De Caetés ao Planalto; do Planalto à prisão: relembre a trajetória do ex-presidente Lula

  • Por Jovem Pan
  • 09/04/2018 08h40 - Atualizado em 09/04/2018 08h42
EFE/Sebastiao Moreira Em meio a tumulto e após "resistir" por dois dias cercado por apoiadores, Lula deixa sindicato dos metalúrgicos e se entrega à Polícia Federal em São Bernardo do Campo, em 7 de abril

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi preso neste sábado (7). Réu em sete processos – e condenado em segunda instância em um deles – o ex-presidente da República viu sua história na política acabar na prisão. O petista é o primeiro ex-presidente da República a ser preso por crimes cometidos durante o mandato. Apesar de não ter sofrido impeachment durante seu governo, Lula tem até os dias de hoje os processos contra si ainda em sua sombra.

Confira abaixo a trajetória do ex-presidente, do Nordeste, onde nasceu, até chegar à Presidência e concluir dois mandatos.

Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945, em Caetés, na época um distrito de Garanhuns, em Pernambuco. Aos sete anos, ele deixou o Nordeste rumo ao litoral paulista, onde vivia com o pai.

Com cerca de 24 anos, em 1969, Lula ingressou como suplente no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Este foi o primeiro cargo que ele ocupou em sua trajetória sindical. Mais tarde, em 1975, após seis anos no Sindicato, Lula virou presidente da associação e, três anos depois, foi reeleito.

Lula durante sua juventude (Foto: Divulgação/Instituto Lula)

Um dos líderes da greve geral do ABC paulista, Lula foi preso em 19 de abril de 1980, cassado como dirigente sindical e processado. Ele foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional.

Foi neste mesmo ano, mas em fevereiro, que o Partido dos Trabalhadores (PT) foi fundado, no dia 10, no Colégio Sion, na capital paulista. A sigla só foi reconhecida dois anos depois pelo Tribunal Superior de Justiça Eleitoral.

Em 1982, já candidato pelo PT na disputa pelo governo paulista, Lula perde e Franco Montoro (PMDB) é eleito. Em 1984, Lula participava do movimento conhecido como “Diretas Já”.

Em 1986, Lula já foi eleito para a Câmara e foi o deputado federal mais votado do País. No ano seguinte, integrou o grupo de 559 congressistas que formaram a Assembleia Nacional Constituinte, instalada em 1º de fevereiro e que tinha como objetivo elaborar a nova Constituição.

Em 1988, o PT votou contra o texto da Constituição, mas ele foi aprovado. Depois, o partido assinou a redação final da Carta Magna.

A partir de 1989 tem-se início a corrida presidencial de Lula ao Palácio do Planalto. Neste ano ele se candidatou à Presidência, avançou ao segundo turno, mas perdeu para Fernando Collor.

Antonio Cruz/Agência Brasil

Fernando Collor de Mello em comissão no Senado (Foto: Agência Brasil)

Em 1990, o PT reuniu pela primeira vez partidos e organizações de esquerda da América Latina e do Caribe. A reunião ocorreu em São Bernardo do Campo, em julho daquele ano.

Na sua segunda tentativa de eleição à Presidência, em 1994, Lula foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso, que venceu no primeiro turno. Quatro anos mais tarde, Lula perdeu a eleição pela terceira vez, novamente para FHC, que foi reeleito em primeiro turno.

Em sua quarta tentativa, Lula, enfim, foi eleito presidente da República em 2002. Ele derrotou José Serra no segundo turno. Em 2003 tomou posse.

Posse de Lula em 1º de janeiro de 2003 (Foto: Divulgação/PT)

Programas, polêmicas e feitos na Presidência

A primeira ação da política social do Governo Lula foi o Bolsa Família, em outubro de 2003. O programa unificou outros como Bolsa Escola, Auxílio-Gás e Fome Zero.

No segundo ano de seu mandato, o primeiro escândalo. Em fevereiro de 2004 estourou a informação de que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro José Dirceu, era acusado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira de extorsão para arrecadar fundos para o PT. O caso levou à CPI dos Bingos.

Em 2005, o Programa Universidade para Todos (Prouni0 foi criado e permitiu o acesso de 1,2 milhões de jovens ao ensino superior.

Poucos meses depois, em junho, o principal escândalo do Governo aconteceu: o Mensalão. O esquema de compra de votos de deputados e o financiamento de campanhas eleitorais via caixa dois foi denunciado e provocou a queda do então ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Ele foi apontado como mentor da operação.

Após o estouro do escândalo, veio o pré-sal. Em 2006, Lula declarou a autossuficiência do País na produção de petróleo, em abril. No fim do ano, tanto Governo quanto Petrobras anunciaram a descoberta de indícios de petróleo na camada do pré-sal. O início da exploração aconteceu em 2008.

Em 2006, mas em outubro, Lula foi reeleito presidente após vencer Geraldo Alckmin.

Lula e Marisa Letícia em cerimônia de posse de seu segundo mandato como presidente (Foto: Divulgação/PT)

No ano seguinte, na principal marca de seu segundo mandato, veio o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), logo em janeiro, com previsão inicial de investimentos de R$ 503 bilhões. Anos mais tarde, o programa seria o carro-chefe para a campanha de Dilma Rousseff.

Em julho de 2007, o então presidente foi vaiado durante a abertura dos Jogos Pan-Americanos realizados no Rio de Janeiro. Ele deixou o estádio sem discursar e confessou mais tarde ter se sentido decepcionado.

Em dezembro deste mesmo ano, o Governo Lula sofre uma grande derrota com a derrubada da CPMF.

