Decisão da OMS de incluir Burnout na CID vai ajudar processos trabalhistas, dizem especialistas

Pesquisa realizada pela Isma-BR aponta que 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. Desse total, 32% sofreriam de burnout

  • Por Jovem Pan
  • 28/05/2019 10h45 - Atualizado em 28/05/2019 10h47
Divulgação/Pixabay Síndrome de burnout Nesta segunda-feira (27), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que vai incluir a síndrome de burnout na próxima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID), que passa a valer em 2022.

Nesta segunda-feira (27), a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que vai incluir a síndrome de burnout na próxima revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID), que passa a valer em 2022. Segundo especialistas, isso vai ajudar a Justiça em processos trabalhistas.

“Embora o burnout represente um nível exacerbado de estresse, as pessoas continuam em seus postos de trabalho pelo medo do desemprego. Um trabalhador nesse estado está mais propenso a cometer erros graves”, disse a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente do Isma-BR (representante da International Stress Management Association). Para ela, o efeito prático será “dar um embasamento maior para os juízes decidirem questões trabalhistas relacionadas com a saúde mental”.

Para o especialista em recursos humanos Marcelo Braga (fundador da Reachr), a pressão nas organizações e o ritmo de trabalho tem aumentado muito. “Com o reconhecimento da síndrome, os departamentos de RH vão precisar entender mais do tema. E contribuir para mudar essa cultura de que estresse oriundo do trabalho é apenas frescura”, completou.

O diretor dos ambulatórios do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas ), Rodrigo Martins Leite, disse que o reconhecimento da OMS deve representar uma mudança de cultura mesmo entre os profissionais. “Há 12 anos, tentei fazer uma pós-graduação em burnout, mas não pude porque a psiquiatria não aceitava esses diagnósticos.”

O burnout foi incluído no capítulo de “problemas associados” ao emprego ou ao desemprego e descrito como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

Embora não haja dados precisos, uma pesquisa realizada pela Isma-BR aponta que 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. Desse total, 32% sofreriam de burnout. E 92% das pessoas com a síndrome continuariam trabalhando.

Mas, afinal, o que é o burnout? É um quadro de esgotamento profissional caracterizado por três sinais clássicos: 1) esgotamento físico e psíquico (a sensação de não dar conta das tarefas); 2) indiferença e perda de personalidade (não se importar mais com o próprio desempenho profissional, cinismo e apatia); e 3) Baixa satisfação profissional.

Ele também pode apresentar sintomas físicos, como dor de cabeça, dor de coluna e distúrbios musculares. Além disso, também podem estar presentes cansaço excessivo (físico e mental), dor de cabeça frequente, alterações no apetite, insônia, dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, negatividade constante, sentimentos de derrota e desesperança, sentimentos de incompetência, alterações repentinas de humor, isolamento, fadiga, pressão alta, dores musculares, problemas gastrointestinais e alteração nos batimentos cardíacos.

O quadro está sempre associado a fatores de estresse crônicos no ambiente de trabalho, como longas jornadas, pressão e alta competitividade, entre outros. Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.

“Não é algo que acontece após um ou outro dia de trabalho estressante. É um quadro que vem de uma rotina constante de estresse ao longo da vida profissional”, explica João Silvestre da Silva Junior, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamat) e perito médico do INSS.

O tratamento da síndrome é feito principalmente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). Em alguns casos, o tratamento requer afastamento temporário do emprego e também mudanças nas condições de trabalho.

Para previnir essa síndrome é importante adotar algumas condutas que reduzem o seu risco, como negociar limites de trabalho e de jornada com o empregador e dedicar-se a outras atividades além do trabalho, como exercícios físicos, relacionamentos familiares, atividades de lazer, entre outras. Também é importante evitar jornadas excessivas com frequência, alimentar-se bem e tentar dormir cerca de oito horas diárias.

“Hoje (ontem, segunda-feira) foi o dia mais feliz da minha vida”, disse a jornalista Izabella Camargo, já diagnosticada com burnout. “Isso (o reconhecimento) vai trazer mais entendimento e respeito para as pessoas que estiverem passando por isso”, completou a jornalista – que teria sido demitida da emissora que trabalhava após ser diagnosticada

A médica e escritora Renata Corrêa apresentou os diversos sintomas do burnout. “Sou oftalmologista. Trabalhava em um clínica em que eu não vi a luz do sol. Uma vez, atendi 20 pacientes das 7h às 9h da manhã”, contou. “Neste dia, quando vi quantos pacientes em ainda tinha para atender, caí no choro e não consegui mais trabalhar”, completou.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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