Nem da Rocinha é o vice perfeito de Lula

  • Por Felipe Moura Brasil/Jovem Pan
  • 15/03/2018 10h06 - Atualizado em 15/03/2018 10h32
Wilton Junior/Estadão Conteúdo Com duas pobres vítimas do sistema aparecendo em suas celas, a propaganda eleitoral do PT na TV tem tudo para comover o eleitorado petista

O maior temor de Lula, segundo a Folha, é “de que ele seja impedido de se manifestar na TV durante a campanha presidencial por alguma decisão da Justiça Eleitoral”. Fica a pergunta: preso pode pedir voto na TV?

Se Lula pretende ser candidato mesmo na cadeia, para onde poderá ir ainda em março ou abril, sugiro Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, como vice em sua chapa.

Da penitenciária federal de Porto Velho, em Rondônia, onde cumpre penas que somam 96 anos por tráfico de drogas, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, o traficante que foi o dono da favela da Rocinha no Rio de Janeiro, de 2004 até ser preso em 2011, disse em entrevista ao jornal El País que não vota há mais de uma década, mas se pudesse, seu voto seria – adivinhe de quem – de Lula.

O discurso de Nem da Rocinha já está afinado com o dos petistas. “Ele fez muito por quem mais precisava, pelos mais pobres. Eu pude acompanhar na Rocinha. Gente que trabalhava pra mim vinha pedir pra sair do tráfico e ir trabalhar nas obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]”.

O que o traficante não conta é que, nos contratos dessas obras do PAC das favelas, foi apontado pela CGU e pelo Tribunal de Contas do Rio um superfaturamento de 220
milhões de reais.

Os consórcios responsáveis eram formados por várias empreiteiras do petrolão, como Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Odebrecht, a favorita de Lula. Mas a afinidade do traficante com o PT não para por aí. Ele disse não acreditar na vitória de Jair Bolsonaro. “Eu não acredito que o brasileiro vá fazer igual o pessoal fez nos Estados Unidos, e eleger um cara como o Trump”.

Nem da Rocinha ainda alegou que as autoridades “com o apoio da grande mídia” usam o traficante “da favela, negro e pobre” como bode expiatório. “E o helicoca? Quem foi preso?”, questionou o traficante, referindo-se ao episódio mais usado pelo PT para sujar a imagem de Aécio Neves na eleição de 2014: a apreensão, em 2013, no Espírito Santo, do helicóptero da família do senador Zezé Perrella, do PDT, que é próximo de Aécio, com quase meia tonelada de cocaína.

De quebra, Nem da Rocinha chamou Michel Temer de “golpista”, dizendo que rasgaram a Constituição para derrubar Dilma Rousseff: “Imagina quanto dinheiro não rolou pra comprar o apoio dos deputados e senadores que apoiaram o impeachment…”.

Assim como o PT, o traficante ainda criticou a intervenção federal no Rio, dizendo que políticos de olho no voto apostam no velho discurso de enfrentamento, “de botar polícia na rua e endurecer penas”, mas está mais que provado que nada disso dá resultado, que nada disso funcionou até agora”. Para Nem da Rocinha, diz o jornal, a intervenção é “mais do mesmo”, apenas outra ação com “finalidade eleitoreira”.

Para resolver o problema da violência, o traficante que o El País transformou em comentarista político, prega investimento em educação e políticas sociais, além da legalização das drogas.

Ele ainda disse não se arrepender de ter sido traficante porque só queria pagar o tratamento de um caroço no pescoço de sua filha e que, quando quis largar o tráfico, foi coagido a permanecer por policiais que faturavam em cima dele. Coitadinho!

Nem da Rocinha é o vice perfeito de Lula.

Com duas pobres vítimas do sistema aparecendo em suas celas, a propaganda eleitoral do PT na TV tem tudo para comover o eleitorado petista.

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