Crise hídrica é mais dramática na imprensa do que na vida

  • Por Jovem Pan
  • 09/02/2015 12h25

Reinaldo, o Datafolha, então, não é tão ruim para o governador Geraldo Alckmin?

Não, não é não. Segundo pesquisa Datafolha publicada neste domingo, também o governador Geraldo Alckmin viu cair seu prestígio quatro meses depois da reeleição. A gente não precisa se entregar a grandes especulações para saber o motivo. É claro que a chamada “crise hídrica” é a causa principal.

Em outubro, o governador tinha 48% de “ótimo e bom”; agora, 38%. Os que consideram o governo “regular” oscilaram de 34% para 36%, e saltaram de 17% para 24% os que dizem que ele é “ruim ou péssimo”. Não é o melhor dos mundos, mas está longe de ser o pior. Com apenas 23% de “ótimo e bom” e 44% de “ruim e péssimo”, a petista Dilma Rousseff daria o braço esquerdo para trocar de lugar com o tucano. O mesmo faria o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), com apenas 20% de “ótimo e bom” e 44% de ruim e péssimo.

É claro que a crise da água é grave e traz transtornos consideráveis à população, mas ela, hoje, é bem mais dramática na imprensa do que na vida. Trecho de uma reportagem da Folha deste sábado é eloquente a respeito. Prestem atenção ao que está escrito lá: “Os números mostram que, apesar da sensação generalizada de que há um racionamento oficioso – causada pela redução da pressão na rede, o que causa interrupções pontuais no abastecimento -, a maioria da população de São Paulo relata ainda não ter ficado com as torneiras secas”.

Nem vou especular se há alarmismo ou excesso de dramaticidade no noticiário, mas é evidente que as torneiras estão muito mais secas nos textos e colunas da imprensa paulistana do que nas casas. A pauleira do noticiário, além da diminuição da pressão, afeta a popularidade do governador, mas se nota que a população diverge, até agora ao menos, do catastrofismo.

Em quatro meses, de outubro pra cá, Alckmin perdeu 10 pontos de “ótimo e bom” e ganhou 7 de “ruim e péssimo”, uma movimentação negativa de 17. Acenda-se o sinal amarelo. Ocorre que, em apenas dois meses, de dezembro a esta data, Dilma viu despencar o “ótimo e bom” de 42% para 23% e disparar o “ruim e péssimo” de 24% para 44%: uma movimentação negativa de espantosos 39 pontos. Sinal vermelho.

Vamos ver o que vem pela frente. O cenário catastrofista dos “cinco dias sem água e dois com” de tal sorte contaminou as percepções que qualquer coisa menos drástica do que isso pode até parecer um alento. A prudência do noticiário a respeito se esgotou bem antes do que a água.

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