Site torna públicas conversas entre Moro, Dallagnol e procuradores da Lava Jato

  • Por Jovem Pan
  • 09/06/2019 23h27 - Atualizado em 10/06/2019 08h19
Aloisio Mauricio/Estadão Conteúdo Ministro da Justiça Sergio Moro

O site de notícias ‘The Intercept Brasil’ publicou na noite deste domingo (9) uma série de reportagens denominadas ‘As mensagens secretas da Lava Jato’, em que vaza conteúdos de aplicativos de mensagens privadas entre integrantes da força-tarefa da Lava Jato. Os diálogos são entre o atual Ministro da Justiça Sergio Moro e o Procurador da República e coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol.

Segundo o ‘The Intercept Brasil’, as conversas publicadas fazem parte de um lote de arquivos “enviados por uma fonte anônima há algumas semanas”. Em três atos, o conteúdo mostra diversos trechos de mensagens trocadas nos últimos anos.

Em uma das passagens, por exemplo, se pode ver uma troca de mensagens de Dallagnol com outros procuradores em um grupo do Telegram. A troca de ideia teria acontecido dias antes de Deltan apresentar a denúncia contra Lula no caso do triplex. Na ocasião, o coordenador da Lava Jato se mostrava preocupado com um possível teor frágil na acusação e posterior a repercussão do caso.

“Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre petrobras e o enriquecimento, e depois que me falaram to com receio da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua.”

Em outro fragmento da conversa em grupo, procuradores da Lava Jato reagem ao pedido da Folha de SP para entrevistar Lula na prisão, durante campanha eleitoral. As procuradoras Laura Tesseler e Isabel Groba se mostram revoltadas. Groba se manifesta usando a expressão ‘mafiosos’. As mensagens também mostram receio dos procuradores com a possível eleição de Fernando Haddad.

Também são relatas trocas de mensagens entre Dallagnol e Moro, então juiz da 13ª Vara Federal no Paraná. Em um dos bate-papos o procurador reclama das críticas da imprensa após denúncia de Lula no caso triplex e Sergio Moro tranquiliza:

“Definitivamente, as críticas à exposição de vcs são desproporcionais. Siga firme.” 

Em um outro diálogo entre Moro e Dellagnol, o site dá a entender que houve interferência do juiz na investigação. Em uma das conversas, que ocorreu depois da decisão do STF de soltar Alexandrino Alencar, então diretor de relações institucionais da Odebrecht, lê-se o seguinte:

“Caro, STF soltou Alexandrino. Estamos com outra denúncia a ponto de sair, e pediremos prisão com base em fundamentos adicionais na cota. […] Seria possível apreciar hoje?”, escreveu Dallagnol. Moro respondeu: “Não creio que conseguiria ver hj. Mas pensem bem se é uma boa ideia.

Após conversa com Moro, o coordenador da Lava Jato comunicou aos colegas procuradores a posição do juiz. Ainda no aplicativo de mensagem, um mês depois, Moro questiona Dallagnol sobre a iniciativa de recorrer das condenações de colaboradores. Enquanto o procurador tenta impedir a execução da pena, o magistrado pensava o oposto.

Já em 21 de fevereiro de 2016, em mensagem direta a Dallagnol, Moro sugere uma inversão na ordem de duas operações que estavam planejadas pelo MPF.

O site alega que mais reportagens serão veiculadas e que possui chats, áudios, vídeos, fotos e documentos como material.

Procuradores reagem a “ataque criminoso à Lava Jato”.

A força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR) afirmou em nota, que “seus membros foram vítimas de ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público, à vida privada e à segurança de seus integrantes”.

“A ação vil do hacker invadiu telefones e aplicativos de procuradores da Lava Jato usados para comunicação privada e no interesse do trabalho, tendo havido ainda a subtração de identidade de alguns de seus integrantes. Não se sabe exatamente ainda a extensão da invasão, mas se sabe que foram obtidas cópias de mensagens e arquivos trocados em relações privadas e de trabalho”, dizem os procuradores.

“Dentre as informações ilegalmente copiadas, possivelmente estão documentos e dados sobre estratégias e investigações em andamento e sobre rotinas pessoais e de segurança dos integrantes da força-tarefa e de suas famílias. Há a tranquilidade de que os dados eventualmente obtidos refletem uma atividade desenvolvida com pleno respeito à legalidade e de forma técnica e imparcial, em mais de cinco anos de Operação”, afirmam.

Os procuradores afirmam ter “três preocupações”.

“Primeiro, os avanços contra a corrupção promovidos pela Lava Jato foram seguidos, em diversas oportunidades, por fortes reações de pessoas que defendiam os interesses de corruptos, não raro de modo oculto e dissimulado.”

“A violação criminosa das comunicações de autoridades constituídas é uma grave e ilícita afronta ao Estado e se coaduna com o objetivo de obstar a continuidade da Operação, expondo a vida dos seus membros e famílias a riscos pessoais. Ninguém deve ter sua intimidade – seja física, seja moral – devassada ou divulgada contra a sua vontade. Além disso, na medida em que expõe rotinas e detalhes da vida pessoal, a ação ilegal cria enormes riscos à intimidade e à segurança dos integrantes da força-tarefa, de seus familiares e amigos”, afirmam.

Os procuradores afirmam que “é importante dar continuidade ao trabalho”. “Apenas neste ano, dezenas de pessoas foram acusadas por corrupção e mais de 750 milhões de reais foram recuperados para os cofres públicos. Apenas dois dos acordos em negociação poderão resultar para a sociedade brasileira na recuperação de mais de R$ 1 bilhão em meados deste ano. No total, em Curitiba, mais de 400 pessoas já foram acusadas e 13 bilhões de reais vêm sendo recuperados, representando um avanço contra a criminalidade sem precedentes. Além disso, a força-tarefa garantiu que ficassem no Brasil cerca de 2,5 bilhões de reais que seriam destinados aos Estados Unidos.”

“Em face da agressão cibernética, foram adotadas medidas para aprimorar a segurança das comunicações dos integrantes do Ministério Público Federal, assim como para responsabilizar os envolvidos no ataque hacker, que não se confunde com a atuação da imprensa. Desde o primeiro momento em que percebidas as tentativas de ataques, a força-tarefa comunicou a Procuradoria-Geral da República para que medidas de segurança pudessem ser adotadas em relação a todos os membros do MPF. Na mesma direção, um grupo de trabalho envolvendo diversos procuradores da República foi constituído para, em auxílio à Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação da PGR, aprofundar as investigações e buscar as melhores medidas de prevenção a novas investidas criminosas”, dizem.

“Em conclusão, os membros do Ministério Público Federal que integram a força-tarefa da operação Lava Jato renovam publicamente o compromisso de avançar o trabalho técnico, imparcial e apartidário e informam que estão sendo adotadas medidas para esclarecer a sociedade sobre eventuais dúvidas sobre as mensagens trocadas, para a apuração rigorosa dos crimes sob o necessário sigilo e para minorar os riscos à segurança dos procuradores atacados e de suas famílias”, concluem.

Ministro Sergio Moro se manifesta

Também em nota, o atual Ministro da Justiça Sergio Moro se manifestou sobre a série de reportagens:

“Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo.

Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”

*Com Estadão Conteúdo

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