HIV: n° de casos expõe brechas das políticas públicas de saúde

  • Por Nicole Fusco
  • 01/12/2018 08h00
UNAIDS/ILO/Peter Caton camisinha Em 2007, o Brasil 7.290 casos de infecções pelo vírus HIV. Esse número saltou para 42.420 no ano passado, segundo o Ministério da Saúde

O crescimento no número de casos de infecção por HIV no Brasil expõe as brechas das políticas públicas de saúde voltadas, principalmente, à prevenção dos jovens. Segundo dados do Ministério da Saúde, o país tinha em 2007, ao todo, 7.290 casos, que saltaram para 42.420 no ano passado. Se não tratada, a infecção pode levar à Aids, síndrome que causa o enfraquecimento da imunidade corporal e pode levar à morte.

O boletim epidemiológico divulgado na última semana pelo governo mostra que, desse total, foram registrados 3.978 casos entre jovens do sexo feminino e masculino de 15 a 34 anos em 2007. No ano passado, esse número chegou a 25.122 nessa mesma parcela da população.

Segundo Artur Kalichman, médico sanitarista no Centro de Referência e Treinamento em DST-Aids da SES-SP (CRT-DST/AIDS), mais do que indicar se a epidemia está subindo ou caindo, os casos de infecção indicam se as pessoas estão tendo acesso ou não aos serviços de saúde. Segundo ele, conscientizar esse público “é um desafio muito grande” e o maior deles, atualmente.

“O principal desafio é como a gente pode melhorar as estratégias de prevenção e como a gente pode melhorar a discussão sobre sexualdiade na família e na escola, para que as pessoas tenham condições de exercer sua sexualidade de forma mais responsável e mais saudável”, disse.

Jean Gorinchteyn, mestre em doenças infecciosas pela coordenação dos institutos de pesquisa da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, por sua vez, pontua que “é preciso chegar com uma linguagem diferente para cada um dos grupos”, independentemente da faixa etária. Ambos participaram de uma discussão promovida pelo Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, nesta sexta-feira (30).

“O grande desafio que temos hoje é conscientizar que não é só o uso do preservativo que o previne de doenças como Aids”, disse Gorinchteyn. Desde dezembro do ano passado, a rede de saúde pública brasileira tem a PrEP, Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, que é uma espécie de anticoncepcional contra o vírus — e é distribuída gratuitamente apenas para pessoas que preenchem os requisitos do governo (mais informações abaixo).

Está disponível também no Sistema Único de Saúde (SUS) a PEP, Profilaxia Pós-Exposição, que um medicamento antirretrovirais, indicado após um possível contato com o vírus HIV. Ela pode ser usada em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou em contato direto com material biológico).

Em outra analogia, a PEP é como a pílula do dia seguinte, que deve ser ingerida em até 72 horas após o possível contato com o vírus — mas deve ser tomada durante 28 dias. Ao contrário da PrEP, a PEP pode ser adquirida por qualquer pessoa no serviço de saúde que realize esse atendimento. É importante ressaltar que nenhuma dessas duas medidas substitui o uso de camisinha, ou seja, são apenas uma medida protetiva a mais que existe hoje em dia.

Mulheres com mais de 60 anos

A única taxa de aids que subiu nos últimos anos entre a população feminina foi na faixa etária acima dos 60 anos. Ela passou de 10,3 em 2007 para 13,4 no ano passado a cada 100 mil habitantes, segundo o Ministério da Saúde.

Taxa de detecção de aids por 100 mil habitantes em mulheres, segundo faixa etária e sexo, Brasil. 2007 e 2017

Taxa de detecção de aids por 100 mil habitantes em mulheres, segundo faixa etária e sexo, Brasil. 2007 e 2017 (Ministério da Saúde)

Para a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do programa Saúde da Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, essas mulheres, geralmente, são viúvas ou separadas e com a auto-estima baixa, em busca de um novo companheiro. Quando elas encontram um parceiro, acabam cedendo ao pedido dele, de não usar camisinha — e acabam contraindo vírus. “É preciso criar uma estratégia para fortalecer e empoderar essa mulher”, disse ela.

Perguntas e respostas

Como fazer o diagnóstico?

O diagnóstico pode ser feito por meio do teste anti-HIV, realizado de duas formas diferentes: exames laboratoriais ou testes rápidos, que detectam os anticorpos contra o HIV em cerca de 30 minutos. Esses testes são realizados gratuitamente — e podem ser feitos de forma anônima — pelo SUS nas unidades da rede pública e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).

Nesses centros, além da coleta e da execução dos testes, há um processo de aconselhamento, para facilitar a correta interpretação do resultado pelo(a) usuário(a).

Como é o tratamento?

O HIV é tratado por meio de medicamentos antirretrovirais (ARV) para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Eles ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico e, por isso, são importantes para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas.

O governo brasileiro distribui de forma gratuita os medicamentos antirretrovirais a todas as pessoas soropositivas, que necessitam de tratamento.

Como o HIV é transmitido?

O vírus causador da aids está presente no sangue, sêmen, secreção vaginal e leite materno. A infecção pode ser transmitida por meio do sexo sem camisinha (vaginal, anal ou oral); da mãe para o filho, se ela for portadora do vírus, durante a gestação, o parto ou a amamentação; pelo compartilhamento de agulha ou seringa com portadores de HIV.

O vírus também pode ser passado por meio de transfusão de sangue com presença do vírus HIV; e por instrumentos diversos, como hospitalares, piercing, manicure, não esterilizados.

Quais são as formas de prevenção?

Para prevenir a infecção pelo vírus HIV é importante usar preservativo durante as relações sexuais; usar seringas e agulhas descartáveis; usar luvas para manipular feridas e líquidos corporais, assim como testar previamente sangue e hemoderivados para transfusão. Já as mães infectadas pelo vírus devem usar antirretrovirais durante a gestação para prevenir a transmissão vertical e evitar amamentar seus filhos.

Há também no SUS a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição ao HIV), que é uma espécie de anticoncepcional contra o vírus — e é distribuída gratuitamente apenas para pessoas que preenchem os requisitos do governo, por estarem em contextos que aumentam suas vulnerabilidades. As populações que têm direito à PrEP pelo sistema de saúde público são: gays e outros HSH; pessoas trans; pessoas que usam álcool e outras drogas; pessoas privadas de liberdade; trabalhadoras do sexo.

Quem possivelmente se expôs ao vírus, pode fazer uso da PEP (Profilaxia Pós-Exposição), um medicamento antirretroviral, indicado após um possível contato com o HIV. Ela pode ser usada em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou em contato direto com material biológico).

A PEP deve ser ingerida em até 72 horas após o possível contato com o vírus — mas deve ser tomada durante 28 dias.

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