Viúva de músico assassinado diz que militares ‘ficaram de deboche’ em vez de prestar socorro

  • Por Jovem Pan
  • 08/04/2019 15h15 - Atualizado em 08/04/2019 15h22
Divulgação Militares mataram uma pessoa depois de efetuar 80 disparos contra o carro de uma família neste domingo (5), em Guadalupe, na Zona Norte do Rio de Janeiro O carro em que o músico estava com a família foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil

A família do músico Evaldo dos Santos Rosa, morto em uma operação do Exército, em Guadalupe, no Rio de Janeiro, disse que, ao pedir socorro aos militares quando o marido foi atingido pelo primeiro tiro, os agentes debocharam da situação.

“Ele só tinha levado um tiro. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo”, disse a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo. O carro em que o músico estava foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil.

Luciana foi ao Instituto Médico-Legal (IML) na manhã desta segunda-feira, 8, para liberar o corpo. Em estado de choque, ela disse que a família passava pelo local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.

Aos prantos, a viúva disse que preferia ter morrido ao lado do marido, com quem era casada há 27 anos. “Eles me deixaram e mandaram eu correr. Eu tinha que ter ficado para morrer com ele, eu e meu filho”, disse. “Ele [o marido] era meu melhor amigo. Meu filho estava no carro, eu dei calmante para ele, ele viu tudo”, afirmou a técnica de enfermagem, que disse ao filho que pai estava hospitalizado.

Luciana informou que Evaldo era músico e trabalhou como vigilante, mas perdeu o emprego há dois anos. Débora dos Santos Araújo, irmã da técnica, disse que o filho do casal, de 7 anos, ainda não foi informado da morte do pai.

“A gente ainda não falou que ele morreu. O menino fica perguntando quando o pai vai sair do hospital. Ele está na casa do avô, do meu padrasto. Era filho único, tinha muito amor pelo pai”, ressaltou.

Segundo Débora, houve uma tentativa de militares de fazer a perícia no local. “Tem um vídeo mostrando que queriam colocar alguma coisa embaixo do meu cunhado”, disse. “Nós exigimos que fosse a polícia. Isso foi [por volta das] duas horas, a polícia chegou às seis e pouco. Nós não deixamos eles fazerem porque eles podiam tentar fraudar.”

Ação

O carro em que estava a família foi atingido por mais de 80 tiros disparados pelos militares. Evaldo, a mulher, o filho de 7 anos, o sogro e uma amiga da família estavam indo para um chá de bebê. O músico foi atingido por três tiros e morreu na hora.

O sogro, Sérgio Gonçalves de Araújo, recebeu um tiro nas costas e outro no glúteo e está internado em estado estável no Hospital Albert Schweitzer, ao lado de um homem que estava no local e tentou socorrer a família, mas foi atingindo por um tiro no peito.

Segundo Luciana, não houve confronto e os tiros começaram assim que o carro da família entrou na rua. “Eu me senti protegida quando vi o quartel. Meu padrasto estava no banco da frente. O Evaldo já estava caindo no volante, mas falou ‘corre com o Davi’. Eu abri a porta e disse que ajudava a levar o carro. Os vizinhos vieram para ajudar a socorrer.”

*Com informações do Estadão Conteúdo

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