Mais diversificado, novo parlamento turco encara desafio de formar governo

  • Por Agencia EFE
  • 23/06/2015 15h04

Ancara, 23 jun (EFE).- O parlamento turco mais diversificado e o primeiro, desde 2002, que não conta com maioria absoluta do islamita Partido de Justiça e do Desenvolvimento (AKP), foi constituído nesta terça-feira com o desafio de formar um governo em um mês e meio ou convocar eleições antecipadas.

A primeira sessão do parlamento eleito nos pleitos do dia 7 de junho foi aberta pelo deputado mais velho, o social-democrata Deniz Baykal, de 77 anos, que ressaltou a importância da cooperação dos quatro partidos no plenário.

“Este parlamento só pode funcionar se dermos as mãos. Após um longo período do governo de um só partido, a nação enviou uma mensagem de reconciliação. Já não existem as condições de polarização anterior”, disse o deputado, antigo líder do Partido Republicano do Povo (CHP), o maior da oposição.

O CHP obteve 132 cadeiras das 550 disponíveis, enquanto 258 ficaram com o islamita AKP e 80 com o nacionalista MHP, mesmo número alcançado pelo esquerdista e pró-curdo HDP.

Esta repartição obriga o AKP a fazer um pacto com qualquer um dos outros partidos ou formar um governo tripartite que reúna todas as formações opositoras.

“Não devemos entender esta estrutura do parlamento como um obstáculo para formar governo. Pode ser uma oportunidade para uma democracia participativa”, sugeriu Baykal.

O deputado também ressaltou a importância do laicismo que, considerou, “voltou a ser descoberto com o desenvolvimento dos eventos na Turquia e nas guerras ao redor” e pediu que a política não seja politizada e que não seja permitido que organizações religiosas dominem as estruturas do Estado.

Se não for estabelecido um Executivo, pode haver certa incerteza política em um momento no qual a economia turca perdeu impulso e quando dois de seus vizinhos do sul, Síria e Iraque, estão imersos em sangrentas guerras civis.

A Turquia conta com um passado de coalizões frágeis que geraram várias crise de governo nos anos 70 e 90, razão pela qual a capacidade do parlamento para formar ou não um Executivo estável determinará o futuro imediato do país.

Após o discurso de Baykal começou a cerimônia de juramento que deve se estender até o fim desta quarta-feira.

O novo parlamento tem o maior número de mulheres na história da Turquia: 98 deputadas, 18% do total, e 20 a mais do que na legislatura anterior.

Além disso, o plenário se rejuvenesceu, com uma média de idade de 50 anos, dois a menos que o anterior, e é o mais diverso da história do país em termos étnicos e religiosos.

Pela primeira vez em 55 anos há parlamentares armênios, e não um, mas três: tanto o AKP como o CHP e o HDP incluem em suas fileiras um deputado desta minoria cristã, à qual pertencem cerca de 50 mil pessoas na Turquia.

E pela primeira vez desde que foi fundada a República em 1923, há um parlamentar de etnia cigana, membro do CHP, assim como uma deputada de fé yazidi, esta nas listas do HDP.

A representante yazidi, Feleknas Uca, não é uma recém-chegada à política: nascida em uma família de imigrantes curdos na Baixa Saxônia, foi eurodeputada alemã entre 1999 e 2009.

Também está presente a minoria cristã siríaca (aramaica), que tem um deputado nas fileiras do HDP.

O nacionalista MHP é o único partido que não conta com nenhum representante de uma fé distinta à muçulmana.

Outra prova de diversidade foi apresentada por uma das deputadas mais jovens, que por motivo de idade fazia parte da presidência colegiada interina da câmara, Dilek Öcalan, sobrinha do fundador e ainda líder da guerrilha do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), Abdullah Öcalan.

A presidência colegiada, liderada por Baykal, se dissolverá quando for eleito o novo presidente do parlamento, um processo que começará no próximo dia 28.

O eleito para esse cargo, para o qual é possível apresentar candidaturas até sábado, deve ser nomeado até 2 de julho.

A partir de 2 de julho, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, encarregará o primeiro-ministro interino, Ahmet Davutoglu, como líder do partido mais votado, da formação de governo, mas, se não conseguir fechar um pacto, será a vez de Kemal Kiliçdaroglu, do CHP.

Se ninguém alcançar um acordo de governo em 45 dias, a contar a partir de 2 de julho, o presidente deverá convocar novas eleições, que podem ser realizadas na segunda metade de novembro. EFE

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