Marun: governo age com “responsabilidade” de um “País que não é só de caminhoneiros”

  • Por Jovem Pan
  • 26/05/2018 14h48 - Atualizado em 26/05/2018 14h49
Valter Campanato/Agência Brasil "Existem empresas promovendo este locaute 'aproveitando a onda'", disse Marun

O ministro da Secretaria de Governo Carlos Marun falou em entrevista à Jovem Pan neste sábado (26) sobre os encaminhamentos do governo de Michel Temer em relação à greve dos caminhoneiros que paralisa o País há seis dias.

Marun deu mais detalhes sobre as prisões e multas que o governo promove contra empresários que apoiam a paralisação e as expectativas com as votações do Congresso. O ministro fez também um apelo para que os caminhoneiros voltem a trabalhar pelo abastecimento do País.

“Esse é um movimento horizontal de lideranças, então é natural que as lideranças que aqui estiveram (na negociação com o Planalto) não tenham o poder de ligar ou desligar o movimento”, ponderou. Segundo o ministro, ficou acordado com as lideranças da greve na última quinta (24) a suspensão do movimento grevista e que “continuaríamos os diálogos e as negociações”.

“O governo está agindo com responsabilidade de um governo que governa um País que não é só de caminhoneiros”, afirmou.

Marun pediu “um voto de confiança daquelas lideranças mais lúcidas e de mais bom senso que existe entre os senhores (caminhoneiros)” para retomarem as atividades e a imediata suspensão da greve.

“Locaute é crime e dessa forma vai ser tratado”

O ministro deu mais detalhes sobre a ofensiva do governo federal contra empresários que apoiam a greve dos caminhoneiros. Marun classifica o movimento como “locaute”, quando a empresa impede o trabalhador de exercer sua função.

“Em alguns inquéritos já foram obtidos indícios o suficiente para pedir prisões de donos de transportadoras que estão se aproveitando desse momento para ampliarem seus lucros”, disse o ministro.

“Se temos 50% a 60% do transporte de cargas feito através de transportadoras e temos 80% de paralisação, é certo que uma boa parte dessas paralisações é de transportadoras”, calculou.

“Locaute é crime e dessa forma vai ser tratado pelo governo”, afirmou.

A lei de greve determina: “fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos empregados (lockout)”.

“O caminhoneiro está sendo preservado. Não estamos falando em prisão de caminhoneiro”, ressalvou Marun.

“Você acha que os trabalhadores parados deixaram de abastecer para que o dono da transportadora, porque ele é bonzinho? Claro que não”, afirmou.

“Existe um movimento legítimo, certo? Não sei se legítimo…”, voltou atrás o ministro. “Existe um movimento que tem justificativa”, disse, afirmando que há caminhoneiros “que podem se manifestar no limite da razoabilidade e pleiteiam questões que nós consideramos justas”. Mas vê também “empresas aproveitando a onda”.

Multas

Marun também deu mais detalhes sobre a multa de R$ 100 mil por hora de paralisação, anunciada mais cedo, que o governo está aplicando

“Estamos por enquanto aplicando multa em transportadora e caminhoneiros que estão transportando material de saúde”, disse o ministro. “No caso de material de saúde nem é missão, é obrigação de transportar”, afirmou, dizendo que a “exposição de vidas humanas” é a “maior preocupação” do presidente Michel Temer e terá ação “prioritária”.

“Estamos atuando para impedir que esse desabastecimento tenha resultados trágicos”, declarou.

Ouça a entrevista completa de Carlos Marun no Jornal da Manhã:

PIS-Cofins

Ainda gera polêmica o corte do PIS-Cofins aprovado na última quarta (23) pela Câmara que pode aumentar o rombo nas contas públicas em R$ 11,9 bilhões pelo zeramento do imposto. Naquele dia, o presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM) havia estimado erroneamente o impacto em R$ 3,5 bilhões. Maia ainda defende a a redução de impostos como a melhor medida.

Marun classificou o erro no cálculo como “bisonho” e “ridículo”.

O ministro de Temer acredita que o Senado devolverá o projeto para que a Câmara aponte de onde virão os recursos para isso

“O governo não é contra o fim do PIS-Cofins. O governo é contra não serem apontados de onde sairão os recursos”, disse. “Muitas vezes o açodamento leva a situações ridículas como essa”, afirmou. “Que a Câmara aponte de onde sairão os recursos para o PIS-Cofins”, cobrou Marun.

“Não se pode com um cálculo bisonhamente equivocado tomar uma decisão como essa”, classificou. “Dinheiro não se fabrica”, disse Marun.

O ministro disse que “defende os parlamentares”, que, em sua visão “foram induzidos a erro por um cálculo equivocado”. “Alertei (os deputados) porque eu aprendi tabuada, não sou do tempo da calculadora”, afirmou. “Eu não preciso da calculadora pra fazer cálculo como esse”.

Aeroportos

O ministro informou que ainda são “graves os problemas especialmente em dois aeroportos”. Marun disse que o governo conseguiu abastecer os aeroportos de Congonhas (São Paulo), Viracopos (Campinas), em Porto Alegre, Galeão e Santos Dumont (Rio de Janeiro) mas não “normalizar o abastecimento”, uma vez que este é feito por meio de escolta.

“Queremos normalizar ainda hoje (neste sábado) o abastecimento, mas não queremos divulgar (quais aeroportos) para que não exista uma contra-operação a respeito disso”, disse.

O governo Temer tenta organizar “garantias de abastecimento” por meio de escoltas e “requisições de caminhões”.

Ironia

Marun se irritou quando o repórter Jovem Pan José Maria Trindade questionou se não é “irônico” que um governo investigado em dois inquéritos graves e com ministros e presidente denunciados mande prender empresários.

“Aí você está misturando alhos com bugalhos. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Se mantenha num nível digno para entrevista. O que tem a ver uma situação absurda daquela com uma crise como essa? Quem não quer ajudar não atrapalhe”, respondeu. “Tenho mais o que fazer”, disse. Assista à entrevista completa no vídeo mais acima.

Mais cedo, Marun falou à imprensa em pronunciamento no Palácio do Planalto, quando anunciou a multa de R$ 100 mil. Relembre abaixo:

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