Felipe Moura Brasil: Ciro xinga eleitores de Bolsonaro

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 05/09/2018 10h36
Reprodução/Facebook Ciro, talvez se olhando no espelho, chamou homens brancos e ricos de truculentos e egoístas

Ciro Gomes disse em sabatina do Estadão:

“Lembre-se que quem tá puxando o Bolsonaro são os ricos, os brancos e os machos (ou os homens), que é basicamente esse lado mais truculento da sociedade, esse lado mais egoísta. Mas daí até ele ganhar a eleição, eu acho que o povo brasileiro não cometerá esse suicídio coletivo.”

Ou seja: Ciro, talvez se olhando no espelho, chamou homens brancos e ricos de truculentos e egoístas.

Onde está o escândalo? Cadê as acusações de preconceito? Por que a declaração não virou manchete nos portais dos jornais, nem trend topic – assunto mais comentado – no Twitter?

Por dois motivos, respondo eu.

Primeiro, Ciro apontou aspectos negativos em homens brancos e ricos, um grupo do qual se pode falar mal à vontade sem incomodar a patrulha politicamente correta na imprensa e na internet, não em mulheres negras e pobres, por exemplo.

Segundo, Ciro não só se disse de centro-esquerda, como também que fica do lado dos mortadelas na polarização nacional com os coxinhas. E a patrulha não liga a sirene contra um membro da mesma tribo ideológica, ou Lula responderia até hoje por ter dito que Pelotas é polo exportador de viado.

Agora imagine se alguém à direita tivesse dito que mulheres negras e pobres são truculentas e egoístas. Seria um escândalo tão grande quanto ou maior que associar a indolência ao índio e a malandragem ao africano, ou afirmar que quilombolas não servem nem para procriar e pesam não sei quantas arrobas.

Não estou dizendo que Ciro, que nem sequer tem imunidade parlamentar, deve ser denunciado por crime de racismo pela declaração inapropriada. Estou apenas apontando o duplo padrão dos patrulheiros, vulgo dois pesos, duas medidas.

E não foi só isso. Além de Ibope e Datafolha, agora temos o DataCiro.

O presidenciável do PDT disse que Bolsonaro “sabe que 1 de cada 5 brasileiros, mais ou menos, é homofóbico, é misógino, é contra a cota para negro, tem horror a pobre, tem horror a mulato, tem horror a mulher”.

O “mais ou menos”, suponho, é a margem de erro do DataCiro, o instituto de chutes estatísticos que acusa um quinto dos brasileiros de racismo, homofobia, misoginia e elitismo, colocando neste mesmo saco quem diverge de Ciro sobre o sistema de cotas, criticado inclusive por um dos maiores intelectuais do mundo, o americano Thomas Sowell, que é negro, e no Brasil, pelo professor Paulo Cruz, que também é negro. Sem falar no processo movido por estudantes asiáticos contra a Universidade Harvard por discriminá-los para favorecer os negros.

Mas Ciro, defensor do Estatuto do Desarmamento, não tem o menor pudor em disparar sua metralhadora de rótulos, para não dizer preconceitos, contra brasileiros que – imaginem – ousam escolher outro candidato, solto, para votar que não ele.

E como se não tivesse chamado Bolsonaro de “projetinho de Hitler tropical”, Ciro ainda recriminou a imprensa por não tratar o deputado “respeitosamente, democraticamente”, e questionou:

“Você acha que eu sou o Bolsonaro para tratar minhas diferenças políticas e ideológicas com grosseria?”

É muita cara-de-pau para pouca repercussão.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.