“Vazamento pode ser até mesmo da equipe do ministro”, rebate líder da ADPF-SP

  • Por Jovem Pan
  • 19/03/2016 11h08
Divulgação/Flickr ADPF Delegados Federais fizeram ato nesta sexta em vários estados pela Autonomia da PF e em homenagem à Operação Lava Jato

A Regional de São Paulo da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) já reagiu na manhã deste sábado (19) à entrevista do ministro da Justiça, Eugênio Aragão, à Folha de S. Paulo em que ele disse“A primeira atitude que tomo é: cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será trocada, toda. Cheirou. Eu não preciso ter prova. A PF está sob nossa supervisão. Se eu tiver um cheiro de vazamento, eu troco a equipe”.

Edson Garutti, vice-diretor da associação que representa os policiais federais, classificou a fala do novo ministro de Dilma, que assumiu a pasta nesta última semana, como um “absurdo”. Garutti teme que “qualquer pessoa” com acesso aos autos da investigação possa interferir nos inquéritos. O representante da ADPF-SP também vê um pano de fundo político para a declaração de Aragão, mas garante que ela “não afeta” o modo de investigação da Polícia Federal.

“Se alguém não estiver satisfeito com aquela equipe é só vazar qualquer coisinha do inquérito que a equipe será trocada. Isso é um absurdo. Não tem palavras para dizer”, avalia Garutti. O representante da PF lembrou antes que “qualquer pessoa que tenha acesso a uma informação de dentro do inquérito pode vazar. Esse vazamento pode ser de dentro da polícia ou não. Em tese o vazamento pode ser até mesmo da equipe do ministro”.

Trabalho da PF afetado?

“O policial que está ali na ponta conduzindo a investigação não tem outro caminho, ele vai continuar fazendo como ele sempre fez, conduzindo a investigação de forma técnica. Não dá pra ele ficar pensando nessa fala do ministro”, garantiu o vice-diretor da ADPF-SP.

Ele assume, no entanto, que o posicionamento do ministro “é um motivo de chateação e de preocupação”. “Mas não afeta a forma como a gente trabalha. Já trabalhamos de forma a evitar esse tipo de coisa (vazamentos)”, garante.

Contexto político

Garutti também entende que parece haver um componente político na declaração do ministro de Dilma. “O pano de fundo da troca de ministro já indicava isso. O ministro anterior disse que sofreu pressões, inclusive de dentro do próprio partido, por não ter controlado a Polícia Federal. Daí ele sai, entra um novo minisro e faz essa primeira declaração”, contextualiza. 

“Toda nossa preocupação se confirma. É por isso que a gente está lutando tanto pela nossa PEC (Poroposta de Emenda Constitucional 412) da autonomia (da Polícia Federal). É justamente por isso”. A Polícia Federal é um dos órgãos subordinadas ao Ministério da Justiça.

O representante dos agentes também posicionou-se em relação à fala de Aragão em que este disse: “O Estado não pode agir como malandro. A minha grande preocupação é com a qualidade ética desses agentes”.

Garutti rebateu: “é dever do ministro da Justiça fortalecer as instituições que estão na sua pasta, não enfraquecer. Não é colocar em dúvida, por em xeque o trabalho desenvolvido por essas instituições”, ressaltando, em sequida, que, “claro, se existem abusos, se existem erros, isso deve ser tratado da forma devida. Os abusos têm ser investigados e punidos. Ninguém está aqui defendendo vazamento”.

A Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) ainda não havia decidido que posição tomar oficialmente em relação à polêmica fala de Eugênio Aragão. “Ainda não sei se será emitida uma nota, se nós chamaremos o ministro para uma conversa”.

O clima de tensão institucional ocorre em meio à grande visibilidade da Operação Lava Jato, cujas investigações atingiram altos níveis governamentais (inclusive o ex-presidente Lula e ministro da Casa Civil) e grave crise do governo federal.

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