Cuba se despede de 2014 com reformas lentas, mas avanços internacionais

  • Por Agencia EFE
  • 10/12/2014 17h50

Soledad Álvarez.

Havana, 10 dez (EFE).- Cuba termina 2014 implementando reformas a passos lentos e enfrentando desafios como a unificação monetária e o investimento estrangeiro, mas que mesmo assim renderam resultados na inserção internacional da ilha, como o início das negociações com a União Europeia para a normalização das relações.

O ano que se encerra foi um dos mais complexos na “atualização” do socialismo cubano, um processo de abertura econômica controlada e tímida descentralização administrativa que, no entanto, não se traduziu em melhoras substanciais nem nas contas do país comunista nem nos combalidos bolsos de seus habitantes.

Cuba se despede de 2014 com um aumento de seu Produto Interno Bruto (PIB) de 1,3%, quase um ponto abaixo da previsão inicial do governo, que reconhece uma “desaceleração” econômica, embora espere superá-la em 2015 com uma meta de crescimento de 4%.

Para cumprir esse objetivo, será decisivo o processo para acabar com a dualidade monetária que existe na ilha há décadas e que é um dos maiores impedimentos para sua economia, embora ainda se desconheça a data do “marco zero” para essa unificação, cujo cronograma se iniciou neste ano.

Cuba espera com expectativa os resultados de sua nova lei de Investimento Estrangeiro, aprovada em março, que deu mais vantagens tributárias para as empresas estrangeiras e a possibilidade de investimento em quase todos os setores econômicos, embora com a advertência de que não se trata de “vender o país”.

O mesmo país que, após o triunfo a revolução castrista, em 1959, nacionalizou as empresas estrangeiras, reconhece agora que necessita de US$ 2 bilhões ao ano para alcançar um crescimento sustentável e admite que o capital estrangeiro deve desempenhar um papel importante no desenvolvimento da ilha.

Um dos eixos dessa política é a Zona de Desenvolvimento Especial do Mariel, onde em janeiro foi inaugurado um moderno terminal portuário financiado por empresas brasileiras, via empréstimo do BNDES. Até o momento, no entanto, não se sabe a quantidade de companhias interessadas em investir ou se Cuba já aprovou outro projeto na região.

Uma área que realmente deu frutos na atualização realizada pelo presidente Raúl Castro foi o setor internacional. Cuba começou 2014 com um grande apoio da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

Realizado em Havana, o fórum confirmou a plena inserção de Cuba na América Latina com a participação de quase todos os presidentes do bloco e do secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), José María Insulza. Esta foi a primeira visita de um responsável da organização desde 1959. A OEA suspendeu Cuba do organismo em 1962.

Em 2014, a ilha e a UE começaram a negociar um acordo para normalizar uma relação bilateral condicionada desde 1996 pela chamada “posição comum”, que atrelou o diálogo a avanços democráticos e em direitos humanos.

Durante o ano que termina, Cuba também renovou sua aliança com antigos e estratégicos parceiros, como China e Rússia, cujos presidentes, Xi Jinping e Vladimir Putin, respectivamente, visitaram o país caribenho em julho.

Com a China, segundo parceiro comercial da ilha, Cuba assinou cerca de 30 acordos para impulsionar os laços bilaterais até “novas alturas”, enquanto a visita de Putin a Havana serviu para relançar as relações da Rússia com seu sócio mais antigo na América Latina. Além disso, a Rússia perdoou 90% da dívida que a ilha contraiu com a extinta União Soviética.

Em meio a este cenário, em 2014 ressurgiu o debate interno nos Estados Unidos sobre sua política em relação a Cuba, com várias vozes a favor de uma normalização das relações de dois países que se opõem há mais de meio século. O jornal “The New York Times” chegou a dedicar uma série de editoriais sobre a ilha e pediu abertamente o fim do embargo.

Em maio, cerca de 50 personalidades americanas de diferentes tendências políticas pediram ao presidente Barack Obama medidas para ampliar “as mudanças já em andamento” na relação com Cuba.

A ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, recomendou a Obama relaxar o embargo econômico, porque a medida não estava “conseguindo seus objetivos”, segundo revelou em suas memórias.

Sinais interpretados como um possível degelo nas relações e que fazem os olhos estarem atentos para a próxima Cúpula das Américas, que será realizada no Panamá em 2015, com a expectativa de que Cuba participe do fórum pela primeira vez.

Alguns observadores acreditam que Obama decidirá antes do fim de seu segundo mandato retirar Cuba de sua lista de países patrocinadores do terrorismo, principalmente em função da ilha ser a sede e mediadora das conversas de paz da Colômbia, processo que completou dois anos com avanços na tentativa de pôr fim ao conflito armado mais antigo do continente.

Mas na direção do diálogo entre Cuba e EUA ainda existem obstáculos como o caso de Alan Gross, americano condenado na ilha a 15 anos de prisão por “atividades subversivas” e que está detido há cinco anos no país caribenho.

Em várias ocasiões, Havana expressou sua disposição para dialogar com Washington sobre uma solução humanitária para Gross e os três agentes cubanos presos nos Estados Unidos, mas a Casa Branca afirma que os casos não são equiparáveis.

Um ponto em comum, no entanto, é a luta contra o ebola: Havana recebeu vários elogios internacionais, inclusive de Washington, pelo envio de mais de 260 profissionais de saúde para os países africanos mais afetados pela epidemia. EFE

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