Moro: disse que ‘jamais entraria na política’ e ‘não contrariei essa afirmação’

  • Por Jovem Pan
  • 06/11/2018 17h09
GISELE BERTHIER/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO "Tomei a decisão que me pareceu melhor para buscar a consolidação dos avanços que tivemos", disse o juiz

O juiz federal Sergio Moro concedeu nesta terça-feira (6) a primeira entrevista coletiva após sua nomeação ao Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo de Jair Bolsonaro (PSL). Além de pontuar algumas linhas de seu futuro trabalho, deixando claro que pretende levar o modelo de forças-tarefas implantado na Operação Lava Jato ao combate ao crime organizado, ele foi questionado pelos jornalistas presentes sobre uma conversa de anos atrás em que chegou a dizer que “jamais entraria para a política”. Ao responder, alegou que não há nenhuma contradição entre essa fala e a aceitação do convite para assumir a Pasta.

“Eu acabei assumindo e sei que é uma visão controvertida que gerou críticas de parte da imprensa, até de veículos internacionais. Tomei a decisão que me pareceu melhor para buscar a consolidação dos avanços que tivemos. Não podemos correr o risco de retrocesso”, afirmou, citando, como exemplo, a operação Mãos Limpas da Itália.

“Muitas pessoas foram presas lá. Até mais do que aqui. Mas a expectativa é de que fosse diminuída a corrupção – o que não se confirmou. Achei que havia essa possibilidade aqui. Não contrariei aquela minha afirmação de que ‘jamais entraria na política’. Na minha perspectiva, sigo atuando em uma função técnica. Um trabalho técnico. Sou um juiz a cargo desse ministério específico. Não tenho nenhuma pretensão de concorrer a cargos eletivos, subir em um palanque. Agora, haverá dialogo com o Congresso, claro, e isso é, de certa maneira, a realização de política. Mas não é a minha visão do cargo”, completou.

A declaração em questão aconteceu em sua primeira entrevista como juiz da Lava Jato em 2016. “Não, jamais. Jamais. Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política. Acho que a política é uma atividade importante, não tem nenhum demérito, muito pelo contrário, existe muito mérito em quem atua na política, mas eu sou um juiz, eu estou em outra realidade, outro tipo de trabalho, outro perfil. Então, não existe jamais esse risco”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Sobre a promessa a uma cadeira do STF

Quando Moro aceitou comandar o ministério, rumores apareceram sobre suposto interesse em ocupar uma cadeira no Superior Tribunal Federal (STF) futuramente. O primeiro nome que deve deixar a Casa e, assim, abrir uma vaga é o decano Celso de Mello em 2020 – momento em que ele poderia ser indicado por Bolsonaro para preenchê-la. Na coletiva, porém, Moro disse que “não se sente confortável” em comentar o assunto.

“Eu não estabeleci condições. Conversei com Bolsonaro sobre a pauta para saber onde teríamos convergências e onde teríamos divergências superáveis. Eu jamais o procuraria e estabeleceria condições. No que se refere ao STF, não existe vaga no momento e nem acho apropriada essa discussão. Tenho um grande apreço e respeito, creio que generalizado, por Celso de Mello, um dos grandes magistrados da história do STF. Então não me sinto confortável em discutir essas questões. Quando, no futuro, existirem vagas, isso tem que ser discutido em um novo contexto”, afirmou.

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