Relatório do TCU indica favorecimento do BNDES à JBS

  • Por Estadão Conteúdo
  • 26/04/2017 08h09
BRA111. LAPA (BRASIL), 21/03/2017 - Vista general de la compañía del grupo cárnico JBS Seara en la ciudad de Lapa, estado de Paraná, Brasil, la cual fue inspeccionada por el ministerio de Agricultura de Brasil, Blairo Maggi, hoy martes 21 de marzo de 2017. Según la policía, varias de las principales cárnicas del país, entre ellas JBS y BRF, con la complicidad de fiscales sanitarios corruptos, "maquillaron" con productos químicos carnes que estaban en mal estado y no cumplían con los requisitos para la exportación.EFE/Joédson Alves Joédson Alves/EFE JBS - EFE

Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) implica oito ex-diretores do BNDES, entre eles o ex-presidente da instituição, Luciano Coutinho, por suposto favorecimento à JBS S/A, dona da marca Friboi, na compra do frigorífico americano Swift Foods, em 2007. Conforme relatório técnico da corte, ao qual o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, os executivos teriam cometido irregularidades na aprovação de um aporte de US$ 750 milhões (R$ 2,3 bilhões, em valores atuais) para a aquisição da empresa estrangeira. 

O investimento foi uma das operações do BNDESPar – braço do BNDES para a compra de participação em empresas -, feitas para capitalizar a JBS, dando apoio a seu crescimento e internacionalização. Com o investimento, o banco público passou a ser sócio do grupo brasileiro. A estratégia foi amplamente adotada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, com vistas à criação de “campeões nacionais” em alguns setores da economia.

Para viabilizar a aquisição da Swift, o grupo brasileiro solicitou em maio de 2007 apoio de cerca de US$ 600 milhões do BNDESPar, mediante subscrição de ações. Em junho, após uma análise feita pelo banco, o valor do aporte aumentou para US$ 750 milhões. Com a incorporação da gigante americana, a JBS se tornou à época a terceira maior empresa de carne bovina dos EUA

A auditoria do TCU diz que os atos dos então dirigentes do BNDES atentaram contra regras do próprio banco e “os princípios constitucionais da moralidade, da impessoalidade e da eficiência”. Foi constatado que o BNDESPar pagou ágio de R$ 0,50 para cada uma das cerca de 139 milhões de ações, o que resultou em prejuízo de R$ 69,7 milhões. De acordo com o documento, não cabia o pagamento do prêmio, pois não havia “quaisquer razões de cunho mercadológico” que justificassem “oferecer valor maior que o preço justo” para a transação. 

Os auditores propõem aos ministros da Corte a abertura de uma tomada de contas especial para aprofundar a investigação sobre essas perdas e cobrar eventual ressarcimento. Além dos oito ex-diretores, 11 servidores do BNDES, que participaram do negócio, são apontados como responsáveis.

O relatório diz que Coutinho e os demais diretores aprovaram o aporte por unanimidade, “sem justificativa plausível” para aumentar o valor inicial solicitado pela empresa. Além disso, sustenta que os executivos acataram, “sem embasamento em documentação apropriada e em avaliações econômico-financeiras”, estimativas de custos acessórios da operação que montavam a 10% do valor do aumento de capital proposto pela empresa brasileira.

O resultado, diz a auditoria, foi a realização de investimento “em valor não comprovadamente necessário para a operação, beneficiando a JBS , que passou a dispor de, pelo menos, US$ 235 milhões em caixa para utilizar como bem lhe conviesse”. O relatório foi submetido ao relator do processo no TCU, Augusto Sherman, que pautou o caso para julgamento esta quarta-feira, 26

Defesas 

Procurado, o BNDES informou que só vai se pronunciar após a reunião do plenário do TCU, prevista para esta quarta. Em nota, o banco explicou que os diretores de Controladoria, Ricardo Baldin, Jurídico, Marcelo de Siqueira Freitas, e da Área de Mercado de Capitais, Eliane Lustosa, passaram a terça-feira, 25, em reuniões com ministros do TCU e suas equipes para “esclarecer dúvidas” sobre a compra da Swift pela JBS, e sobre o funcionamento da área de mercado de capitais do banco, a BNDESPar. 

O ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho disse, em nota, ter recebido “com surpresa” as informações sobre o caso. Ele disse que não teve acesso ao processo, que corre em sigilo. Afirmou também que não lhe foi solicitado, ou a qualquer dos outros citados, “qualquer tipo de esclarecimento pelo TCU a respeito do caso”. 

Coutinho sustentou que a operação “foi realizada dentro da mais absoluta regularidade, tendo sido analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do BNDES”. “Todas as regras e procedimentos usuais da instituição foram observadas, sem nenhum tipo de favorecimento à JBS. Também não cabe falar em prejuízo, porque a operação foi lucrativa para a BNDESPar”, argumentou.

A JBS, em nota, disse que o TCU, “no desempenho de seu papel de órgão fiscalizador”, está auditando o BNDES, e não a empresa. “Ainda assim, a companhia sempre deixou claro a seus acionistas e ao mercado em geral que todos os atos societários advindos dos investimentos do BNDESPar foram praticados de acordo com a legislação do mercado de capitais brasileiro, são públicos e estão disponíveis no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e no site de relações com investidores da JBS.” 

“Vale ainda ressaltar”, prossegue a nota, “que a JBS já era uma companhia de capital aberto, com ações negociadas na Bovespa, e todos os investimentos do BNDESPar na JBS ocorreram a valores de mercado, dentro do crivo da CVM e em consonância com a legislação vigente.

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