Mãe de adolescente morto na Maré diz que disparo partiu de blindado

  • Por Estadão Conteúdo
  • 21/06/2018 18h49
Agência Brasil "Eu perguntei quem tinha atirado e ele respondeu: 'foi um blindado, mãe, que não viu minha roupa de escola'", revelou Bruna da Silva
A mãe do adolescente de 14 anos morto durante uma operação policial no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio, disse que o filho revelou para ela, quando recebia atendimento no hospital, que o tiro que o atingiu partiu de um veículo blindado da polícia. Marcus Vinícius da Silva, de 14 anos, estava com o uniforme da escola para onde se dirigia quando foi ferido por um disparo. Ele recebeu atendimento, mas morreu na noite desta quarta-feira (20).

O velório ocorreu na tarde desta quinta-feira (21) no Palácio da Cidade, uma das sedes da prefeitura do Rio, em Botafogo, na zona sul. O enterro estava previsto para ocorrer no início da noite no cemitério São João Batista, no mesmo bairro. As declarações da mãe da vítima, Bruna da Silva, de 36 anos, foram dadas durante o velório do adolescente.

“Quando eu cheguei à UPA (Unidade de Pronto Atendimento da Maré, para onde a vítima foi levada assim que baleada), meu filho estava vivo e falou ‘mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou”. Eu perguntei quem tinha atirado e ele respondeu: ‘foi um blindado, mãe, que não viu minha roupa de escola’. Depois disso ele começou a gemer, a pressão caiu e não conversamos mais. Parece que estava esperando eu chegar pra me contar isso”, lamentou a mãe, que reclamou do atendimento médico na UPA da Maré. “Não tinha uma ambulância na unidade. Ele foi socorrido por moradores. Ele foi alvejado e ficou baleado segurando a barriga. Ele não estava com armas, estava com livros e cadernos”, disse, muito emocionada.

“Eu fiquei com meu filho esperando a ambulância por uma hora. Uma senhora da limpeza é que me contou que a polícia não tinha deixado a ambulância entrar (na favela). Depois houve uma ordem superior e a ambulância entrou, mas ele já estava roxo, estava morrendo na minha frente”, contou a mãe. Às 16h30, cerca de cem amigos e familiares de Marcus Vinícius chegaram ao velório e houve um momento de grande comoção.

Velório na prefeitura

Há pelo menos dez anos a prefeitura do Rio não abria as portas de sua sede para o velório de uma vítima de violência. Segundo a assessoria de Marcelo Crivella (PRB), o pedido para que o velório ocorresse no Palácio da Cidade partiu do secretário municipal de Educação, César Benjamin. Ele chegou ao velório por volta de 15h15.

Operação

A operação conjunta da Polícia Civil e das Forças Armadas assustou moradores das comunidades da zona norte nesta quarta e deixou outras seis pessoas mortas, que a polícia acredita ser traficantes. Marcus Vinícius estava a caminho do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Operário Vicente Mariano, onde estuda, quando foi atingido. Ele passou por cirurgias, mas não resistiu. De acordo com a Polícia Civil, os policiais foram recebidos a tiros ao entrarem em duas casas e revidaram.

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