Em carta de suicídio, Alan García fala sobre ‘injustiça’ de ser preso e diz que ‘não houve propina’

  • Por Jovem Pan
  • 19/04/2019 14h13 - Atualizado em 19/04/2019 14h16
EFE

O ex-presidente peruano Alan García, que cometeu suicídio na última quarta-feira, 17, deixou uma carta na qual afirmou não querer sofrer a “injustiça” de ser preso sob acusação de participar de um escândalo de corrupção. Ele é investigado por receber propinas da empreiteira brasileira Odebrecht em contratos do Metrô de Lima, capital do Peru.

Na carta, García diz que já cumpriu sua “missão”, e se refere a si mesmo em terceira pessoa.

“Vi outros desfilarem algemados, guardando a sua miserável existência, mas Alan García não tem porque sofrer essa injustiça e esse circo, por isso deixo aos meus filhos a dignidade das minhas decisões, aos meus companheiros um sinal de orgulho, e o meu corpo como uma amostra do meu desprezo aos meus adversários, porque já cumpri a missão que me impus”.

A carta foi lida por Luciana García Nores, uma das filhas do político, no funeral realizado em Lima, na sede do Partido Aprista Peruano (PAP), do qual era o líder.

No texto,o ex-governante também declarou ter cumprido a missão de levar duas vezes ao poder a legenda.

García, que governou o Peru em dois mandatos, de 1985 a 1990 e 2006 a 2011, afirmou na carta que seus adversários políticos “optaram pela estratégia” de denunciá-lo durante mais de 30 anos, mas “jamais encontraram nada”.

“Neste tempo de boatos e ódios repetidos que as maiorias acreditam ser verdadeiros, vi como são usados os procedimentos para humilhar, e não para encontrar verdades”, enfatizou.

“Por muitos anos me coloquei acima dos insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que Alan García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem provar as suas calúnias”, acrescentou.

O político garantiu que “não houve, nem haverá contas, nem propinas” e que “a história tem mais valor que qualquer riqueza material”.

“Nunca poderia haver preço suficiente para quebrar o meu orgulho de aprista e de peruano, por isso repeti: outros se vendem, eu não”, frisou.

Milhares de pessoas, entre elas políticos e autoridades, velaram o corpo de García, que tinha 69 anos. A família do político preferiu que a cerimônia fúnebre não tivesse honras oficiais.

Depois da leitura da carta, o filho mais novo de García, Federico Danton, de 14 anos, assinou sobre o caixão do pai o documento que o inscreveu como militante do Partido Aprista.

Nascido em Lima no dia 23 de maio de 1949, Alan García se matou na última quarta-feira, com um tiro na cabeça, logo após um promotor e a polícia chegarem à sua casa para prendê-lo.

*Com EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.