Professores particulares aderem à greve contra reformas e pais se revoltam

  • Por Estadão Conteúdo
  • 26/04/2017 08h41
Salvador- BA- Brasil- 25/07/2016- As escolas estaduais estão intensificando as atividades na preparação dos estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que acontece 5 e 6 de novembro deste ano. No Colégio Estadual Ruben Dário, no bairro de San Martin, em Salvador, a semana será de simulados. Para abranger todas as áreas do conhecimento, as provas começaram nesta segunda-feira (25) e prosseguem até quinta (28), oportunizando aos alunos do 3º ano do Ensino Médio e da Educação Profissional vivenciar situações semelhantes às do dia da avaliação. Com o sonho de cursar Medicina, Leonardo Alves, 17 anos, destaca que o simulado contribui para aumentar a sua confiança. “Podemos avaliar nosso conhecimento e rever os pontos que precisamos melhorar. Também temos o apoio dos professores, que são bastante solícitos. Por meio de grupos online, realizamos uma troca de temas e assuntos que estão em mais evidência no momento. Isso nos deixa ainda mais preparados”. Entusiasmado com a possibilidade de cursar Engenharia Química, Wallace Santos, 18, afirma que o aluno não pode se contentar apenas com o que aprende na sala de aula. “Estamos tendo a oportunidade de aperfeiçoar o nosso conhecimento com diversas atividades. Além da escola, os colegas se reúnem em grupos de estudo para podermos já obter, nos simulados, um bom resultado, nos capacitando a realizar uma boa prova do Enem”. O professor de Língua Portuguesa, Antônio Almeida, diz que o suporte da unidade escolar é fundamental para o bom desempenho do estudante. “Fazemos um trabalho sempre visando o que é aplicado no exame. Com certeza, estas atividades dão uma maior oportunidade aos nossos alunos e os estimulam a concorrer em situação de igualdade com qualquer candidato. Além do simulado, a escola realiza as Olimpíadas de Matemática e Português, assim como o Clube de Leitura, desenvolvendo a interpretação de texto”. A Secretaria da Educação disponibiliza par Suami Dias/GOVBA Ensino Médio

A adesão dos professores da rede particular à greve geral contra as reformas da Previdência e trabalhista gerou divergências nas escolas de São Paulo entre pais, direção e funcionários. Em alguns colégios foi aprovada a paralisação na sexta-feira (28), e, em outros, um dia de debates sobre o assunto com os alunos. Segundo o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), cerca de 100 colégios da capital – de 4,5 mil unidades – confirmaram a greve.

No colégio São Luiz, na região central da capital, um comunicado que informava aos pais a decisão da escola de acolher a decisão dos professores de aderir à paralisação gerou insatisfação. A psicanalista Helena Zimerman, de 50 anos, que tem dois filhos na unidade – no 1.º e 3.º anos do ensino médio -, criticou a postura da escola que, segundo ela, “tem cunho escancaradamente político”. “Estão impondo um posicionamento ideológico e arrastando todo o corpo discente junto. Jovens que estão em formação não deveriam estar sujeitos a esse tipo de situação”, disse. 

Ela contou ter feito reclamação na ouvidoria do colégio e disse que está, com outros pais, organizando um abaixo-assinado em repúdio ao comunicado. Na carta, o colégio afirma que é isento de alinhamento partidário e que “são inúmeras” as razões apresentadas para a manifestação. “Cremos que todos desejaríamos que reformas estruturais como as que estão sendo propostas não fossem realizadas a toque de caixa, sem o debate qualificado e o envolvimento dos diferentes grupos de interesse”, diz o texto. “Certamente há famílias insatisfeitas, mas esta é a posição não apenas do colégio, mas de toda a Rede Jesuíta de Educação no Brasil.” 

Divergências como essa também aconteceram em outros colégios da capital, como Santa Cruz, Escola Viva e Stance Dual, e levaram pais a escrever cartas e se mobilizar nas redes sociais contra a paralisação. 

Há escolas também onde haverá aula e discussões sobre a reforma trabalhista. O colégio Santa Maria, na zona sul da capital, encaminhou na segunda-feira um comunicado aos pais para informar que o horário de aulas será mantido, mas os professores irão debater com todos os alunos para a “compreensão da ideia dos processos de reforma e mudanças de lei”. 

O veterinário Eduardo Henriques, pai de três meninos que estudam na escola, disse não ter gostado da postura adotada. “Não é um debate que cabe dentro de sala de aula, porque deixa claro o posicionamento político da direção. Para mim, era melhor que eles tivessem aderido à paralisação ou que dessem aulas normalmente. São os pais que devem falar sobre isso com os filhos.”

Segundo Henriques, a decisão da escola gerou conflitos entre os pais em grupos de WhatsApp. “Alguns pais, assim como eu, acham que a escola está defendendo uma ideologia, uma linha de pensamento político. Outros acham que não há nenhum problema.” 

O colégio disse entender que é seu papel social desenvolver a consciência crítica dos alunos para ajudá-los a entender a atual e futura situação do País. “Eles têm direito a entender as diversas perspectivas, as consequências e implicações previstas por muitas das propostas”, diz o comunicado. 

No colégio Equipe, na região central, haverá discussões na quinta-feira (27), à noite sobre a reforma. Paula Calabró, mãe de uma aluna de 12 anos do 7.º ano, disse que acha justa a paralisação e concorda com a forma como o colégio optou por tratar a questão. Na sexta, dia da greve, haverá aulas públicas sobre as mudanças na legislação. 

É a segunda vez que a escola se manifesta em relação às reformas No dia 31 de março, professores e funcionários forem trabalhar vestidos de preto, assinalando a idade em que se aposentarão caso passe a reforma da previdência. 

Adesão

Silvia Bárbara, diretora do Sinpro-SP, disse que é a primeira vez, desde 2003, que os professores da rede particular aderem a uma greve – na ocasião eles reivindicavam reajuste para a categoria. “A polarização que a sociedade vive também existe nas escolas, com professores de esquerda e de direita. O que a categoria percebeu é que essa situação transcende a toda essa divergência porque afeta duramente a todos.” 

A Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar), que reúne colégios tradicionais de São Paulo – como Bandeirantes, Escola da Vila e Santa Cruz – se manifestou contrária à paralisação, apesar de afirmar reconhecer como “legais e aceitáveis” as manifestações. “Na atividade docente, o aluno deve estar sempre em primeiro lugar. A hipótese de interrupção das aulas não é aceitável. Trata-se de gesto que, se efetivado, representaria quebra nas relações contratuais dos professores com as escolas e destas com a comunidade de pais e alunos.” 

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