Alexandre Borges: Mourão repete bordão marxista que associa criminalidade à pobreza

  • Por Alexandre Borges/Jovem Pan
  • 09/04/2019 10h19 - Atualizado em 14/05/2019 13h44
Valter Campanato/Agência Brasil Mourão é comunista? É óbvio que não, que fique bem claro

O vice-presidente Hamilton Mourão, em viagem aos EUA, repetiu a velha ideia de que a culpa da criminalidade é da pobreza.

Como a vida é irônica, temos um general no mais alto cargo depois da presidência ecoando um bordão que tem origens no marxismo e na esquerda.

Mourão é comunista? É óbvio que não, que fique bem claro. Mas como disse o economista John Maynard Keynes, os homens práticos, que acreditam estarem livres de qualquer influência intelectual, são normalmente escravos de algum economista morto”.

Marx e Engles, os pais do comunismo, desenvolveram uma metodologia de entender a história e as sociedades a partir da maneira com que os indivíduos produzem seus bens materiais, ou seja, pela economia. A sociedade seria dividida em classes, de um lado os donos dos meios de produção e do outro os trabalhadores. Tudo seria explicado pela exploração do homem pelo homem.

É uma ideia errada como qualquer outra vinda da dupla que escreveu o Manifesto Comunista, mas sempre haverá quem repete que quem comete crimes não decidiu cometer o crime, ele apenas foi levado a cometer pelas circunstâncias da sua vida e, em especial, a falta de dinheiro.

Não existe qualquer evidência que comprove essa afirmação e você não precisa ser um estudioso para saber que as causas da violência são muito mais complicadas e que, quase sempre, envolvem uma escolha individual do criminoso. Não há nada que mostre que existem mais bandidos entre os pobres do que entre os ricos.

Uma matéria do jornal O Globo, publicada em 2010, investigou os 22 amigos de escola da turma do mais conhecido traficante brasileiro, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Nascido e criado nas mesmas condições sociais e econômicas dos amigos, só ele optou pelo crime.

Fernandinho estudou na Escola Municipal Joaquim da Silva Peçanha, na Favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, cidade da região metropolitana do Rio de Janeiro. Sua mãe foi muito presente na sua educação, acompanhava de perto o desempenho do filho e ia nas reuniões da escola. Ele foi um ótimo aluno, inteligente, só tirava notas altas e nunca ficou em recuperação.

Aos 19 anos, ele já praticava assaltos. Logo depois caiu no tráfico de drogas, até se tornar o símbolo do narcotráfico no Brasil. Dos outros 22 colegas de turma, segundo a reportagem, nenhum tem passagens pela polícia ou antecedentes criminais. No grupo você encontra um suboficial da Aeronáutica, um policial militar, um marceneiro, um mecânico e até professores universitários.

Com todo respeito ao vice-presidente Hamilton Mourão, que costuma comentar todos os assuntos com muita desenvoltura, mesmo que não sejam da sua área de formação ou especialidade, a ligação direta entre pobreza e criminalidade não é apenas marxista na origem, é paternalista e errada nas suas consequências por fazer dos bandidos vítimas da sociedade, quando é a sociedade que é vítima deles.

Num governo que dá tanta importância à segurança pública, é preciso lembrar que o primeiro passo no combate ao crime é tratar criminoso como criminoso.

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