Prisões, confronto e fim do Braços Abertos: polícia faz megaoperação contra o tráfico na cracolândia

  • Por Jovem Pan
  • 21/05/2017 10h55
SP - SP/CRACOLÂNDIA/OPERAÇÃO - GERAL - A Polícia Civil realiza, na manhã deste domingo, 21, uma grande operação na região da Cracolândia, no centro de São Paulo.A Justiça expediu cerca de 70 mandados de prisão e 50 de busca e apreensão. Policiais militares também auxiliam as diligências. Ao todo, mais de 1 mil agentes participam da ação. 21/05/2017 - Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO WERTHER SANTANA/ESTADÃO CONTEÚDO Polícia faz ação na busca de armas e prisão de traficantes na região central de São Paulo

A polícia de São Paulo realizou na manhã deste domingo (21) uma grande operação na cracolândia. Foram emitidos 69 mandados de prisão de “traficantes já identificados” e 50 de busca e apreensão, também para outras regiões da cidade. A Paróquia Sagrado Coração de Jesus, que fica naquela região de Campos Elísios, ficou com os portões fechados nesta manhã e a missa foi cancelada.

Pelo menos 500 policiais foram mobilizados. O secretário de Segurança Mágino Alves Barbosa diz que ao menos 38 mandados de prisão foram cumpridos até as 15h. Ele diz que, antes de deflagrada a operação policial, “foram meses de investigação” e “um trabalho de inteligência muito sério do Denarc” com apoio do Deic, da Polícia Militar e outros órgãos de segurança. Foram apreendidos três fuzis.

“Nós não vamos conseguir acabar com um problema histórico, mas acabar com o ‘shopping center’ (das drogas). Acabou, a polícia vai ficar permanentemente aqui”, disse o prefeito de São Paulo João Doria, que acompanhou os trabalhos ao lado do governador Geraldo Alckmin. A intenção do poder público é também derrubar prédios que estavam sendo usados por usuários e traficantes. O prefeito anunciou a intenção de construir um CEU (Centro Educacional Unificado) no local.

Ouça um resumo da operação deste domingo na reportagem de Anderson Costa AQUI.

“Essa operação não visa ao usuário, mas ao traficante”, garante Mágino, que disse não ter havido “danos colaterais e feridos” durante a ação, apesar de bombas de efeito moral terem sido usadas e grande efetivo da tropa de choque, mobilizado. Ouça o secretário AQUI.

O objetivo oficial é combater o tráfico, por meio da identificação de pontos de venda de drogas e prisão de traficantes. Policiais invadiram hotéis que são usados por usuários na região do centro de São Paulo. Foi a primeira vez que uma ação do tipo foi realizada em um domingo, no objetivo de surpreender usuários e traficantes.

A megaoperação foi realizada em conjunto entre a Polícia Civil e a Polícia Militar. Pelo menos dois helicópteros policiais foram deslocados para a região. As esquinas da Rua Helvétia com a Avenida Rio Branco e com a Alameda Barão de Piracicaba tiveram o tráfego interrompido.

A operação policial ocorre desde 6h30 da manhã e muitos dependentes químicos fugiram pelas ruas do centro da capital paulista. Alguns adictos e traficantes tentaram depredar comércios da Rua Helvétia no momento da chegada das forças do governo, o que gerou um momento de tensão e confronto.

No final da manhã, por volta das 10h, equipes da Prefeitura terminavam o trabalho de limpeza e desobstrução das ruas, retirando pedaços de madeira, colchões, barracas e outros pertences abandonados pelos moradores de rua durante a operação.

Moradores da região filmaram o início do cerco policial e o momento do confronto em vídeo que o repórter Jovem Pan Anderson Costa, que acompanha a ação na região, obteve com exclusividade:

Durante a ação policial, usuários deixaram a concentração da Cracolândia, no chamado “fluxo”, e seguiam acendendo o cachimbo e usando drogas pelas ruas do bairro.

Segundo o Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) informou que há mandados de busca e apreensão sendo cumpridos também em outras regiões da Grande São Paulo.

Braços fechados

O prefeito João Doria aproveitou para anunciar o fim do programa Braços Abertos, do ex-prefeito Fernando Haddad, que contratava adictos para serviços de limpeza na região e oferecia vagas em hotéis. Doria afirmou que os hotéis serão fechados e a área da cracolândia, reurbanizada.

Foco policial

O governador Geraldo Alckmin ressaltou que a ação deste domingo tem foco policial e visa a apreender armas e drogas e deter traficantes. Ouça a fala de Alckmin AQUI.

O governador afirmou, no entanto, que o trabalho social “continua”  e garante que foram disponibilizadas 3.327 vagas para tratamento de usuários no Estado de São Paulo, algumas no Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), na região central da cidade, bairro do Bom Retiro. 

“Esse trabalho hoje é da polícia. É para retirar arma, prender traficante e droga. O trabalho social vai ser permanente, de abrigo para as pessoas que quiserem ir, de outro lado saúde pública, oferecer vagas no Cratod. Nós até esvaziamos o Cratod nesta semana para poder ter boa disponibilidade”, afirmou Alckmin.

“Hoje é um trabalho policial e o trabalho social vai continuar”, enfatizou. “Vamos pedir para a Prefeitura parar com essa coisa de hotel. Nós chegamos a pegar em hotel até refino de drogas. Você acaba concentrando numa região só e não é o adequado”, disse também o governador, em consonância com o anúncio logo depois de João Doria de extinguir o Braços Abertos.

O governador afirmou também: “Já fizemos mais de 8.904 internações voluntárias e 23 compulsórias”.

E a Saúde?

O secretário estadual de Saúde David Uip destacou também o número de leitos de recuperação disponibilizados. Ele disse que a ação de Alckmin entra no Programa Recomeço, que existe desde 2013. Ele funcionará paralelamente a iniciativa similar de Doria, o Programa Redenção. “Estamos prontos para acolher as pessoas”, disse Uip. Para o secretário, a ação policial “ajuda na área social e da saúde”. Ouça o secretário David Uip AQUI.

Moradores otimistas – “de cracolândia para Campos Elísios”

Fábio Fortes, presidente do Conseg, o conselho popular de segurança da região, avalia com otimismo a ação repressiva na região. Ele destaca o número de policiais mobilizados e vê essa como a ação ostensiva prometida pelo governo. Fortes convocou moradores para “assumir as ruas do entorno para realizar ruas de lazer e outras atividades”.

O presidente do Conseg lembra que ocorre neste fim de semana na capital paulista a Virada Cultural e torce para que ocorra “essa virada de cracolândia para Campos Elísios”, nome do bairro degradado pelo consumo e tráfico de drogas nas ruas. Ouça Fábio Fortes AQUI.

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