Cartel para compra de trem para o metrô não teria acontecido apenas em SP

  • Por Jovem Pan
  • 14/03/2014 11h33

Reinaldo, quer dizer que você descobriu em agosto do ano passado aquilo que o Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, só descobriu agora? Que história é essa?

Vou contar tudo, parece que o mínimo de bom senso, de “simancol”, quem sabe a velha e boa vergonha na cara, vamos ver, andou baixando lá pelas cercanias do Cade, que é como você disse o Conselho Administrativo de Defesa  Econômica. Aquele órgão que apura a suposta formação de cartel para a compra de trem para o metrô e a CPTM em São Paulo.

Digo de saída o óbvio. Nesse caso, como em qualquer outro, que os culpados sejam punidos segundo a lei. Ocorre, caros ouvintes, que as empresas que fornecem equipamentos para o metrô e para a CPTM em São Paulo, são as mesmas que fornecem para as estatais do Governo Federal.

Eu me perguntei então em agosto do ano passado: será que elas só fizeram cartel em São Paulo? E com as estatais federais? Fui escarafunchar a história e encontrei algo muito interessante.

No dia 13 de Agosto do ano passado publiquei em meu blog uma série de textos, que vocês poderão encontrar o link na página de comentários do site da Jovem Pan, que evidenciava a formação de cartel na construção dos metrôs de Porto Alegre, que é comandado pela TrensUrb, e de Belo Horizonte, que é comandado pela CBTU. As duas são estatais federais.

Em 2012 a TrensUrb fez uma licitação para a compra de 15 trens em 4 carros cada um, orçado em 243,75 milhões de reais. Quantos consórcios apareceram? Apenas um. Formado por quem? Pela Alstom e pela CAF. A primeira empresa ficou com 93% do contrato e a segunda com 7%. Muito bem, 13 dias depois da assinatura desse contrato houve o anúncio para a licitação de Belo Horizonte, aí orçada em 171,9 milhões. Quantos consórcios apareceram? Apenas um de novo. Formado por quem? Pelas mesmas Alstom e CAF.

Desta vez a Alstom, que havia ficado com 93% do contrato de Porto Alegre, ficou apenas com 7%. E a CAF, que havia ficado com 7% naquele caso, ficou com 93%. O amor não é lindo? No site vocês encontram farta propaganda das estatais federais sobre os dois contratos. Há inclusive uma foto com a presidente Dilma Rousseff liberando os recursos, sempre na maior alegria.

Dei essa notícia no blog há seis meses, só agora o Cade admite que existem indícios de formação de cartel. Indícios? Vamos ver se também nesse caso, que diz respeito ao PT, haverá um festival de vazamento de informações sigilosas, como acontece com a investigação feita sobre a compra de trens feita em São Paulo.

Que fique claro mais uma vez: em São Paulo, Porto Alegre, Brasília, em qualquer lugar, que os culpados paguem pelos seus erros. O que não pode é o Cade, que é um órgão federal, conduzir apurações com viés político. A demora para investigar as estatais federais é em si escândalos, vamos ficar de olho para ver como o órgão se comporta agora.

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