Aparentemente, os que mais morrem são também os que mais matam

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 06/06/2018 08h30 - Atualizado em 06/06/2018 09h36
Pixabay arma de fogo Esta parte é geralmente omitida por demagogos que tentam transformar em questão racial o problema dos homicídios

Eis uma manchete do Estadão baseada no Atlas da Violência 2018, estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública: “Taxa de homicídios de negros é mais do que o dobro da de brancos no País”.

Uma é de 40,2 por 100 mil habitantes, a outra ficou em 16.

Os autores do estudo afirmam o seguinte: “A conclusão é que a desigualdade racial no Brasil se expressa de modo cristalino no que se refere à violência letal e às políticas de segurança. Os negros, especialmente os homens jovens negros, são o perfil mais frequente do homicídio no Brasil, sendo muito mais vulneráveis à violência do que os jovens não negros.”

A conclusão e a reportagem omitem, como costuma acontecer nesses levantamentos propícios à demagogia racial, o perfil de quem mata no Brasil.

No domingo 15 de abril, no entanto, especialistas ouvidos pelo G1 chegaram ao seguinte consenso, que não ganhou destaque: “O perfil de quem mata é parecido com o perfil de quem morre.”

Eis um trecho da matéria: “Em geral, apontam, são homens negros de baixa renda, com baixa escolaridade, com até 29 anos, e moradores da periferia – especialmente locais onde o Estado é ausente e não atua com políticas públicas.

Os especialistas afirmam ainda que as mortes costumam ter alguma relação com o tráfico de drogas. Para eles, o aumento no número de crimes violentos está ligado ao fortalecimento e às brigas de facções criminosas.”

No sábado seguinte, 21 de abril, uma matéria da Folha confirmou a tese consensual, em trecho que tampouco ganhou destaque.

“Traçar o perfil de quem mata no Brasil, por outro lado, é uma tarefa mais difícil, devido à ausência de dados oficiais e à falta de conclusão das investigações sobre a maior parte dos casos.

Alguns estudos, porém, oferecem pistas. Um dos mais reveladores é ‘Mensurando o Tempo do Processo de Homicídio Doloso em Cinco Capitais’ (2014), da pesquisadora da FGV Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro, que identifica gargalos na Justiça criminal.

O trabalho analisa mortes ocorridas em 2013, com autoria identificada, em Belém, Belo Horizonte, Goiânia, Porto Alegre e Recife.

Os autores dos crimes tinham as mesmas características da maioria das vítimas: homens, negros e jovens.”

Ou seja: homens, negros e jovens são os que mais morrem, mas aparentemente são também os que mais matam.

Esta parte é geralmente omitida por demagogos que tentam transformar em questão racial o problema dos homicídios, que atinge brasileiros de todas as cores, sejam cidadãos de bem ou criminosos.

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