Caio Blinder: narrativa de ataque a boate é conduzida segundo agenda política

  • Por Jovem Pan
  • 13/06/2016 08h25
EFE Omar Mateen - EFE

O correspondente Jovem Pan em Nova Iorque Caio Blinder analisou os efeitos políticos do atentado que matou 50 pessoas em uma boate gay em Orlando, Flórida.

Blinder considera que cada inclinação política leva a narrativa do massacre para a sua agenda. Os mais conservadores destacam o terror islâmico nos atos realizados por Omar Mateen, americano de Nova Iorque e ascendência afegã. Já grupos liberais destacam a causa da homofobia envolvida nos tiros.

Sobre as consequências políticas, Blinder destaca que o atentado poderia ajudar o republicano Donald Trump a curtíssimo prazo, dado seu poder de canalizar em demagogia o sentimento de medo popular. Mas as eleições ainda estão longe (serão em 8 de novembro), então os efeitos do maior massacre a tiros nos EUA podem ter vertentes mais complexas.

A questão da segurança nos Estados Unidos também deve ser questionada. Mateen havia sido questionado pelo FBI em duas ocasiões: 2013 e 2014. Semana passada, com a ficha limpa, o homem de 29 anos comprou duas armas. Apesar de a pergunta “onde a segurança falhou?” ser levantada, Blinder destaca que é impossível prender todos as pessoas com discursos de ódio em uma rede social, por exemplo.

Questão islâmica e homofóbica

Questionado por Marco Antonio Villa se os fundamentos da religião islâmica têm condições de conviver no mundo ocidental, Blinder avaliou que “a questão é política”.

Ele relembrou gesto do então presidente George W. Bush depois dos atentados de 11 de setembro de 2001. Seis dias após os ataques às torres gêmeas, Bush foi ao centro islâmico de Washington. Não vamos decretar uma guerra contra uma religião, declarou ele à época.

Blinder destaca que a ajuda de pessoas dessa religião é necessária para se combater os extremistas infiltrados na própria. Você não vai derrotar o terror islâmico sem a cooperação dos países islâmicos e dos próprios muçulmanos, enfatizou.

Blider grifou o “componente de apelo dantesco” no discurso de grupos radicais como o Estado Islâmico, a quem Omar Mateen jurou fidelidade para justificar seu assassinato coletivo também motivado pela homofobia.

O correspondente lembrou que os trechos do alcorão usados para justificar atos de terror são pinçados e descontextualizados. Ele avalia, entretanto, que a religião ainda não passou por uma reforma para conviver no mundo contemporâneo.

A posição do islamismo em relação à homossexualidade é uma posição virulenta, avaliou. O correspondente ressaltou ainda que no Brasil também tem grupos que se dizem evangélicos e vocalizam discursos de intolerância. Mas estes não chegaram a pegar em armas.

Blinder concluiu que o mundo ainda não tem uma resposta para todas as questões envolvidas no ataque. Mas opina que o caminho político não é se estabelecer uma guerra à religião, ou novas “Cruzadas”.

“O mundo não tem a resposta, só tem o espanto”, concluiu o âncora da Jovem Pan Joseval Peixoto ao se despedir de Nova Iorque.

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