Brasileiros usam método mais eficaz para desvendar riqueza genética de florestas

  • Por Estadão Conteúdo
  • 15/08/2016 11h36
SONY DSC Eduardo Lage Santos/ GERJ Confira imagens da Mata Atlântica

Um dos argumentos mais usados para se preservar a biodiversidade – além do valor dela por si só e dos serviços que presta – é que nas matas do País podem estar escondidas riquezas na forma de moléculas com potencial para virar remédios, cosméticos ou outros produtos de interesse comercial. Mas até hoje isso pouco vingou. Em parte porque a pesquisa é mesmo complexa, o acesso é difícil e também porque ainda estamos atrasados em um ponto básico: mapear o que está nas florestas.

Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro está inovando esse processo. Eles adotaram um método de sequenciamento de genoma simplificado para agilizar a investigação da biodiversidade. O trabalho piloto começou com o mapeamento de 50 espécies de plantas da Mata Atlântica encontradas na reserva Legado das Águas, da Votorantim, no Vale do Ribeira, a maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil. E, com esse esforço inicial, já declaram ter o maior banco de dados genéticos da Mata Atlântica.

“É um primeiro passo para explorar a biodiversidade brasileira de modo sustentável”, afirma o biólogo Mauro Rebelo, coordenador do projeto. “A dificuldade para acessar a biodiversidade, em termos científicos, é grande. Analisar quimicamente tem custo alto, e o retorno é muito incerto. Nós buscamos uma metodologia para fazer esse acesso em larga escala.”

A ideia foi sequenciar somente a parte do genoma que pode ter algum interesse comercial. Por isso, os pesquisadores focaram apenas nos genes, que codificam proteínas, deixando de fora enormes trechos de repetição que existem no DNA.

Mais rápido

A metodologia é rápida – em seis meses, as 50 espécies foram decifradas – e rápida. Nos cálculos de Rebelo, pode custar 20 vezes menos que um sequenciamento normal de genoma. O plano, diz o pesquisador, é ampliar e mapear tudo que existe na reserva de 31 mil hectares, onde já foram identificadas pelo menos 700 espécies de árvores. O sonho de Rebelo é maior: quem sabe um dia alcançar as 20 mil espécies vegetais que se estima existirem na Mata Atlântica.

Com base nesse material, fica mais fácil para cientistas investigarem moléculas com potencial interesse. Segundo David Canassa, gerente de Sustentabilidade da Votorantim, quatro substâncias, derivadas dessa pesquisa, já estão sendo investigadas nesse sentido.

O banco de dados genético é da empresa. Mas, segundo Canassa, a ideia é fazer parcerias e compartilhar os dados com outros pesquisadores e empresas. Se a quantidade de genomas for ampliada como se espera, serão necessários muitos braços para analisar tudo. Ele afirma que ainda não está definido como será feito o uso de todo o banco, mas diz que a empresa não descarta torná-lo público.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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