Na vida e na morte, a maioria dos políticos e das militâncias só se solidariza com seus pares

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 16/03/2018 09h07 - Atualizado em 16/03/2018 10h25
Reprodução Anderson seria apenas mais uma vítima dos 61 mil assassinatos por ano no Brasil, dos quais menos de 8% são solucionados, não fosse um pequeno detalhe: quando foi morto, ele conduzia a vereadora do PSOL Marielle Franco

Era uma vez Anderson Pedro Gomes, filho de torneiro mecânico com dona de casa.

Tinha 39 anos e dois filhos, um deles nascido com má formação. Trabalhou em bar e hotéis, fez curso de mecânico, arrumou apenas estágios, não empregos na área, e virou motorista.

Na noite de quarta-feira, substituindo um amigo de licença médica, Anderson dirigia um Chevrolet Agile branco, de vidros escurecidos, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, zona norte do Rio de Janeiro, quando foi atingido por quatro tiros de armas calibre 9 milímetros e morreu.

Sua mulher, a funcionária pública Agatha Reis, assistente-executiva na área de educação do governo do Rio, disse que Anderson era um pai muito amoroso e um marido maravilhoso que estava fazendo bico pra tentar sustentar a família.

O casal morava num bairro de classe média baixa da zona norte.

Anderson seria apenas mais uma vítima dos 61 mil assassinatos por ano no Brasil, dos quais menos de 8% são solucionados, não fosse um pequeno detalhe: quando foi morto, ele conduzia a vereadora do PSOL Marielle Franco, de 38 anos, morta com três tiros.

O presidente Michel Temer lamentou no Twitter esse ato de extrema covardia contra Marielle e solidarizou-se com parentes e amigos. Somente horas depois citou Anderson.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em entrevista coletiva, mandou recado aos amigos e familiares de Marielle de que as forças de segurança vão encontrar os responsáveis e puni-los por esse crime bárbaro. Anderson foi novamente esquecido.

Em seus discursos na tribuna da Câmara, petistas e demais esquerdistas que exploraram politicamente o cadáver e que sempre defenderam a leniência da lei penal brasileira com criminosos, tratando-os como vítimas da sociedade, abstraíram o motorista.

Anderson é um coadjuvante na morte da vereadora e está prestes a sumir na estatística que mantém o Brasil na liderança mundial em número absoluto de homicídios.

Como disse sua mulher: “A revolta é claro que eu sinto, mas a gente acaba se acostumando. No final das contas, é mais um. É uma frase clichê, mas é isso.”

É isso, Agatha. Na vida e na morte, a maioria dos políticos e das militâncias partidárias só se solidariza com seus pares.

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