Declarações de Bolsonaro fazem delegados retomarem ofensiva por autonomia da PF

  • Por Jovem Pan
  • 22/08/2019 18h15 - Atualizado em 22/08/2019 18h17
Divulgação/PF Para agentes, fala do presidente representam uma "marcação de posição" em relação a Moro

As declarações do presidente Jair Bolsonaro na manhã desta quinta-feira (22) sobre mudanças em cargos de chefia da Polícia Federal reacenderam entre delegados a intenção de tornar o órgão autônomo e com mandato para o cargo de diretor-geral.

O ambiente atual, na visão de integrantes da cúpula da PF, é muito conturbado, e poderia ficar insustentável caso o presidente decida demitir o diretor-geral, Maurício Valeixo, que na semana passada indicou para chefiar a Superintendência do Rio de Janeiro um nome oposto ao sugerido por Bolsonaro.

A possibilidade de substituição de Valeixo foi citada pelo próprio Bolsonaro ao reafirmar, na noite da quarta e na manhã desta quinta, que é o responsável pela escolha do diretor-geral. “O Valeixo pode querer sair hoje. Não depende da vontade dele. E outra, ele é subordinado a mim, não ao ministro [Sergio Moro]”, falou Bolsonaro.

Ao ser questionado sobre se no momento existe ou não possibilidade de trocar o diretor-geral, o presidente deixou em aberto. “Hoje eu não sei. Tudo pode acontecer na política.”

‘Marcação de posição’ em Moro

Para o presidente da Associação Brasileira de Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, as declarações do presidente representam uma “marcação de posição” em relação a Moro.

“Acreditamos que é marcação de posição porque uma mudança da PF, nesse quadro de instabilidade, vai causar crise de confiança dentro da PF em relação a um futuro diretor-geral. Seria muito ruim para a PF e para o governo porque vai ficar parecendo que há uma interferência. Acreditamos que ele não vai tomar essa decisão”, disse Paiva.

A ameaça velada de entrega de cargos na semana passada após o presidente anunciar a saída do superintendente do Rio de Janeiro, o delegado Ricardo Saadi, e dizer que o substituto seria o delegado Alexandre Saraiva, chefe em Manaus, desagradou ao presidente Jair Bolsonaro, mesmo com o recuo dele, ao dizer que “não tem problema” se fosse escolhido outro nome.

As novas declarações realçam que a instabilidade não só continua como pode aumentar.

“Se a troca do superintendente já criava problema, na sequencia uma troca de diretor-geral criaria mais instabilidade interna. O colega que vier a ser nomeado diretor-geral vai entrar dentro do clima de dúvidas, se está entrando para fazer intervenção”, declarou Paiva.

O cenário conturbado, segundo o presidente da ADPF, reforça a importância de se estabelecer um mandato para o cargo de diretor-geral.

Propostas em tramitação no Congresso

Há propostas com essa temática em tramitação no Congresso Federal. Uma das propostas prevê que o diretor-geral seja nomeado pelo presidente com mandato em períodos não coincidentes e sabatina no Senado pela Comissão de Constituição e Justiça.

“Defendemos mandato de diretor-geral e mais autonomia para a PF. Não temos orçamentária nem gerencial sobre a polícia. Tanto que há pressão para troca de um cargo de quarto escalão”, disse Paiva. “Temos falado isso há dez anos. Estamos tranquilos porque não estamos falando de manteira oportunista”.

Sobre os comentários de Bolsonaro envolvendo superintendentes da PF, o presidente da ADPF afirmou que as onze trocas citadas por ele foram naturais em decorrência de o diretor-geral Maurício Valeixo ter assumido há 8 meses, em janeiro. Paiva ainda rebateu a versão de Bolsonaro de que a troca no Rio de Janeiro seria por critério de produtividade.

“Mudanças não podem ser por critério político. Têm que ser critério técnico”, afirmou.

Ao reconhecer que o presidente tem a prerrogativa de trocar o diretor-geral, Paiva disse que a classe vai precisar “ficar de olho para ver quais serão os procedimentos”.

* Com informações do Estadão Conteúdo

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