IPCA-15 e IBC-Br mostram economia frágil e colocam alerta sobre recuperação em 2016

  • Por Reuters
  • 19/06/2015 14h45
Marcos Santos/USP Imagens Economia

A economia brasileira entrou em uma bola de neve de atividade cada vez mais debilitada e inflação nas alturas, quadro de fragilidade que vem levando especialistas a piorarem repetidamente suas expectativas e a colocar em xeque a recuperação esperada para 2016.

Num intervalo de meia hora nesta manhã, foram divulgados dados sobre atividade e preços que reforçaram a cena sombria do país, que também vive um momento de forte fraqueza no mercado de trabalho.

O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), espécie de sinalizador do Produto Interno Bruto (PIB), mostrou que a economia do país iniciou o segundo trimestre com contração pior do que o esperado, de 0,84 por cento, em abril sobre março.

O número é resultado da fraqueza disseminada entre os setores da economia, que sucumbem à persistente confiança baixa tanto de empresários quanto de consumidores. A produção industrial registra queda após queda e o varejo, outrora ponto forte, vem fraquejando a cada mês.

“Isso tudo coloca 2016 em alerta. Dificulta a economia se recuperar no ano que vem, porque afeta com muita força o mercado de trabalho, arrebenta com as finanças públicas e com isso as expectativas vão se deteriorando, tanto de atividade quanto de inflação”, destacou o economista-chefe do Banco Fator José Francisco Gonçalves, que projeta contração do PIB de 1,7 por cento neste ano e crescimento de apenas 0,2 por cento em 2016.

A atividade econômica fraca não vem sendo o suficiente para conter a alta dos preços, que marca recordes sucessivos.

Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) –prévia da inflação oficial do país– subiu 0,99 por cento, a maior taxa para esse mês em quase duas décadas e bem acima do esperado.

“Estamos à mercê de choques. Existe uma reunião de choques que surpreendem consistentemente para cima”, disse o economista do Banco Pine, Marco Caruso, sobre a alta dos preços.

O mercado de trabalho tem mostrado deterioração desde o início do ano. Somente em maio, o Brasil fechou 115.599 vagas formais de trabalho segundo o Ministério do Trabalho, o pior resultado para esse mês em 23 anos.

O BC já destacou a necessidade de “determinação e perseverança” no combate à alta dos preços, mas a enxurrada recente de dados ruins vem levando os especialistas a revisarem constantemente seus números para este ano.

REAÇÃO

A resposta do governo para a alta inflação apesar da atividade econômica fraca tem sido por meio de apertos, tanto fiscal quanto de política monetária. O BC vem elevando a Selic desde outubro passado, para os atuais 13,75 por cento, enquanto o governo corta gastos públicos.

Ainda assim, as expectativas para a inflação neste ano já estão ao redor de 9 por cento, e “o viés de revisão é claramente de alta” segundo nota do Banco Fator assinada pelo economista-chefe, José Francisco Gonçalves.

O mercado futuro de juros passou a apontar nesta sessão que a taxa básica de juros pode chegar a 14,75 por cento ao fim do atual ciclo de aperto monetário, mesmo nível considerado por alguns economistas.

“A persistência da inflação e a intensificação das pressões inflacionárias na margem levaram a política monetária decisivamente na direção de outra alta de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião de julho do Copom, com provavelmente mais em setembro”, avaliou o diretor de pesquisa econômica do Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos.

Ele projeta o IPCA acima de 8,7 por cento ao longo de 2015, tendo revisado a expectativa de contração do PIB no segundo trimestre para 1,25 por cento sobre o anterior, contra queda de 1,0 por cento antes, após a divulgação do IBC-Br.

Para Caruso, do Banco Pine, a continuidade do ajuste é necessária e faz parte do processo piorar antes de o país apresentar sintomas de melhora.

“É um processo doloroso e faz parte antes de a inflação desacelerar vermos piora do emprego e da atividade”, disse ele, que elevou recentemente a perspectiva para a Selic de 14 por cento para 14,75 por cento.

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