Ministros do TCU responsabilizam ex-dirigentes do BNDES por prejuízo com JBS

  • Por Estadão Conteúdo
  • 26/04/2017 17h52
BRA111. LAPA (BRASIL), 21/03/2017 - Vista general de la compañía del grupo cárnico JBS Seara en la ciudad de Lapa, estado de Paraná, Brasil, la cual fue inspeccionada por el ministerio de Agricultura de Brasil, Blairo Maggi, hoy martes 21 de marzo de 2017. Según la policía, varias de las principales cárnicas del país, entre ellas JBS y BRF, con la complicidad de fiscales sanitarios corruptos, "maquillaron" con productos químicos carnes que estaban en mal estado y no cumplían con los requisitos para la exportación.EFE/Joédson Alves Joédson Alves/EFE JBS - EFE

Em julgamento nesta quarta-feira, 26, ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) apontaram responsabilidade de ex-diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), entre eles o ex-presidente da instituição, Luciano Coutinho, em suposto favorecimento da JBS S/A, dona das marcas Friboi e Seara, na compra do frigorífico americano Swift Foods, em 2007. Conforme antecipou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, auditoria da corte mostrou que os executivos participaram de irregularidades na aprovação de um aporte de US$ 750 milhões (R$ 2,3 bilhões, em valores atuais) para a aquisição da empresa estrangeira.

O investimento foi uma das operações do BNDESPar – braço do BNDES para a compra de participação em empresas -, feitas a título de capitalizar a JBS, dando apoio ao seu crescimento e internacionalização. Com o investimento, o banco público passou a ser sócio do grupo brasileiro. A estratégia foi amplamente adotada nos governos Lula e Dilma, com vistas à criação de “campeões nacionais” em alguns setores da economia.

A auditoria constatou que o BNDESPar pagou ágio de R$ 0,50 para cada uma das cerca de 139 milhões de ações, o que resultou em prejuízo de R$ 69,7 milhões ao País. De acordo com o documento, não cabia o pagamento do prêmio, pois não havia “quaisquer razões de cunho mercadológico” que justificassem “oferecer valor maior que o preço justo” para a transação. 

Durante a sessão, por unanimidade, os ministros determinaram a abertura de uma tomada de contas especial para aprofundar a investigação sobre essas perdas e cobrar eventual ressarcimento. Nesse processo, os ex-diretores e também servidores que participaram do negócio serão chamados a explicar essa e diversas outras irregularidades. Se, após apresentarem as defesas, o tribunal mantiver o entendimento de que houve favorecimento e prejuízo, os envolvidos podem ser condenados à devolução dos valores e ao pagamento de multas. 

Para viabilizar a aquisição da Swift, o grupo brasileiro solicitou em maio de 2007 apoio de cerca de US$ 600 milhões do BNDESPar, mediante subscrição de ações. Em junho, após uma análise feita pelo banco, o valor do aporte a ser feito aumentou para US$ 750 milhões. Com a incorporação da gigante americana, a JBS se tornou à época a terceira maior empresa de carne bovina do mundo.

A auditoria do TCU diz que os atos dos então dirigentes do BNDES atentaram contra regras do próprio banco e os princípios constitucionais da moralidade, da impessoalidade e da eficiência, além do deveres de diligência a serem observados em negócios públicos. Também sustenta que não foram avaliados adequadamente os riscos da operação, uma vez que a Swift estava em sérias dificuldades financeiras, e que não ficaram evidenciados os “benefícios econômico-sociais” para o Brasil.

O relatório diz que Coutinho e os demais diretores aprovaram o aporte por unanimidade, “sem justificativa plausível” para aumentar o valor inicial solicitado pela empresa. Além disso, sustenta que os executivos acataram, “sem embasamento em documentação apropriada e em avaliações econômico-financeiras”, estimativas de custos acessórios da operação que montavam a 10% do valor do aumento de capital proposto pela empresa brasileira

O resultado, segundo a auditoria, foi a realização de investimento “em valor não comprovadamente necessário para a operação, beneficiando a JBS, que passou a dispor de, pelo menos, US$ 235 milhões em caixa para utilizar como bem lhe conviesse”. 

Coutinho sustenta que o negócio seguiu parâmetros legais e de mercado. O BNDES ainda não se pronunciou.

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