Barroso intima Segovia para explicar declarações sobre investigação que atinge Temer

  • Por Jovem Pan
  • 10/02/2018 14h06 - Atualizado em 10/02/2018 14h35
Fellipe Sampaio / SCO / STF Luís Roberto Barroso Barroso (foto) vê a conduta de Segovia como "manifestamente imprópria" vê a possibilidade de "infração administrativa e até mesmo penal” na suposta pressão que o diretor-geral da PF teria feito

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso intimou o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, para explicar falas dadas durante entrevista à Agência Reuters em que disse não haver indícios de crime de corrupção praticado pelo presidente Michel Temer na investigação sobre o decreto dos portos. Barroso é o relator do caso no Supremo.

Segovia afirmou que a tendência é que o inquérito seja arquivado. Depois da reação negativa de classes como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Associação Nacional dos Delegados de PolÍcia Federal (ADPF), o diretor-geral da PF disse que apenas deu uma “opinião pessoal no final da entrevista” e negou que fosse uma tentativa de intervir no caso.

À TV Globo, Segovia disse, por telefone, que vai levar ao gabinete do ministro Barroso a transcrição da entrevista à Reuters, e vai alegar que suas declarações foram mal interpretadas pela imprensa.

Na intimação, Barroso vê a conduta de Segovia como “manifestamente imprópria e pode, em tese, caracterizar infração administrativa e até mesmo penal”. Além de intimiar Segovia, o ministro determinou que ele não fale mais publicamente sobre o caso, que ainda não recebeu relatório final.

O ministro do Supremo entende que as falas do chefe da PF podem caracterizar ameaça ao delegado responsável pelo caso, Cleyber Malta Lopes, e lembra que um policial federal deve ter “autonomia para desenvolver o seu trabalho com isenção e livre de pressões”.

Barroso também pede que o Ministério Público Federal, como órgão de controle externo das atividades policiais, também tome as providências “que entender cabíveis”.

Cleyber Lopes chegou a receber a recomendação da quebra de sigilo telefônico e fiscal de Temer e dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), também citados no inquérito, em relatório parcial da PF no fim do ano passado.

Uma investigação antiga, dos anos 2000, que apura uma suposta “caixinha” de R$ 600 mil a Michel Temer, foi anexada ao inquérito. Segovia também desmereceu o inquérito antigo na entrevista à Reuters. O chefe da PF disse que a investigação antiga “caiu por terra” duas vezes e “não se demonstra aproveitável para qualquer tipo de questionamento”.

“No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, disse Segovia à Reuters.

“No final a gente pode até concluir que não houve crime. Porque ali, em tese, o que a gente tem visto, nos depoimentos as pessoas têm reiteradamente confirmado que não houve nenhum tipo de corrupção, não há indícios de realmente de qualquer tipo de recurso ou dinheiro envolvidos. Há muitas conversas e poucas afirmações que levem realmente a que haja um crime”, afirmou o diretor-geral em outra parte da polêmica entrevista.

Questionado se o inquérito está próximo de ser concluído, Segovia afirmou: “acredito que em um curto espaço de tempo deve ter a conclusão dessas investigações”.

A investigação

O inquérito investiga a edição de um decreto pelo presidente que beneficiou empresas que atuam no porto de Santos. Temer assinou a nova lei em maio de 2017 e ampliou as concessões para companhias que já atuam no setor de 25 para 35 anos, prorrogáveis por até 70 anos.

Uma das empresas beneficiadas seria a Rodrimar, que teria feito lobby junto ao ex-assessor do presidente, Rodrigo Rocha Loures (MDB), que correu com a mala de dinheiro da JBS em outro caso.

A investigação foi aberta depois que interceptações telefônicas identificaram conversas suspeitas entre Rocha Loures e um diretor da Rodrimar, Ricardo Mesquita.

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