O que se sabe até o momento sobre o caso do jornalista desaparecido na Turquia

  • Por Jovem Pan
  • 17/10/2018 18h13 - Atualizado em 17/10/2018 19h38
Reprodução/Facebook Imagens de câmeras de segurança mostram que o jornalista realmente entrou no prédio, porém autoridades turcas informam que não há registros de saída e suspeitam de seu assassinato dentro do próprio local. Os sauditas negam, afirmando que ele saiu do prédio, mas não apresentaram nenhum tipo de prova.

O jornalista saudita Jamal Khashoggi está desaparecido desde o dia 2 de outubro, após entrar no consulado de seu país em Istambul, cidade da Turquia.

Khashoggi sempre foi muito crítico quanto à forma autoritária de governar do príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, apesar de ter uma relação muito próxima com a elite saudita e com os príncipes. Em 2017, ele se mudou para os Estados Unidos por temer por sua segurança.

No dia do desaparecimento, Khashoggi foi ao consulado saudita na Turquia para resolver questões burocráticas relacionadas ao seu casamento com a turca Hatice Cengiz. De acordo com a BBC, ele já havia comparecido no local, no dia 28 de setembro, para obter documentos de comprovação de seu divórcio com a ex-mulher, mas foi notificado que deveria retornar. Imagens de câmeras de segurança mostram que o jornalista realmente entrou no prédio, porém autoridades turcas informam que não há registros de saída e suspeitam de seu assassinato dentro do próprio local. Os sauditas negam, afirmando que ele saiu do prédio, mas não apresentaram nenhum tipo de prova.

O “The Washington Post” e o jornal turco “The Sabah”  indicam que há uma gravação de áudio detalhando o modo que Khashoggi foi interrogado e assassinado no dia de seu desaparecimento, dentro do seu consulado. O arquivo teria sido gravado por um Apple Watch e recuperado em um dos celulares deixados com sua noiva do lado de fora do prédio.

Um jornal pró-governo turco diz que teve acesso ao conteúdo do áudio e deu detalhes sobre o arquivo. Segundo a publicação “Yeni Safak”, o processo de tortura e assassinato de Khasshoggi teria sido realizado de forma horripilante.

O veículo informa que, minutos após sua entrada, o jornalista foi conduzido ao escritório do cônsul-geral e morto. Ainda segundo o relato, Khashoggi foi sedado e esquartejado, em um processo que teria durado cerca de 7 minutos.

O que não é conclusivo é se o cônsul al-Otaibi estava presente durante o assassinato. Segundo o “Wall Street Journal”, o diplomata presenciou o homicídio por ser o mais importante representante de Riad em Istambul. Porém, o portal “Middle East Eye”, que cobre as notícias do Oriente Médio, alegou que al-Otaibi deixou a sala antes do esquartejamento, tendo presenciado apenas a captura.

Ao perceber que seria morto, o jornalista teria começado a berrar em desespero, enquanto os agentes arrancavam seus dedos. Os gritos só teriam sido cessados após Khashoggi ter sido sedado.

Ainda de acordo com o “Middle East Eye”, o jornalista começou a ser cortado ainda vivo. E um dos responsáveis pelo homicídio teria sido o doutor Salah al-Tubaig, especialista em autópsias. Durante o ato, o doutor teria colocado fones de ouvido e escutado música, indicando o mesmo aos outros presentes na sala. “Quando eu faço este trabalho, eu escuto música. Vocês também deveriam”, teria dito al-Tubaig.

Ainda segundo a BBC, Khashoggi deu a sua noiva dois telefones celulares e pediu a ela que ligasse para um assessor do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, caso ele não voltasse, embora tivesse dito a amigos que foi tratado “muito cordialmente” na primeira vez. Hatice teria esperado mais de 10 horas fora do consulado, tendo retornado na manhã seguinte, mas ainda sem sinal do noivo.

Na última sexta-feira (12), autoridades sauditas se reuniram a oficiais turcos para iniciar a investigação do caso. Além disso, o presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos também estão envolvidos nas discussões acerca do paradeiro do jornalista. “Estamos sendo muito duros. E temos investigadores lá e estamos trabalhando com a Turquia e com a Arábia Saudita. Queremos descobrir o que aconteceu”, disse o presidente americano ao canal Fox News.

Nesta quarta-feira (17), Mike Pompeo, secretário de Estado americano, desembarcou na Turquia para tratar da questão com o presidente Erdogan. Ele já havia viajado para a Arábia Saudita para conversar com o rei Salman e o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman.

Detalhes do caso

A imprensa internacional vem, nos últimos dias, trazendo possíveis detalhes sobre o desaparecimento de Jamal Khashoggi.

A mídia turca e o “The Washington Post” – veículo do qual Khashoggi era colaborador – insistem no fato de que o jornalista foi assassinado no local, havendo provas ainda não divulgadas. Segundo os veículos, 15 sauditas viajaram a Istambul no mesmo dia do desaparecimento, em diferentes levas. Eles teriam frequentado o consulado em horário próximo ao da entrada de Kashoggi (cerca de 13h14) e teriam deixado o local em diferentes carros rumo ao aeroporto, onde havia um jato de uma empresa de Riad, capital saudita, esperando.

O “The Washington Post” e o jornal turco “The Sabah” ainda indicam que há uma gravação de áudio detalhando o modo que Khashoggi foi interrogado e assassinado no dia de seu desaparecimento, dentro do seu consulado. O arquivo teria sido gravado por um Apple Watch e recuperado em um dos celulares deixados com sua noiva do lado de fora do prédio.

A Arábia Saudita nega todas as acusações e reitera que o jornalista saiu do prédio, mesmo sem evidências. O Ministro do Interior do país chamou as informações de “mentiras e acusações infundadas contra o governo do Reino”. Já o presidente da Turquia desafiou o governo saudita a provar que Khashoggi realmente saiu do consulado.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou preocupação com o caso e exigiu que a “verdade” sobre o caso fosse divulgada. “Precisamos exigir que a verdade seja clara. Precisamos saber exatamente o que aconteceu e quem é o responsável, e, é claro, quando vemos a multiplicação de situações como essa, acho que precisamos encontrar maneiras para exigir a responsabilização”, afirmou Guterres.

 

 

 

 

 

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