No ano seguinte, em 2008, Lula enfrentou denúncias de irregularidades em uso de cartões corporativos. Uma CPI foi instalada após a divulgação de que um segurança da filha do petista gastou R$ 55 mil com cartões em 2007. O Governo foi acusado de montar dossiê sobre gastos do ex-presidente FHC e sua mulher. Ninguém foi indiciado na CPI, que também não reconheceu irregularidades.

Em outubro deste ano, veio a “marolinha”. Lula minimizou os efeitos da crise americana no País com a frase que gerou polêmica: “lá ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar”.

Em 2009, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiou Lula ao afirmar que ele era “o político mais popular do mundo”. Isso ocorreu durante reunião do G20, em Londres, no mês de abril.

Neste mesmo ano, mas em outubro, o Rio de Janeiro venceu a disputa para sediar as Olimpíadas de 2016. O anúncio foi feito pelo Comitê Olímpico Internacional, na Dinamarca. Foram a Copenhague: Lula, Eduardo Paes, João Havelange e Carlos Arthur Nuzman.

Em novembro, ainda de 2009, Lula recebeu o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e reconheceu o direito dos iranianos de executarem um “plano nuclear para fins pacíficos”. No ano seguinte assinou um acordo para troca de urânio enriquecido com Irã e Turquia.

A partir de 2010 começou o trabalho para fazer seu sucessor. Foi aí que ele escolheu Dilma Rousseff, então ministra de Minas e Energia, que venceu a disputa contra José Serra e manteve o Partido dos Trabalhadores na Presidência.

Dilma Torna-se a primeira mulher a assumir a Presidência da República (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Em abril de 2010, Lula realizou o leilão para a construção da Usina de Belo Monte, mesmo após ter criticado a construção da hidrelétrica no Pará antes de assumir a Presidência. O contrato de concessão só foi assinado em agosto – e com muitas polêmicas internacionais.

Em dezembro de 2010, seu último mês de mandato, Lula registrou 87% de popularidade, segundo o Ibope. A aprovação a seu Governo bateu recorde e registrou marca de 80%.

Já com Dilma eleita, Lula teve um câncer diagnosticado em outubro de 2011. No ano seguinte, veio o julgamento do mensalão. Em outubro, 25 dos 37 réus foram condenados. Entre eles José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.

Partindo para 2016, em março, Lula foi alvo de condução coercitiva em mandado autorizado pelo juiz Sergio Moro, na 24ª fase da Lava Jato. Ele foi levado, junto com Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, para depor à Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas. Eles foram questionados sobre a relação com o sítio de Atibaia, o tríplex no Guarujá e ainda sobre relações com empreiteiros presos pela força-tarefa.

Dias mais tarde, a Justiça Federal divulgou áudios de escutas telefônicas de Lula. Um deles era com a presidente Dilma em que ela o avisava sobre o envio do termo de posse para o Ministério da Casa Civil, mas para “usar em caso de necessidade”. No dia 17 de março ele foi empossado ministro, mas a posse foi suspensa pelo STF.

Sete vezes réu

Em abril de 2016, o então procurador-geral da República Rodrigo Janot denunciou o ex-presidente ao Supremo Tribunal Federal. Ele foi acusado de ter atuado para comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras.

No mês seguinte, o afastamento de Dilma da Presidência após decisão do Senado. Em julho, Lula se tornou réu. O caso tramitou na 10ª Vara Federal de Brasília.

Em setembro, o juiz Moro aceitou a denúncia e Lula se tornou réu pela segunda vez. Nesta segunda denúncia, o petista foi acusado de receber R$ 3,7 milhões da OAS referentes à reserva e reforma do tríplex no Guarujá. Lula nega que seja proprietário do imóvel até hoje.

Em outubro, Lula virou réu pela terceira vez no âmbito da Lava Jato. Nesta terceira denúncia, o petista foi acusado de receber dinheiro da Odebrecht para defender os interesses da empresa em outros países e interferir na concessão de financiamentos do BNDES. Moro também é o juiz deste caso.

A quarta denúncia contra Lula foi aceita pela 10ª Vara Federal de Brasília no âmbito da Operação Zelotes, no dia 16 de dezembro. O Ministério Público afirmou que Lula integrou um esquema que prometia “interferências” junto ao Governo da então presidente Dilma para beneficiar as empresas MMC, CAOA e SAAB, além de clientes da Marcondes e Mautoni.

Três dias depois, naquele mesmo dezembro de 2016, Lula virou réu pela quinta vez. O ex-presidente foi acusado de ser beneficiário da compra, pela Odebrecht, de um terreno para a construção da nova sede do Instituto que leva seu nome e de um imóvel vizinho ao dele em São Bernardo do Campo.

Em fevereiro de 2017, a ex-primeira-dama Marisa Letícia morre após sofrer um Acidente Vascular Cerebral. Em julho, Lula é condenado pelo juiz Sergio Moro no caso tríplex a nove anos e meio de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em agosto de 2017, Moro aceitou a acusação sobre o sítio de Atibaia e Lula tornou-se réu pela sexta vez. No mês seguinte, a Justiça do DF aceitou a denúncia contra o ex-presidente na Operação Zelotes pelo crime de corrupção passiva por supostamente aceitar promessa para receber recursos ilegais em 2009, quando ainda era presidente. Lula tornou-se réu pela sétima vez.

Agora, em abril de 2018, aquele que chegou ao posto de presidente mais popular do Brasil foi preso, condenado a 12 anos e um mês de prisão, em duas instâncias, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex.

Em seu último discurso antes de se entregar à Polícia Federal e obedecer o mandado de prisão, Lula defendeu seu mandato e legado: “não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia”, afirmou. E prometeu que voltará da prisão “mais forte”.

No entanto, a esquerda e o PT, ainda muito apoiados em sua figura popular e carismática, tentam encontrar um(a) substituto(a) para as próximas eleições.

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