Extensão da detenção de Gerry Adams enfurece partido da Irlanda do Norte

  • Por Agencia EFE
  • 04/05/2014 22h59

Javier Aja

Dublin, 2 mai (EFE).- O partido Sinn Féin se mostrou disposto nesta sexta-feira a “reavaliar” seu apoio à polícia da Irlanda do Norte (PSNI) se a corporação apresentar acusações contra seu presidente, Gerry Adams, pelo assassinato de uma mulher católica cometido pelo já inativo Exército Republicano Irlandês (IRA) em 1972, o que seria uma grave crise ao processo de paz.

Essa formação, antigo braço político do IRA, fez a ameaça depois que foi confirmado que a PSNI solicitou a um juiz uma permissão para estender o período de detenção de Adams, que está sendo interrogado desde quarta-feira em uma delegacia de polícia de Antrim, ao norte de Belfast, em relação a esse crime.

Após ser cumprido o período de detenção máximo de 48 horas, as forças de ordem, que por enquanto não apresentaram acusações, tinham que pedir uma prorrogação a um tribunal, que pode conceder até 28 dias a mais de acordo com a lei antiterrorista do Reino Unido.

O “número dois” do Sinn Féin e vice-ministro principal norte-irlandês, Martin McGuinness, assegurou hoje que nem ele e nem seus correligionários vão tomar uma decisão “superficialmente”, mas advertiu que “farão uma reflexão” sobre sua política de apoio à PSNI se no final houver uma acusação contra Adams de algum delito relacionado com esse caso.

Após a assinatura do acordo da Sexta-Feira Santa (1998), que pôs fim a quase 30 anos de conflito armado, o processo de paz norte-irlandês avançou com dificuldades pelas reservas do Sinn Féin para reconhecer a autoridade da polícia e do sistema judiciário da província.

Quando finalmente o partido deu esse significativo passo em 2007, as bases se sentaram para que a formação republicana e o majoritário Partido Democrático Unionista (DUP), liderado então pelo reverendo Ian Paisley, decidissem formar no ano seguinte um governo de poder compartilhado.

McGuinness pediu hoje que os republicanos “mantenham a calma”, mas lembrou que a formação “pensará” e “reavaliará” sua posição com relação à PSNI se Adams for acusado em relação com o citado assassinato.

Jean McConville, de 37 anos, viúva e mãe de 10 filhos, foi tirada à força de seu domicílio de Belfast por membros do IRA e executada por espionar para as forças de segurança britânicas, uma acusação que era falsa.

Seu corpo foi depois enterrado em uma praia do condado irlandês de Louth, na fronteira com o Ulster, mas não apareceu até 2003, quatro anos depois que o IRA reconheceu publicamente sua autoria e deu pistas sobre seu paradeiro.

Adams, que negou seu envolvimento nesse crime e o qualificou de “injustiça”, se apresentou voluntariamente em uma delegacia de polícia de Antrim, ao norte de Belfast, há dois dias para se reunir com a PSNI, para depois ser detido.

Desde então, o Sinn Féin acusou setores da PSNI e elementos radicais do unionismo da província britânica de “manobrar politicamente” para prejudicar a formação perante as eleições locais e europeias deste mês.

Pesos pesados da formação como sua vice-presidente, Mary Lou McDonald, e McGuinness, ex-comandante do IRA, asseguraram que “elementos sinistros” na PSNI estão conspirando com “inimigos do processo de paz” para entorpecer a via democrática.

Londres e Dublin reconheceram hoje as dificuldades que a detenção do presidente do Sinn Féin poderia criar para o processo de paz na Irlanda do Norte, mas defenderam a atuação das forças da ordem.

A ministra britânica para a Irlanda do Norte, Theresa Villiers, disse que o primeiro-ministro, o conservador David Cameron, e ela mesma estão “preocupados”.

Há meses, questões como o legado do passado, as bandeiras e os desfiles protestantes mantêm os partidos divididos, e em dezembro eles rejeitaram uma proposta de acordo apresentada após negociações maratonistas pelo ex-diplomata americano Richard Haass.

Às tensões criadas por esses assuntos, que se traduzem em algumas ocasiões em sérios enfrentamentos de rua, é preciso acrescentar a atividade dos grupos escindidos do IRA, opostos ao processo de paz, cuja ameaça é classificada de real por Londres.

“Por isso peço que todos reajam com calma. Ainda restam problemas para resolver, aconteça o que acontecer”, disse Villiers em relação à detenção de Adams. EFE

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