Disputas entre Hamas e ANP deixam Gaza sem eletricidade durante onda de calor

  • Por Agencia EFE
  • 12/08/2015 15h59

Saud Abu Ramadán

Gaza, 12 ago (EFE).- A população de Gaza tenta escapar da sufocante onda de calor que atinge a região entrando no mar ou saindo de suas casas durante a noite em busca de uma pequena brisa, já que além das altas temperaturas os cidadãos ainda enfrentam uma grave crise elétrica, com falta de luz de até 20 horas por dia.

“Quase não temos quatro horas de eletricidade por dia e durante a onda de calor, estivemos até 18 horas sem luz”, se lamenta o residente da capital Gaza Sari Abu Ghalyun, de 25 anos.

Como muitos outros, Ghalyun culpa pelos cortes elétricos as disputas entre o movimento islamita Hamas, que governa na Faixa, e o nacionalista Fatah, que controla a Autoridade Nacional Palestina (ANP) e governa na Cisjordânia, além de ser liderado pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas.

“Por culpa de suas brigas, o povo de Gaza está pagando um preço muito alto e o sofrimento cresce”, denuncia.

Segundo a Corporação de Energia de Gaza (CEG), a Faixa necessita de 320 megawatts de eletricidade por dia, mas a única central elétrica produz somente 65, aos quais se somam 120 que são comprados de Israel e outros 22 procedentes do Egito, o que deixa o enclave litorâneo com 40% de suas necessidades sem cobertura.

Os cortes começaram em junho de 2006, quando a aviação israelense bombardeou a usina elétrica de Gaza em represália pela captura do soldado Gilad Shalit, que permaneceu cinco anos detido na Faixa.

A crise elétrica piorou após o Hamas tomar, através da força, o controle do território em 2007, após ganhar as eleições do ano anterior e o fracasso do governo de unidade estabelecido com o Fatah.

Desde então, Israel considera Gaza uma “entidade hostil”, por isso que impôs um severo embargo que impede a entrada e saída livre de pessoas e produtos, incluído o combustível.

Os desacordos entre Fatah e Hamas agravaram a situação até chegar a um extremo, em 20 de julho, quando a CEG apagou quatro turbinas da usina elétrica por falta de combustível.

Dias depois, chegou uma onda de calor que levou à região temperaturas insuportáveis. A grande maioria dos moradores teve que fazer frente ao calor sem geladeiras e nem, certamente, ar condicionado.

Nesse mesmo dia expirou um acordo de quatro meses entre a Autoridade Palestina e o Hamas para fornecer à Gaza combustível comprado em Israel, que o Hamas paga através dos impostos e tarifas elétricas cobradas dos 1,8 milhão de habitantes do enclave.

A ANP era responsável pelo pagamento de 40% dos impostos que Israel aplica sobre o combustível, mas agora esta se nega a seguir pagando e o Hamas assegura que não pode fazer frente a esse custo.

Antes de expirar o acordo, as casas desfrutavam de 16 horas de eletricidade por dia, com cortes longos de cerca de 8 horas.

Mas a falta de acordo entre o governo de Gaza e a ANP supôs um aumento de 25% dos cortes e deixou a provisão reduzida a 12 horas por dia.

A onda de calor trouxe temperaturas de 47 graus centígrados, que durante a noite baixavam para 40, o que levou a um aumento do consumo que provocou erros técnicos no final de julho em duas das quatro seções da usina elétrica em funcionamento, o que reduziu a quatro horas a provisão às casas.

A grave situação reduziu a mínimos a atividade na Faixa, deixando suas ruas totalmente escuras durante a noite e os semáforos sem funcionamento, o que piorou o já caótico tráfego.

Nos bairros mais povoados, os moradores saem às ruas durante a noite para escapar do insuportável calor do interior de suas casas e, os que podem, vão às praias para desfrutar de um pouco de brisa do mar.

Os que não podem comprar geradores elétricos fazem curiosos ajustes para conseguir carregar os celulares ou ter luz com as baterias das motocicletas.

Ao cair a noite, os comércios fecham suas portas para não terem de pagar um alto custo pela luz.

Os hospitais e centros de saúde de emergência têm eletricidade 24 horas por dia graças a geradores elétricos que funcionam com combustível doado pela União Europeia e a ONU e, alguns, desfrutam de energia solar instalada por ONGs.

“Não podemos nos permitir comprar combustível de Israel com esses impostos”, disse à Agência Efe Ahmed Abu Alamrien, diretor de informação da CEG.

“A miséria e a tortura da população de Gaza é ilegal e inaceitável”, escreveu em sua página do Facebook o ativista de direitos humanos Mustafá Ibrahim.

Mais irônico foi o jornalista Mohammed Goga. “Gaza tem todas as correntes: a corrente islâmica, a corrente secular, a corrente comunista, mas não temos corrente elétrica”.

O porta-voz do Hamas em Gaza, Fawzi Barhum, acusa a ANP pelos cortes elétricos, “um ato desumano e um grande pecado que está agravando o sofrimento do povo”. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.