Cheirou vazamento, equipe da PF será trocada, diz ministro da Justiça

  • Por Jovem Pan
  • 19/03/2016 09h59
Brasília - O novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, durante cerimônia de posse (José Cruz/Agência Brasil) José Cruz/Agência Brasil Ministro da Justiça Eugênio Aragão

O novo ministro da Justiça de Dilma, Eugênio Aragão, que assumiu o cargo na última semana, disse neste sábado que vai trocar uma equipe da Polícia Federal ao menor “cheiro” de vazamento.

A entrevista foi dada ao jornal Folha de S. Paulo e ocorre em meio à grande visibilidade da Operação Lava Jato, cujas investigações atingiram altos níveis governamentais (inclusive o ex-presidente Lula e ministro da Casa Civil) e grave crise do governo federal.

“A primeira atitude que tomo é: cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. A PF está sob nossa supervisão. Se eu tiver um cheiro de vazamento, eu troco a equipe”, disse Aragão, ressaltando que a equipe de policiais federais poderá ser poupada desde que “traga claros elementos de quem vazou”.

“Não é razoável, com o país num momento de quase conflagração, que os agentes aproveitem esse momento delicado para colocar gasolina na fogueira”, continuou o novo ministro.

A Regional de São Paulo da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) já reagiu à fala do ministro na manhã deste sábado (19). 

“Se alguém não estiver satisfeito com aquela equipe é só vazar qualquer coisinha do inquérito que a equipe será trocada. Isso é um absurdo. Não tem palavras para dizer”, avalia Edson Garutti, vice-diretor da ADPF-SP. O representante da PF lembrou antes que “qualquer pessoa que tenha acesso a uma informação de dentro do inquérito pode vazar. Esse vazamento pode ser de dentro da polícia ou não. Em tese o vazamento pode ser até mesmo da equipe do ministro”, disse em entrevista exclusiva à Jovem Pan.

Garutti se disse “chateado e preocupado”, mas garantiu que a Polícia Federal não mudará sua forma de atuação. Ouça e leia a entrevista completa aqui.

“Politização”

À Folha, Aragão também negou que a presidente Dilma Rousseff tenha lhe feito algum pedido especial, apenas “apoio dentro do ministério”. Em seguida, criticou o que chamou de “seletividade” do vazamento de informações e de “politização do procedimento judicial, seja por parte do juiz, seja por parte dos agentes públicos em torno”.

Delações

O ministro da Justiça, que hierarquicamente chefia a Polícia Federal, criticou também o modo como são realizadas as delações premiadas, um dos principais métodos de investigação da Lava Jato e defendida pelos procuradores de Curitiba e pelo juiz Sérgio Moro. Aragão disse que o método pelo qual são feitos os acordos de delação “é extorsão de declaração”.

“Na medida em que decretamos prisão preventiva ou temporária em relação a suspeitos para que venham a delatar, essa voluntariedade pode ser colocada em dúvida. Porque estamos em situação muito próxima de extorsão. Não quero nem falar em tortura. Mas no mínimo é extorsão de declaração. Se a gente tolera que o grandalhão vai para cadeia enquanto não resolve abrir a boca, então o pequeno pode ir para o pau de arara”, comparou o ministro.

Depois disse: “quem vaza a delação está querendo criar algum tipo de ambiente”. A publicação antecipada pela revista Istoé da delação do senador Delcídio do Amaral (que cita Dilma, Lula, Aécio Neves, entre outros), quando não estava homologada ainda, foi duramente criticada pelo governo federal à época.

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