Morte de Marielle teve ‘modus operandi’ sofisticado para ‘garantir impunidade’, diz juiz

  • Por Jovem Pan
  • 18/03/2019 12h38
Divulgação Acusados serão transferidos para presídios federais de segurança máxima

O juiz Gustavo Gomes Kalil, da 4ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, considerou o modus operandi da dupla acusada de matar a vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) como “sofisticado” e pensado para “garantir a impunidade” no crime. Ele aceitou denúncia do Ministério Público (MP) e colocou no banco dos réus os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Elcio Vieira de Queiroz, presos na semana passada e acusados do crime.

Em relatório, o magistrado descreveu que as investigações sobre Lessa começaram após a Divisão de Homicídios da Polícia Civil receber uma denúncia anônima informando que o policial reformado era o autor dos disparos contra Marielle. O crime teria sido encomendado por R$ 200 mil. O suspeito teria recebido metade do valor em conta bancária, sete meses após o assassinato, que também vitimou o motorista Anderson Gomes.

Kalil também relata dados apresentadas pelo MP, nos quais constam pesquisas feitas por Lessa envolvendo políticos e partidos de esquerda. Os termos incluem “Morte ao PSOL”, “Morte de Marcelo Freixo”, “Lula Enforcado” e “Dilma Rousseff Morta”. Há também pesquisas por “ditadura militar” e “Estado Islâmico”. Ele também havia pesquisado sobre parlamentares contrários à intervenção militar decretada por então presidente. Michel Temer.

Na época dessa pesquisa sobre a intervenção na segurança pública, que foi aplicada no estado do Rio, em fevereiro do ano passado, Marielle havia sido escolhida como relatora de comissão instalada na Câmara de Vereadores para acompanhar a ação das Forças Armadas. A partir disso, Lessa teria pesquisado sobre a vereadora e também mulheres negras “com o similar engajamento político”, incluindo “Kenia Maria” e “Iza Cantora”.

“De acordo com as autoridades de investigação, as pesquisas realizadas pelo acusado revelariam, pois, que ele, em tese, monitorava de perto a vítima Marielle”, anotou o juiz. “Além disso, segundo a autoridade policial e o MP, o acusado Ronnie, poucos meses antes do crime, teria realizado pesquisas ‘online’ acerca de acessórios para submetralhadora HK MP, especialmente ‘silenciadores’, entre os dias 10/11/2017 e 26/02/2018.”

Após o dia 14 de março de 2018, data do assassinato de Marielle, Lessa parou de buscar sobre a vereadora na internet. Durante as investigações, policiais descobriram que câmeras de segurança e sinais de GPS no local do crime foram neutralizadas. “O ‘modus operandi’, como informado pelo MP e indiciado nas investigações, revela sofisticação, devendo o Poder Judiciário agir com rigor a fim de garantir a ordem pública.”

De acordo com o magistrado, “o próprio planejamento do crime, conforme alegado pelas autoridades da persecução, revela que os acusados atuariam de forma a garantir a impunidade, neutralizando sinais de GPS, escondendo/destruindo elementos de convicção”. Para o juiz, há suspeita de três crimes hediondos: dois homicídios triplamente qualificados (Marielle e Anderson) e uma tentativa de homicídio duplamente qualificada.

A vítima da tentativa de assassinato é a assessora Fernanda Chaves, que estava no carro com as vítimas mortas, mas sobreviveu. “Segundo a denúncia, eles teriam ceifado a vida de uma vereadora no exercício do mandato e seu motorista, mediante execução sumária, fatos imputados estes que, segundo a versão ministerial, apresentam uma gravidade concreta, considerando, em especial, o ‘modus operandi’ empregado nos delitos.”

Ao aceitar a denúncia, o magistrado destacou “ligações com suposta organização miliciana composta por policiais militares da ativa” para garantir a transferência de Lessa e Queiroz para unidade prisional federal de segurança máxima. O presídio deve ser indicado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen). Kalil também determinou a perda de bens após constar que Lessa teria tentado ocultar o próprio patrimônio.

Entre o patrimônio ocultado pelo acusado estavam incluindo diversas armas e dois automóveis, um deles no valor de R$ 150 mil. “Seu local de residência, um condomínio luxuoso na Barra da Tijuca, seria incompatível com seus proventos de policial militar reformado.” Ele também destaca o relatório do Coaf que aponta movimentação financeira suspeita de R$ 100 mil na conta de Lessa. As defesas dos dois presos não se manifestaram.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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