Felipe Moura Brasil: Parcialidade da imprensa contra Bolsonaro só fortaleceu sua candidatura

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 18/10/2018 09h47
Reprodução/TV Record A parcialidade da maioria da imprensa contra Bolsonaro só fortaleceu sua candidatura anti-establishment, assim como ocorreu com Donald Trump, como cansei de apontar nas duas ocasiões

Assim como na eleição de 2016 nos Estados Unidos, vencida por Donald Trump, a de 2018 no Brasil é farta em artigos e comentários na imprensa em que rótulos são usados como premissas, sem que os autores jamais justifiquem a sua aplicação com base em análise de declarações e atitudes contextualizadas, de seus desdobramentos e do peso que elas ainda têm para o presente e o futuro.

Eles não falam ao público, só aos pares ou membros de sua tribo ideológica.

Um exemplo entre milhares é o artigo em que dois autores afirmam na Folha que Bolsonaro – aspas – “é mais autoritário que Orban (primeiro-ministro da Hungria), Erdogan (presidente da Turquia), Duterte (presidente das Filipinas) e até mesmo que Chávez” – fecho aspas. E em nenhum momento eles descem à realidade para argumentar a favor dessa tese. Não a justificam. É só retórica panfletária, aliás contraproducente aos aparentes interesses daqueles que a adotam.

A parcialidade da maioria da imprensa contra Bolsonaro só fortaleceu sua candidatura anti-establishment, assim como ocorreu com Donald Trump, como cansei de apontar nas duas ocasiões.

E o que seria a imparcialidade?

Imparcialidade, para repórteres, consiste em apurar, constatar e expor os fatos sem tomar parte nem distorcê-los a favor ou contra ninguém, nem emitir juízo de valor, mesmo que os fatos sejam desiguais e possam ser mais positivos para a imagem de uns ou negativos para a de outros.

Imparcialidade, para analistas, é a mesma coisa, com a diferença de que a exposição dos fatos vem acompanhada ou seguida, mas jamais distorcida, por análise crítica – e portanto argumentativa – carregada ou não de juízos de valor correspondentes à gravidade dos fatos, o que pressupõe coerência no trato de lados contrários se os fatos são similares.

É possível tomar parte intimamente em qualquer disputa, e até publicamente no caso de analistas (o que não é recomendável para repórteres), sem jamais deixar a imparcialidade de lado na atividade jornalística individual.

Por ignorância da natureza das diferentes atividades jornalísticas e/ou pelo cinismo próprio de militantes, no entanto, é comum que se exija de analistas a imparcialidade de repórteres, no sentido de considerar qualquer análise crítica – por mais fiel, justa e coerente que seja – como uma amostra de parcialidade.

Acusar um analista de ser “parcial”, sem a menor análise crítica – e portanto argumentativa – de seu trabalho, feita com imparcialidade na apuração, na constatação e na exposição dos fatos, é apenas acusar o outro daquilo que se faz, disparando um rótulo negativo contra quem eventualmente lhe causa incômodo.

Pessoalmente, não tenho necessidade de tomar parte em tudo, porque a análise honesta dos fatos, que são desiguais, com frequência já dá conta de expor a diferença de gravidade entre eles. Então apenas aviso: seguirei incomodando.

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