Comissão aponta que somente 18,5% do acordo de paz com as Farc foi cumprido

  • Por Agência EFE
  • 12/02/2018 13h13
Andrés Valle/ Presidência Perú Andrés Valle/ Presidência Perú "O Governo só tramitou 12 das 34 medidas acordadas para o primeiro ano do processo de paz", denunciou o coordenador do relatório

A Comissão Internacional de Verificação dos Direitos Humanos na Colômbia denunciou nesta segunda-feira em um relatório que somente 18,5% do acordo de paz assinado em setembro de 2016 entre o Governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) foi cumprido.

“O Governo só tramitou 12 das 34 medidas acordadas para o primeiro ano do processo de paz”, denunciou o coordenador do relatório, Joaquín Sánchez, durante uma entrevista coletiva realizada no Parlamento Europeu.

O documento, que foi elaborado após uma visita à Colômbia em março de 2017, contou com a participação de representantes de partidos políticos e organizações sociais da Alemanha, Bélgica, Itália e Espanha.

“Só foi cumprido 5% da reforma rural integrada; 19% no relativo à participação política e 33% do prometido sobre o fim do conflito”, denuncio Sánchez, que destacou que as Farc “estão cumprindo com o cessar-fogo”.

As Farc anunciaram neste fim de semana que deixariam a campanha eleitoral devido à “ausência de garantias”, uma situação que, em palavras de Sánchez, “lembra à da União Patriótica, que foi praticamente exterminada por grupos paramilitares”.

Já o eurodeputado de Esquerda Unida (IU) Javier Couso, que também participou da elaboração do relatório, denunciou o “assassinato de mais de 80 ativistas sociais e sindicalistas em 2018”.

“A União Europeia (UE) tem um papel muito importante como acompanhante deste processo de paz e deve exigir do Governo da Colômbia que acabe com o paramilitarismo”, afirmou Couso, que considera que “há setores que estão fazendo o possível para que o processo de paz desande”.

Outro redator do relatório, o coordenador da Rede de Solidariedade Flamenga com a comunidade de paz de San José de Apartadó, Frans van Olmen, denunciou que, embora o acordo de paz “incluísse a devolução de terras por parte dos paramilitares aos seus legítimos donos”, apenas 20% tiveram início.

“A UE também tem que exigir a justificativa adequada do dinheiro de seu fundo fiduciário doado à Colômbia”, afirmou Van Olmen, que também criticou o papel das empresas europeias no país latino-americano como “geradoras de violência”.

O ativista flamengo indicou que “também nos preocupa a tendência das agências de cooperação a canalizar todos os fundos através do Governo colombiano, uma prática que demonstrou ser menos eficiente que oferecê-las aos agentes envolvidos”.

À apresentação do relatório também esteve presente um representante da comunidade de paz de San José de Apartadó, Germán Graciano, que denunciou que em 29 de dezembro sofreu uma tentativa de assassinato por parte do grupo paramilitares Autodefesas Gaitanistas da Colômbia.

“A paz que temos hoje em dia é só uma paz de palavra, não há sensibilidade por parte do Governo colombiano para parar a injustiça com a população civil e garantir que este conflito seja história”, afirmou Graciano.

As comunidades de paz como San José de Apartadó e outras são municípios declarados neutros no conflito entre as Farc e o Governo da Colômbia e que não aceitam a presença de guerrilheiros, militares nem paramilitares em seu território.

Segundo recolhe o relatório, os 52 anos de conflito armado entre as Farc e o Governo colombiano deixaram 20 mil mortos, 9 mil desaparecidos, 7,2 milhões de deslocados internos e 8,6 milhões de afectados.

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