Guantánamo, a prisão que proíbe greves de fome

  • Por Agencia EFE
  • 28/03/2014 10h04

Raquel Godos.

Base Naval de Guantánamo (Cuba), 28 mar (EFE).- Uma jarra de azeite de oliva e um grude com sabor de baunilha esperam na mesa metálica: são o sustento que a equipe médica da prisão de Guantánamo introduz pelo nariz dos detidos cujas vidas, segundo sua opinião, correm risco por causa da greve de fome que mantêm.

O chefe do hospital militar da prisão, que prefere manter anonimato, percorre todos os cantos do hospital explicando à Agência Efe e ao jornal “Miami Herald” como funciona cada dependência: a sala de cirurgia, o laboratório, a sala de raios X.

A penúltima parada é uma cadeira com amarras, sobre a qual o médico explica como alimentam os presos através de um tubo.

“Explicamos quase no final porque costuma roubar toda a atenção de vocês (…) Mas isso só acontece por razões médicas. Somente quando sentimos que o detido está em perigo” por falta de nutrição, explicou.

Segundo o médico, antes de começar o procedimento, em todas e em cada uma das vezes, as enfermeiras e os praticantes perguntam aos detidos se não preferem comer voluntariamente antes de serem entubados, ou ingerir o equivalente calórico de que precisam bebendo um composto preparado.

Se a resposta é não, já sabem qual é o passo seguinte. “Muitos deles optam por ingeri-lo. É simplesmente o mesmo suplemento que dariam a qualquer um após ter passado um longo período de tempo no hospital sem poder comer”, declarou.

Apesar das greves de fome serem uma prática comum na prisão de Guantánamo ao longo dos anos, os números oficiais de presos alcançaram números recorde no verão passado, chegando aos 106 indivíduos em greve e aos 46 alimentados de maneira artificial segundo o próprio corpo militar. Alguns inclusive tiveram que ser hospitalizados.

Na visita da Agência Efe às instalações da prisão, tudo parece mais calmo e, embora os oficiais optem por dar dados concretos sobre o número de procedimentos de entubagem que fizeram no último mês, um grande número de detidos deixou de se proclamar em greve de fome.

Minutos depois aparecem três jovens enfermeiros: dois homens e uma mulher. Nenhum chega aos 30 anos, e todos já alimentaram por tubos ao menos um dos 154 presos que ficam na penitenciária.

“Há alimentados VIP”, explicou ela, em referência aos que não mostram nenhuma oposição à entubagem e podem inclusive ver um filme ou jogar videogame enquanto se completa o processo alimentício.

“Podemos saber quem são os que vão se opor mais. Conhecemos seus comportamentos”, acrescentou um dos jovens, que não tem permissão para dizer quais são os critérios para considerar que um dos detidos deve passar a ser alimentado de forma artificial mas, segundo sua experiência, “99% se comportam amigavelmente”.

Dependendo do estado e do metabolismo de cada um dos indivíduos, a ingestão através do tubo se alarga mais ou menos, e dependendo do nível de desnutrição, eles são submetidos ao processo uma ou duas vezes ao dia, acrescentou a jovem. Nunca três.

“Nós decidimos cuidar deles”, disse um dos oficiais em referência à decisão do governo americano de nutri-los embora seja contra sua vontade, apesar de algumas organizações internacionais denunciaram que estas práticas violam os direitos humanos.

Os membros da equipe médica do presídio sentem que o trabalho faz parte de sua obrigação por zelar pela vida dos detidos. Os presos, no entanto, acham que seu direito ao protesto não é respeitado.

Seja como for, o que fica claro é que em Guantánamo ninguém pode morrer de fome. EFE

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