Novos geoglifos ‘reescrevem’ história da Amazônia no Brasil

  • Por Agência Brasil
  • 14/08/2018 10h36
Reprodução/Wikipedia A Amazônia do Brasil e da Bolívia tem mais de 800 geoglifos, 523 deles no Acre

Novos geoglifos descobertos no Acre reforçam a ideia de que na Amazônia existiu uma população milenar numerosa e hierarquizada 2.500 anos antes da chegada dos europeus, o que está “reescrevendo” a história dessa região.

“A Amazônia era estudada como um passado inóspito, uma região com pouca população, e estas estruturas arqueológicas que estamos vendo aqui demonstram o contrário”, afirmou à Agência Efe Ivandra Rampanelli, arqueóloga com doutorado em pré-história e responsável pela mais recente descoberta de geoglifos no Acre.

Para Ivandra, as escavações apontam que “pode ter existido uma população densa, grande, organizada e hierarquizada e isso está reescrevendo a história da Amazônia como um todo, está mudando o que antes era visto como um território vazio”.

Os geoglifos são figuras construídas em encostas de colinas ou em planícies, usando a técnica de adição de terra ou pedras, com tonalidades escuras de origem vulcânica em forma de mosaico.

Os pesquisadores descobriram nos últimos anos um total de 523 geoglifos no estado do Acre, fronteiriço com a Bolívia e o Peru, país onde se encontram os famosos figuras de Nazca.

Segundo a arqueóloga, responsável pelas mais recentes escavações, os novos “desenhos na terra” descobertos na planície do Acre estão associados a rituais dos povos indígenas que habitaram a região antes da chegada dos europeus.

As primeiras descobertas, detalhou Ivandra, datam de 1977, quando pesquisadores locais encontraram oito sítios arqueológicos. Apesar do trabalho contínuo posterior, foi só a partir de 2005 que as escavações com ferramentas satelitales permitiram um “estudo sistemático” desses lugares.

A mais recente descoberta na floresta amazônica ocorreu em outubro do ano passado, com uma equipe coordenada por Ivandra, e em julho começaram a ser divulgados os primeiros resultados dos estudos realizados.

“Estamos muito interessados em saber o que mais tem esta área arqueológica no meio da selva”, expressou a arqueóloga.

Para ela, esses geoglifos, por estarem no meio da vegetação, se encontram mais bem preservados “que os que estão em áreas privadas e que hoje em dia servem de pasto para o gado”.

“Com as futuras escavações poderemos encontrar vestígios materiais melhor preservados e também poderemos fazer estudos de inventário botânico, inventário florestal, estudos do solo, porque que estão melhores preservados que outras áreas abertas que têm sítios arqueológicos”, acrescentou.

Os dois novos geoglifos, que apareceram pelo desmatamento na região, estão na região da reserva Chico Mendes e um deles, em forma de círculo, tem noventa metros de diâmetro, com até quatro de profundidade.

A Amazônia do Brasil e da Bolívia tem mais de 800 geoglifos, 523 deles no Acre.

Recentemente, uma expedição arqueológica britânica descobriu 81 aldeias deste tipo em Mato Grosso, com vestígios de cerâmicas e ferramentas de povos antigos.

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