Aprovado, mas sem exuberância, Obama tentará manter legado

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan Nova Iorque
  • 11/01/2017 07h57
CHI001. CHICAGO (EE.UU.), 10/01/2017.- El presidente de Estados Unidos, Barack Obama, habla hoy, martes 10 de enero de 2017, durante su discurso de despedida como mandatario de los estadounidenses, en e McCormick Place de Chicago, Illinois (EE.UU.). Obama comenzó hoy su discurso de despedida dando las gracias a todos sus compatriotas por haberle hecho un "mejor" mandatario y un "mejor hombre" durante estos últimos ocho años. EFE/KAMIL KRZACZYNSKI EFE/KAMIL KRZACZYNSKI EFE - Barack Obama chora durante discurso de despedida da Presidência dos EUA

Acabou. Em princípio, o discurso de Barack Obama na terça-feira à noite na sua gélida Chicago foi o seu último como presidente. Dia 20 é a posse do sucessor.

Na sua saideira, em que chegou a derramar lágrimas, Obama obviamente olhou para trás e para frente. E o discurso foi bizarro. Afinal, o presidente democrata, apesar do triunfo de Donald Trump, se disse mais otimista de que quando assumiu em 2009 e que o país está melhor e mais forte.

Obama pediu que os americanos se unam contra ameaças como forças hostis externas e tensões internas que inclusive colocam em risco a democracia.

Obama, como seus predecessores, fará o posssível para controlar o seu legado, pelo menos o primeiro rascunho da história. E a História será cruel e condescendente se enquadrar o verbete sobre Obama basicamente como o primeiro presidente negro do país.

Mesmo o vociferante inimigo de Obama que é a página editorial do Wall Street Journal reconhece que o inexperiente candidato e presidente eleito em 2008 provou ter nervos de aço na crise financeira, a pior do país desde a Grande Depressão.

Republicanos ridicularizam o pacote de resgate de Obama, mas ele amorteceu a recessão e provavelmente impediu uma nova depressão. Mas ainda assim, será duro ficar para a história como alguém que impediu o pior ao invés de trazer o melhor.

Obama foi um jogador político inepto e enfrentou uma oposição republicana que se pautou por um obstrucionismo insano desde o primeiro dia de seu mandato.

O resultado é que o Partido Democrata, sob a liderança de Obama, sofreu perdas vexaminosas ao longo de oito anos e não apenas em Washington. Agora, os republicanos, além da Casa Branca com Trump, controlam, não apenas o Congresso, mas 32 dos 50 governos estaduais.

Não vamos aqui entrar no jogo de culpa sobre a derrota de Hillary Clinton, mas o fato é que Obama fez um tremendo erro de cálculo, estimando que sua candidata iria faturar em novembro.

Agora, o seu legado está basicamente ameaçado com as promessas de Trump e dos republicanos no Congresso de reverterem as conquistas na reforma da saúde e no clima.

No plano externo, como eu já disse, Trump deve acelerar o abandono americano de suas responsabilidades globais, iniciado por Obama, algo até compreensível, pois ele assumiu quando a superpotência estava cansada de guerra.

No entanto, eu pessoalmente não perdoo a flacidez moral de Obama na guerra civil síria, dando espaço para a carnificina em larga escala praticada pelo ditador Bashar Assad, com cobertura russo/iraniana e a dos jihadistas.

Eu sempre achei Obama melhor em campanha do que como governante. Agora ele poderá se dedicar a campanhas. A primeira, para embelezar seu legado; uma segunda, na contribuição para a revitalização do Partido Democrata e uma terceira, quem sabe, para ajudar Michelle Obama a retornar para a Casa Branca.

Eu não vislumbro Michelle no horizonte, mas caso isto aconteça voltaremos a escutar discursos do grande orador, aquele que entrou para a história na convenção democrata em 2004, apresentando-se como um magrela de nome esquisito.

Obama é um bom sujeito. O paradoxo está nos números: no dia da eleição de Trump, por 2 a 1, os americanos disseram que o país estava na direção errada. No entanto, Obama deixa a Casa Branca com taxa de aprovação saudável, no patamar de Ronald Reagan e de Bill Clinton.

Se é para quantificar, eu dou nota 6 para Barack Obama. Aprovado, mas sem exuberância.

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