Para Netanyahu, o processo de paz é mais processo do que paz

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 05/06/2017 08h40
EFE/EPA/DAN BALILTY Primeiro-ministro israelelnse Benjamin Netanyahu fala neste domingo em Jerusalém

Em 5 de junho de 1967, Israel realizou um ataque preventivo contra seus vizinhos árabes. Uma questão de autopreservação contra inimigos que juravam aniquilar o jovem estado judeu (19 anos de idade).

Foi uma guerra fulminante e vitoriosa. Eu, do alto dos meus 9 anos, morador do Bom Retiro, em São Paulo, estava extasiado, tão orgulhoso por ser judeu e militar no movimento sionista. Colei na parede do meu quarto a capa da revista Manchete, com o meu super-herói, o general Moshe Dayan.

Depois de seis dias de guerra, na frase célebre, Israel não descansou. No sétimo dia, começou a ocupação, um longo dia que hoje celebra 50 anos. Nunca pendurei fotos de colonos judeus na Cisjordânia no meu quarto nem dos chamados mártires palestinos, ou seja, terroristas.

Líderes israelenses em junho de 1967 observavam com sarcasmo que gostavam do dote, os territórios conquistados, mas não da noiva, o povo palestino. Desde então, parte do dote foi devolvido: a península do Sinai para o Egito e a faixa de Gaza para os palestinos, hoje barbarizada pelo movimento islâmico Hamas.

No horizonte, não podemos vislumbrar um legítimo e viável estado palestino. Não há volta para as fronteiras anteriores à guerra de 1967 e aqui estamos falando da Cisjordânia. Israel também tomou as colinas de Golã da Síria, um país que, como sabemos, não existe mais plenamente.

Para o escamoso primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o processo de paz é mais processo do que paz. Israel não quer um estado palestino para valer nem anexar o território, que em alguns setores da Cisjordânia tem uma administração palestina, a cargo da desacreditada e corrupta liderança de Mahmoud Abbas.

O impasse, mais do que espinhoso, não apresenta possibilidades de solução. Na partilha da Palestina em 1947, os árabes se recusaram a aceitar o mero direito do povo judeu retornar a seu lar. Os palestinos pagam por este repúdio e existe apenas a chamada “paz fria” de Israel com Egito e Jordânia. É verdade que existe uma aceitação tácita de Israel entre países sunitas, como parte de uma aliança de conveniência contra o xiita Irã. Para o mundo árabe, a questão palestina é secundária.

Israel, de sua parte, desde 1947 buscou a chamada profundidade estratégica. Os contornos do mapa da partilha decidida pela ONU eram inviáveis e inseguros. As derrotas militares árabes deram a oportunidade para Israel alterar o mapa, mas a profundidade foi longe demais, com a expansão e proliferação dos assentamentos na Cisjordânia.

Houve momentos desde 1967 que o cenário se mostrou mais promissor para os palestinos para o encontro de uma solução. Na expressão clássica, eles nunca perderam a oportunidade de perder uma oportunidade.

Quando Bill Clinton era presidente dos EUA e negociou uma solução de forma infatigável, houve boas oportunidades. Amargamente, Clinton escreveu que o líder palestino Yasser Arafat “perdeu a oportunidade” no ano 2000 de criar o estado palestino quando o possível estava ao seu alcance.

Hoje é esta missão impossível, sem estado palestino, um estado de limbo no day after, que não termina, à Guerra dos Seis Dias.

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