Especial “Tancredo Neves, o homem da transição”; capítulo 3: a vitória nas indiretas e a comoção nacional na doença

  • 21/04/2015 13h54 - Atualizado em 16/04/2019 18h23
Folhapress 15/01/1985: Tancredo Neves, ainda de pijama, acena da janela ao lado de Risoleta e do neto Aécio Neves Cunha

Confira o terceiro capítulo da série “Tancredo Neves, o homem da transição”, que relata a vitória nas eleições indiretas e a doença que comoveu o Brasil. Confira, ao final do texto, os três primeiros capítulos. Todas as falas citadas nessa reportagem podem ser ouvidas em trechos de áudios históricos colhidos e selecionados ao lado.

Tancredo Neves virou sinônimo da esperança de um Brasil amordaçado por 21 anos de ditadura militar.

As eleições indiretas, marcadas para janeiro de 1985, pareciam diretas para o político mineiro que percorreu o país e mobilizou as massas. “Hoje nós não sabemos o que é direta e o que é indireta; sabemos apenas que o povo será vitorioso no dia 15”, disse o então candidato do PMDB.

Congresso Nacional – 15 de janeiro de 85 – o ciclo autoritário começava a se esfacelar: “Declaro aberta a sessão destinada a à eleição do presidente e do vice presidente da República”, anunciava o presidente do Colégio Eleitoral, Moacir Dala.

O duelo seria travado entre o sonho da nova república e o pesadelo do entulho autoritário: “Pelo Partido Democrático Nacional, Paulo Salim Maluf e, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro, Tancredo de Almeida Neves”.

Tancredo Neves recebeu 480 votos contra 180 de Paulo Maluf. O decisivo foi dado pelo deputado João Cunha, do PMDB, que proclamou: “O golpe final contra a ditadura fascista e entreguista que infelicitou minha pátria, voto em Tancredo Neves para a vitória!”.

O presidente do Colégio Eleitoral, Moacir Dala, proclamou o resultado tão esperado pela nação.

Tancredo Neves no Congresso Nacional, em Brasília (DF), em 15 de janeiro de 1985, quando é proclamado presidente da República pelo Colégio Eleitoral (Jorge Araújo/Folhapress)

O primeiro presidente civil, depois do perído ditatorial, fazia uma promessa: “Esta foi a última eleição indireta do País”.

Tancredo Neves sabia que a tarefa agora era reorganizar o país: “A primeira tarefa do meu governo é promover a mudança institucional do Estado”. As mudanças eram irreversíveis: “mudanças políticas, mudanças econômicas, mudanças sociais”.

A doença e o medo do retrocesso

Tancredo Neves faria 75 anos em 4 de março de 1985 e mesmo com dores no abdomem partiu para uma extensa agenda de viagens ao exterior.

O infectologista David Uip, que integrou a equipe médica do presidente, tem uma lembrança clara. “Ele tinha sinais de infecção há pelo menos um ano, que não foram interpretados nem por ele nem por quem o assistiu.”

No dia 14 de março de 1985, véspera da posse, Tancredo foi internado às pressas em Brasília: os médicos falaram em apendicite e depois diverticulite.

O biógrafo José Augusto Ribeiro destaca que o presidente temia que os militares impedissem a sucessão e insistiu para adiar a cirurgia. “Se ele não pudesse tomar posse, o Figueiredo tentaria negar posse ao Sarney”, considera. “Ele falou assim: ”Me levem numa maca, eu tomo posso, vou ao hospital, daí vocês me operam””, explica o biógrafo.

Tancredo Neves e José Sarney conversam durante entrevista coletiva (Moreira Mariz/Follhapress)

O ex-secretário de imprensa da presidência ra República, Antônio Brito, vai além. “O dr. Tancredo não se comportou como paciente, se comportou como político”, diz Brito, que entende ainda que “muitos médicos” o trataram assim, como paciente, e não político.

O historiador da USP Boris Fausto ressalta que a doença de Tancredo Neves trazia incerteza política. “Era uma situação em que tudo podia acontecer, então acho que ele teve esse papel importante de tentar ir até o fim”.

Como disse o próprio Tancredo outrora: “São muitos os que sucumbem em pleno combate, legando-nos o exemplo de seu sacrifício pela Pátria”.

Tancredo foi para o sacrifício: operado no Hospital de Base de Brasília, o país perguntava se ele poderia ou não tomar posse no dia 15 de março de 1985.

O então secretário particular, o neto Aécio Neves, dava esperança à nação: “A cirurgia foi um êxito e o Brasil pode suspirar aliviado; o presidente Tancredo Neves deve tomar posse amanhã na presidência do Brasil”, disse.

Mal sabia Aécio Neves que o país iria viver 38 dias de agonia. Foi um momento raríssimo de união nacional em relação à doença e à dor. Muitos rezaram e oraram por Tancredo.

13/04/1985: População faz vigília em frente ao INCOR aonde estava internado o presidente eleito Tancredo Neves (Luiz Carlos Murauskas/Folhapress)

“Muitos deram a sua vida pelo Brasil, o Tancredo deu a sua morte.”

Capítulo 4: Os últimos dias e a esperança de fazer uma grande nação. CLIQUE AQUI.

Reportagem especial de Thiago Uberreich em razão dos 30 anos da morte de Tancredo Neves. Confira todos os capítulos de “Tancredo Neves, o homem da transição”:

  • Capítulo 1: O nascimento político do conciliador. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 2: As Diretas e a esperança democrática. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 3: A vitória nas indiretas e a comoção nacional na doença. CLIQUE AQUI.
  • Capítulo 4: Os últimos dias e a esperança de fazer uma grande nação. CLIQUE AQUI.
  • Tags:

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.