“Existe vida em um país em guerra”, diz autora de livro que retrata romance na Síria

  • Por Jovem Pan
  • 14/12/2017 17h47 - Atualizado em 14/12/2017 17h55
Reprodução/Youtube Mello revelou que, assim como muitas pessoas no mundo, o fato que despertou sua atenção para a Síria foi a imagem do menino Aylan Kurdi

É possível existir amor em um país que vive a guerra? A jornalista especializada em cobertura de conflitos Patrícia Campos Mello, convidada do programa Perguntar Não Ofende desta semana, mostrou que sim no livro “Lua de mel em Kobane”. A obra aborda justamente o romance improvável de um casal em meio à guerra da Síria.

Segundo a autora, foram dois anos de trabalho e mais de 50 horas de entrevistas com o casal e pessoas ligadas a eles para criar uma obra que surgiu com um pouco de sorte. Ela contou que chegou a Barzan e Raushan após uma matéria que iria fazer não dar certo e ter a necessidade de um fixer (jornalista local que auxilia o profissional estrangeiro em matérias). E, por acaso, este fixer era Barzan.

“Eu estava sem e me indicaram: “olha, tem uma pessoa que é um cara legal, já fez umas matérias sobre o Estado Islâmico, ele é de lá”. E aí, por acaso, quando ele foi me receber, era ele, o Barzan, que estava com a mulher”, disse.

“Na fronteira da Síria com o Iraque, (…) é um barquinho, que você atravessa o rio Tigre, clandestino, você não tem um visto, e eles estavam me esperando do outro lado em um carro. Todos os carros da Síria são mais ou menos destruídos, ele estava sentado, ela estava sentada do lado, super bonita, bem magra, e tinha um gatinho no colo, em cima de um jornal, e no meio do carro eles tinham um fuzil Kalashnikov e uma garrafa térmica de café”, completou a jornalista, detalhando a cena marcante que foi o seu primeiro encontro com o casal.

Mello revelou que, assim como muitas pessoas no mundo, o fato que despertou sua atenção para a Síria foi a imagem do menino Aylan Kurdi. A criança de três anos que foi encontrada morta na praia de Bodrum, na Turquia, e comoveu o planeta. Milhares de crianças como aquela morreram, mas não foram fotografados e, de acordo com ela, foi necessária aquela foto para que o mundo voltasse os olhos para a gravidade da crise dos refugiados.

“Quando ele morreu, Aylan Kudi estava em um bote com a mãe, o pai e o irmãozinho, que era pequeno e também morreu. Somente o pai sobreviveu. Então minha motivação é assim: de que horror você está fugindo para você decidir colocar os seus filhos pequenos num bote que você sabe que tem grandes chances de afundar? Eles estavam vendo que tinha muita gente morrendo. Então, tem que ser um horror tão grande pra justificar…”, explicou.

No livro, a autora revela que foi até a Síria pensando em encontrar uma guerra horrível, pessoas morrendo e uma grande selvageria. De fato, isso existia. Mas em um país em guerra, também existe vida.

“Existe também várias pessoas levando a vida normalmente. Tentando. No meio de tudo aquilo que está acontecendo, elas se apaixonam, elas vão no supermercado, elas têm filhos, e isso é incrível. Como é que elas conseguem continuar com as vidas no meio de tudo aquilo que tá acontecendo, no meio de toda aquela guerra.? (…) Eu não consigo nem pensar como é que seria morar em um país daquele jeito, porque eu não tenho metade da coragem deles”, contou.

Confira a entrevista completa da jornalista Patrícia Campos Mello.

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