Novo vazamento aponta apoio do MPF a Moro diante de tensão com STF

  • Por Jovem Pan
  • 23/06/2019 09h34 - Atualizado em 23/06/2019 11h42
RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO As mensagens mostram que a equipe da Lava Jato articulou apoio a Sergio Moro diante do STF

O site The Intercept Brasil, em parceria com o jornal Folha de São Paulo, divulgou na madrugada deste domingo (23) mais uma parte da conversas atribuídas ao atual ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador da República e coordenador da operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol. Dessa vez, trechos de conversas com o delegado da Polícia Federal Márcio Anselmo também foram vazados.

As mensagens mostram que a equipe da linha de frente da Lava Jato articulou apoio ao então juiz federal diante do Supremo Tribunal Federal. Em um momento crítico da força-tarefa, a preocupação girava em torno de evitar que tensões atrapalhassem as investigações.

Segundo o conteúdo, Moro temia que papéis encontrados pela Polícia Federal na casa de um executivo da empreiteira Odebrecht – que poderiam expor dezenas de políticos com foro especial – pudessem agravar o confronto com a Corte.

Os trechos da conversa teriam acontecido no dia 23 de março de 2016, após Moro saber que uma lista de políticos relacionados à Odebrecht se tornou pública nos autos de um processo da força-tarefa.

No diálogo, o ministro diz que colocou “sigilo 4 no processo, embora já tenha sido publicizado”. Ele ainda teria declarado que o caso é uma “tremenda bola nas costas da PF” e que não via alternativa “senão remeter o processo do Santana (João Santana) ao STF”.

De acordo com as mensagens, Dallagnol respondeu: “Falei com Pelella. Ele disse que se resolve com a remessa dos autos (ajustei mandar Odebrecht e disse que manteríamos Zwi e Santana, com o que ele concordou e disse que cindirão e devolverão) e confidenciou que na próxima semana a pressão se transferirá para lá e esquecerão isso. Quanto à decisão de ontem, ele disse que certamente as coisas se acalmarão”.

A “decisão de ontem” a qual a mensagem se refere seria o despacho do Supremo que repreendeu Sergio Moro por divulgar escutas de conversas do ex-presidente Lula.

Cerca de duas horas depois, Deltan teria voltado a contatar o ex-juiz. “Manifestação protocolada. Antes de protocolar, passou pelo ok da PGR. Os autos da reclamação do grampo estão indo para a PGR. Falei com pessoas de lá para trazer a bola pro chão e pra razão. (…). Não acho que a PF colocou pra dar conhecimento público, porque só foi noticiado hoje, um dia depois. Se tivessem feito de propósito, ontem à noite estava no JN (Jornal Nacional)”. Moro respondeu. “Continua sendo lambança. Não pode cometer esse tipo de erro agora.”

De acordo com o vazamento, Deltan rebateu prestando apoio ao ministro. “As coisas vão se acalmar. É um momento de ânimos exaltados. Saiba não só que a imensa maioria da sociedade está com você, mas que nós faremos tudo o que for necessário para defender você de injustas acusações.”

Mais tarde, Márcio Anselmo se manifestou dizendo que “não via motivo para ‘todo esse alvoroço’”. “Planilhas semelhantes foram apreendidas na Andrade, na Camargo e em várias outras empreiteiras. Nós até cogitamos em ter falado c o Dr Sergio, mas em razão de todos os acontecimentos isso acabou ficando pra trás.”

Deltan respondeu: “O receio é que isso seja usado pelo STF contra a operação e contra o Moro. O momento é que ficou ruim… Pra ter ideia, já pedimos articulação da ANPR junto ao CNJ. Vem porrada”.

No fim da noite, as mensagens atribuídas ao ministro mostram preocupação: “Não sei se vocês tem algum contato mas alguns tontos daquele movimento brasil livre foram fazer protesto na frente do condomínio do ministro (Teori Zavaski). Isso não ajuda evidentemente”.

Deltan respondeu: “Se quiser, vou atrás para ver se temos algum contato, mas, não sendo violento ou vandalizar, não acho que seja o caso de nos metermos nisso por um lado ou outro… Não, com o MBL não. Eles ficaram meio ‘bravos’ com a gente, porque não quisemos apoiar as manifestações contra o governo no ano passado. Eles são declaradamente pró-impeachment”.

Moro finalizou a conversa com um “Ok”.

Defesa

Até o momento, o ministro Sergio Moro não se pronunciou sobre as conversas atribuídas a ele pelo The Intercept Brasil e a Folha de São Paulo nesta madrugada. Nas outras supostas mensagens vazadas, Moro afirmou não reconhecer a veracidade das informações.

Na última quarta-feira (19) o ex-juiz federal foi ouvido pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal sobre os vazamentos e reforçou que ‘ainda que tenha alguma coisa ali verdadeira, essas mensagens pode ser total ou parcialmente adulteradas, às vezes até com mudança de trecho ou mudança de palavra para caracterizar uma situação de escândalo que no fundo é inexistente’.

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