Operação Câmbio, desligo manda prender doleiros da Satiagraha e Castelo de Areia

  • Por Estadão Conteúdo
  • 03/05/2018 15h07
Agência Brasil Operação cumpre mandados de prisão preventiva autorizados pelo juiz Marcelo Bretas

A operação Câmbio, desligo do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro cumpre mandados de prisão preventiva contra os maiores doleiros da primeira década dos anos 2000. Na lista dos operadores financeiros com prisão autorizada pelo juiz Marcelo Bretas estão nomes que já foram alvos de grandes operações como a Satiagraha, Castelo de Areia, Banestado e um doleiro citado no Caso Siemens.

A Câmbio, Desligo é a nova fase da Lava Jato do Rio de Janeiro e avança sobre uma “organização criminosa especializada na prática de crimes financeiros e evasão de divisas, responsável por complexa estrutura de lavagem de dinheiro transnacional, ocultação e ocultação de divisas”. O líder desse grupo seria o doleiro Dario Messer, apontado por Alberto Youssef, como um dos “doleiros de doleiros”, ou seja, um operador grande que dava suporte financeiro a outros menores.

A operação teve origem no acordo de colaboração de Vinicius Claret, o Juca Bala, doleiro utilizado pelo grupo do ex-governador Sergio Cabral.

Um dos alvos é a família Matalon cujo patriarca, Marco Matalon, é um dos mais conhecidos doleiros de São Paulo. Alvo da operação Satiagraha, deflagrada em 2008 para prender o empresário Daniel Dantas, do banco Opportunity, os Matalon haviam transferido sua banca para o Uruguai de onde continuaram a atuar no mercado de câmbio paralelo em parceria com Dario Messer. Na Satigraha, Matalon era apontado como doleiro do investidor Naji Nahas. O caso foi anulado pelo Supremo Tribunal federal e Daniel Dantas acabou inocentado.

De acordo com Juca Bala, a família Matalon teria movimentado cerca de US$ 100 milhões entre 2011 e 2017. “A família Matalon é tradicional família de doleiros líderes do mercado de câmbio ilegal em São Paulo, desde a década de 1990, capitaneada pelo patriarca Marco Matalon, e composta por seu filho Ernesto Matalon, sua sobrinha Patrícia Matalon e a funcionária Bella Skinazi”, diz a decisão do juiz Marcelo Bretas.

Outro alvo da operação de pedido de prisão por parte do MPF é o doleiro Marco Antônio Cursini. Alvo do caso Banestado, Cursini assinou um acordo de colaboração premiada que deu origem á operação Castelo de Areia.

A investigação, anulada pelo Superior Tribunal de Justiça, examinou a construtora Camargo orrêa e foi a primeira a descobrir o cartel de empreiteiras depois alvo da Lava Jato. De acordo com Juca Bala, o doleiro teria voltado a atuar no mercado de câmbio paralelo em 2010.

“Segundo os colaboradores, Marco Antônio Cursini era representado pelo apelido Masita nos bancos de dados ST e BANKDROP, assim, somente entre os anos de 2011 a 2017 as operações envolvendo os investigados totalizaram a astronômica cifra de US$ 33.000.000,00 (trinta e três milhões de dólares)”, diz o despacho do juiz Bretas.

Siemens

Entre os alvos de pedido de prisão da Câmbio, Desligo também está o doleiro Raul Srour. Preso na primeira fase da Lava Jato, em março de 2014 Srour também foi alvo do caso Banestado e recebeu dinheiro da conta secreta aberta por ex-diretores da Siemens em Luxemburgo.

A conta é investigada pela matriz alemã da Siemens. Em depoimento à Polícia Federal em 2013, o vice chefe de compliance da multinacional na Alemanha, Mark Gough, que apura o caso internamente, afirmou suspeitar que a conta tenha sido usada para pagar propina a agentes públicos brasileiros.

Gough contou à PF que a conta de Luxemburgo, entre outras transferências, repassou valores para as contas de duas empresas suíças, de nomes Neisse e Limanda. A Limanda, relatou Gough, transferiu dinheiro para uma conta da empresa Cristal Financial Services, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas. Essa empresa é de propriedade de Raul Srour e de um sócio dele, Richard Andrew van Otterloo.

O juiz Marcelo Bretas não aceitou o pedido de prisão contra Srour, mas autorizou a prisão do seu sócio, o também doleiro Richard Van Oterloo. Segundo o MPF, Oterloo teria movimentado US$ 41 milhões entre 2011 e 2017.

“As operações de câmbio paralelo realizadas pelos colaboradores e os requeridos consistiam, principalmente, na transferência de dólares no exterior para uma conta indicada por Richard Andrew e recebimento de reais no Brasil em contrapartida. Chama atenção na representação os altíssimos os valores negociados pelos requeridos, variando de US$ 10.000,00 a US$ 700.000,00 por movimentação”, diz trecho da decisão.

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