi condenado a 181 anos de prisão pelo estupro de 37 pacientes. Atualmente, ele cumpre prisão domiciliar por problemas de saúde.

Como denunciar

Em São Paulo, as mulheres podem entrar em contato com o Ministério Público por meio do endereço de e-mail somosmuitas@mpsp.mp.br.

Quem estiver em outros estados, pode falar com o Ministério Público de Goiás pelo e-mail criado pela força-tarefa do estado: denuncias@mpgo.mp.br.

A promotora Silvia Chakian garante que as informações e o conteúdo dos depoimentos serão mantidos em sigilo.

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