Dilma acusa Temer de “traição” e de ser um dos “chefes do golpe” com Cunha

  • Por Jovem Pan
  • 12/04/2016 13h45

Vice-presidente Michel Temer (esq.) e Dilma Rousseff

EFE/Fernando Bizerra Jr Vice-presidente Michel Temer (esq.) e Dilma Rousseff - EFE

“Vivemos tempos estranhos e preocupantes, tempos de golpe, de farsa, de traição”, disse a presidente Dilma Rousseff, aos gritos da plateia de “fora, Temer”, em evento com professores e estudantes denominado “Educação pela Democracia” no Palácio do Planalto, em Brasília, nesta terça-feira (12). A fala se deu um dia depois do vazamento de áudio em que o vice-presidente Michel Temer fez prognósticos de seu futuro governo caso o impeachment de Dilma passe pela Câmara. Dilma chamou a justificativa de vazamento de “farsa”.

“Ao longo da semana, acusaram-me de usar expedientes escusos para recompor a base de apoio ao meu governo, me julgando pelo seu espelho, pois são eles que utilizam tais métodos”, disse a presidente. “Caluniam enquanto leiloam posições no gabinete do golpe, no governo do sem-voto”, continuou.

“Ontem (11) ficou claro que existem sim dois chefes do golpe que agem em conjunto e de forma premeditada. Fiquei chocada com a desfaçatez da farsa do vazamento, que foi premeditado, deliberado, vazando para eles mesmos. Estranho vazamento”, classificou. “Tentaram disfarçar o que era um anúncio de posse antecipado, subestimando a inteligência dos brasileiros e das brasileiras”, disse Dilma. “Até nisso são golpistas”, afirmou, dizendo-se “no pleno exercício da presidência da República”.

A presidente ressaltou que a fala de 18 minutos do vice vazou “antes sequer da votação do pedido de impeachment” e a classificou como “pronunciamento em que um dos chefes da conspiração assume a posição da presidente da República”. Dilma perguntou por que a imprensa não questionou a “legitimidade e legalidade” do gesto de Temer. 

“Compromisso com o povo”

A presidente também chamou a atitude de Temer de “traição” e criticou o conteúdo social de sua fala. “Explicitou-se com essa atitude o desapreço que se tem pelo Estado democrático de Direito e à Constituição”, classificou. “O gesto que revela traição a mim e à democracia também explicita que esse chefe conspirador também não tem compromisso com o povo”, continuou a presidente. 

“(Temer) diz que é capaz de anunciar que está pensando em manter as conquistas sociais dos últimos anos. Como se conquistas sociais se pensa se irá ou não manter”, criticou. “É uma atitude de arrogância e desprezo pelo povo”, disse. “Se ainda havia alguma dúvida sobre o golpe, a farsa e a traição em curso, não há mais”.

Dilma durante discurso em Brasília

Temer e Cunha

Novamente, Dilma fez referências a uma suposta união entre o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Michel Temer. “Os golpistas podem ter chefe e vice-chefe assumidos. Não sei direito qual é o chefe e qual é o vice-chefe. Um deles é a mão não tão invisível assim, que convive com desvios de poder e abuso inimagináveis no processo de impeachment. O outro esfrega as mãos e ensaia a farsa do vazamento de um pretenso discurso de posse”, disse Dilma.

“Cai a máscara dos conspiradores. O Brasil e a democracia não merecem tamanha farsa”, afirmou a presidente da República.

Dilma Rousseff também delegitimou o pacto de “salvação” proposto por Michel Temer no áudio. “Como acreditar num pacto de salvação sem legitimidade?”, questionou.

“Maior fraude da história”

No discurso, a presidente também chamou o relatório pró-impeachment aprovado na comissão especial da Câmara nesta segunda como “frágil e sem fundamento”. Ela afirmou que “estão tentando montar uma fraude para interromper no Congresso” um mandato legal. “Trata-se da maior fraude política e jurídica de nossa história”, classificou a presidente. “O relatório é tão frágil, tão sem fundamentos, que chega a confessar que não há provas, não há indícios daquilo que tentam me atribuir”.

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