No Afeganistão, o cemitério de impérios

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 23/08/2017 10h25
Marine Corps Gen. John R. Allen, commander of NATO and International Security Assistance Force troops in Afghanistan, visited military and civilian personnel assigned to Regional Command-East, Nangarhar province, Sept. 5. Allen received a briefing and walking tour of Torkham Gate area of operations during his visit and thanked U.S. and Afghan forces for their service and sacrifice. ISAF is a key component of the international community's engagement in Afghanistan, assisting Afghan authorities in providing security and stability while creating the conditions for reconstruction development. Wikimedia Commons A contínua presença militar americana no Afeganistão sem fim à vista e perspectiva de vitória é algo inglório

Donald Trump não assume responsabilidades ou erros. Assim, ele fez o que pôde para deixar nas mãos dos generais a decisão de estender por tempo ilimitado (sangue e dinheiro) o engajamento dos EUA no Afeganistão, a mais longa guerra na história americana. Ela vai completar 16 anos em outubro.

O secretario de Defesa, James Mattis, não é idiota. Deixou claro que cabia a Trump formalizar publicamente a decisão. Afinal, a herança é dele. A guerra agora é de Trump, como foi de George W. Bush e de Barack Obama. Não me escandalizo com a confissão de Trump de que deixara para trás sua resistência a este engajamento. Mudara de posição.

A vida de presidente é assim. Trump fez alguns floreios antiintervencionistas no anúncio de segunda-feira e espetou Obama, que realmente não brilhou na sua política afegã. O ex- presidente estava louco para cair fora do atoleiro.

No entanto, bater em retirada é pior do que ficar. A contínua presença militar americana no Afeganistão sem fim à vista e perspectiva de vitória é algo inglório, mas o menor dos males.

Sim, o Afeganistão é conhecido como o cemitério de impérios. De fato, um tremendo ganho será meramente impedir que o Talibã retome o poder.

Outra meta de vitória enunciada por Trump é esmagar o terror com suas filiais no Afeganistão (Al-Qaeda e Estado Islâmico). Assim, nada de errado com o necessário sacrifício dos EUA e seus aliados para conter a barbárie do Talibã e esmagar o terror com a ajuda de alguns bandidos locais como os senhores da guerra, os warlords.

Trump fez bem em bater continência a seus generais. O presidente não deu detalhes sobre os planos, com o argumento bizarro de que não pode sinalizar nada para o inimigo, mas todos sabem, inclusive o Talibã, que serão despachados uns quatro mil soldados, que irão se juntar a outros oito mil. Os EUA já tiveram mais de 100 mil soldados no Afeganistão.

A Casa Branca quer apresentar o anúncio de Trump como uma nova e grande estratégia. Nada disso, tudo muito modesto. Existem as cobranças habituais para um governo afegão menos corrupto e uma dose mais agressiva de exasperação com o Paquistão e seu jogo duplo de combater e acolher o Talibã.  Um pouco de novidade está no convite para a India, arquiinimiga do Paquistão, ter um papel mais ativo na encrenca.

São desafios que exigem vigor militar, paciente estratégia política e finesse diplomática. E Trump carece deste dois últimos ingredientes. No entanto, em uma região do mundo como o Afpak (Afeganistão e Paquistão), que é um covil de terroristas e movimentos bárbaros, tipo Talibã, não dá para torcer contra Trump, não dá para torcer contra nenhum presidente americano.  Boa sorte com sua herança maldita.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.